Estranho


Sozinha, sentada num canto, a "mulher mais bonita da festa" está só. Por duas sextas feiras seguidas. Ela não tem esse título porque se ache bela. Pelo contrário, para ela, sua maior beleza não é a exterior. A exterior, não tem nada demais. Para ela, sua verdadeira beleza é uma sensibilidade e ética raros nos dias de hoje.
Ela não acredita na efêmera beleza dos corpos e faces. Beleza pra ela é a de espírito. O título de "a mulher mais bonita da festa" ele lhe dera, no dia em que sabiamente saiu da multidão dos comuns e chamou sua atenção com um elogio. Quem não gosta de elogios? E quem não quer ser a mais bonita da festa?  No momento em que ele desce de seu pedestal e a elege a mais bonita. Ele se torna visível pra ela.
O fato é que agora, contrariando o que era esperado, ali, naquele momento, a bela está só. Mais que só, ela está sem expectativas. Convites, tem mil. Ela quer, mas não tanto. Deseja, mas não a qualquer preço. Sente falta, mas não a ponto de sair fazendo qualquer loucura. Ela tem os pés no chão. Mas ainda assim, ela o deseja. Isso é loucura. Logo ele, que deseja explicitamente a todas? Ela poderia ter todos. Os melhores. Os mais atenciosos, os mais inteligentes, os mais bem sucedidos. Mas ela quer exatamente o que não a quer inteiramente. O que vacila, o que hesita...
Relacionamentos... Qual o segredo da atração? O que querem as mulheres? E os homens, o que fingem que querem? Dúvidas sem fim.
Chuva fina, um friozinho que pede acalento. Seus olhos passeiam pelo salão ainda meio vazio. Falta alguma coisa. Tem alguma peça que não se encaixa de jeito nenhum.
Mas ela é curiosa. Ainda há de descobrir o que é. E no dia em que ela descobrir, a coisa muda de figura e todas as mulheres saberão um pouco mais de si mesmas. Ela não guarda segredos da alma só pra si.
Chega! Vou dançar!
By Cris Vaccarezza

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