O que é meu? (ninguém tasca)

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    Parece que o ser humano é, por natureza, desprovido de satisfação. Nunca nada lhe basta. Se tem cabelos lisos, os queria ver cacheados, se é alto, gostaria de ser menor, se baixo, queria ter mais altura; sua conta bancária nunca está satisfatória, seu corpo não lhe agrada, e o peso então, é alvo frequente de queixas.
                A felicidade do homem reside em simplesmente ter o que não possui. Em conter, em dominar, em limitar. Deseja o impossível, a perfeição. Damos a isso o nome de sonhos, quando na verdade a perfeição é utópica.
               A vida se restringe, a grosso modo, a uma sucessão de tentativas de conquistar mais e mais coisas. De ter bens, de possuir pessoas, de adquirir estabilidade... tudo em vão. Afinal, o que são bens? O que é estabilidade? O que tem valor? Quais os nossos valores?
              Pense bem, a casa que você está em seu nome, o carro que você quitou, o chalé na praia, a fazenda, o jatinho ou o puxadinho, alguma dessas coisas é realmente sua? E antes de responder, lembre do que acontece nas áreas devastadas pela força da natureza. Quanta destruição. De quem é aquilo tudo, ou aquilo nada, depois de um vendaval, um tufão, um tsunami? O que resta se não a solidariedade, a força pra recomeçar que um dá ao outro, e que se desenvolve nessas tragédias?
              E o seu amor, seu namorado, a esposa, o amante, o ficante, o rolo ou coisa assim? É seu? Se é seu, será apenas enquanto for de comum acordo, enquanto esse ou essa quiser doar o seu amor pra você. Depois, queira você ou não, será de outro ou outra, e a vida segue. Ninguém é de ninguém! Ciúmes pra que?
              Seus filhos, aquelas doces criaturas que você pôs no mundo e viu crescer. Quem já os viu crescer, deve saber que eles não são e nunca serão nossos. Como diz Gilbran Kalil Gilbran, "são filhos da ânsia da vida por si mesma, vêm através de nos, mas não são nossos". Mais cedo ou mais tarde, criam asas e alçam voo rumo aos seus próprio sonhos. São filhos do mundo, são filhos de Deus! E é um erro criarmos como se fossem nossos, pois corremos o risco de por excesso de zelo, cortar as asas que Deus lhes deu. Quando a vida exige, não estão prontos para voar.
             Acho desnecessário discutir a posse do dinheiro, que na mão, já se sabe, é vendaval. E esse ainda, muito pior, não lhe podemos possuir, mas ainda pode se tornar nosso senhor, se superestimarmos seu valor.
Na verdade, na verdade, nem a nossa própria vida nos pertence. Nos foi dada por Deus, toma o rumo que deve tomar, às vezes nos foge às rédeas, nos confronta com caminhos tortuosos, que tentamos evitar, mas  teríamos que trilhar. Nem a morte é nossa. Posto que a vida não nos pertence, também não é nosso direito tirá-la. Nem a do outro, nem a nossa. É um grave engano achar que dispomos da vida ou da morte de alguém.
             Nada, absolutamente nada do que podemos ver, tocar, ou guardar nos pertence. Talvez, o que podemos sentir, ouvir ou cheirar, nos possa ser guardado na memória. Mas a memória, também cedo ou tarde pode nos ser tirada por efeito de alguma doença, ou da senilidade. Enfim, quando aqui chegamos, nada trouxemos, e é assim que chegaremos do lado de lá.
            Não se iluda, pensando possuir alguma coisa. Nada é nosso. Tudo o que "temos" nos é emprestado para que façamos o melhor uso, são ferramentas do nosso aprendizado. É inútil querer possuir coisas, pessoas. A única coisa que temos é o que podemos dar sem limites: A impressão que causamos na outra pessoa, essa é nossa. O beijo que damos ao outro, esse é nosso, é nossa marca. E algumas marcas são bem difíceis de apagar. O carinho, a amizade, o afeto, a dedicação, a atenção a solidariedade, esses sim são valores dos quais devemos tentar nos fazer possuidores. Sob pena de tornar a humanidade cada vez mais dependentes do álcool, do tabaco e dos demais anestésicos lícitos ou ilícitos para a dor de não possuir.
           É preciso que nos conscientizemos de que o único bem que possuímos é o bem que podemos fazer ao outro. Só é nosso de verdade, aquilo que podemos passar adiante, sem deixar de ter. Que dia após dia, nos esforcemos para possuir uma alma mais nobre, um sorriso mais franco, um coração mais puro, mãos mais dispostas ao auxílio e braços mais e mais capazes de abraçar!
By Cris Vaccarezza

Carta aberta a um ausente

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           Esse é inteiramente pra você. Se sinta, você é especial, publico aqui essa carta aberta porque ao contrário de um bando de acéfalos que não lê, sei que você lê! Mais que lê, escreve. E que vira e mexe está por aqui, ou pela velha Salvador, nua e crua.
          Saudades de você, dos nossos longos papos cabeça, sem pé nem cabeça, da louca intimidade que formamos sem nos conhecer.
           Você sumiu da minha tela! Sei que está tentando me punir! Sei que essa recusa te parece algo pessoal. É pessoal, mas é comigo! Não com você! Eu diria que "o problema é comigo" se considerasse um problema as minhas convicções, então diria, a certeza é comigo, mas o que é certo nessa vida de surpresas? Enfim, o que posso dizer é apenas: Não me odeies por te deixar, antes mesmo de te pertencer. 
           Compreenda, o ser humano sempre preferiu um inimigo velho a um amigo novo. Todos preferem estar com os velhos defeitos, que já conhecem, a buscar novas qualidades. Também eu, sou assim.
           Desculpa se de alguma forma te castro. Se firo sua vaidade por não querer ser vulgar. Mas prefiro não ser mais um sabonete em suas mãos. Mais um sabonete comum, usado e esquecido numa pia qualquer. Não nasci pra ser sabonete, contraria meus princípios. Sou careta, do tipo que ainda conta nos dedos, sabe? E ainda tem muitos dedos nas mãos pra contar. Já tô velha demais pra os novos costumes.
            Preciso de paciência, amor, preciso de tempo. Não curto aventura, não gosto de Rali. Não gosto de nada terminado em "inha", fugidinnha, saidinha, namoradinha, ficadinha, escapadinha, rapidinha. Não nasci pra piloto de test drive. Quero comprar o carro inteiro. Só experimentar pra mim é pouco. Procuro constância! Eu quero e quero mais de uma vez. Sou curiosa, mas não tanto assim, não preciso conhecer de tudo um pouco pra saber que a diversidade existe. Já sei o que preciso fazer para me sentir bem, e pular de cama em cama não está entre as coisas que eu sei fazer direito.
            Gostei de você. Não é mentira. Isso poderia ter dado um romance, mas resultou num conto, fazer o que? A literatura tem dessas coisas. Não precisamos deixar de ler por isso.
            Tudo na vida são fases, e eu acho que estou numa de calmaria. Isso é bom, pois temos a chance de nos conhecer na parte que mais nos interessou, no campo intelectual. Isso é o que mais me atrai em você, sua inteligencia. Não quero conhecer o que me fará deixar de gostar de você, seu famoso lado "cafa". Podemos ficar assim, seja o amigo comigo, o assexuado, e com as outras seja o "cafa", não me  incomodo, só quero ser exclusiva no que realmente importa, em seus pensamentos quando lê, discute, pirraça, discorda, concorda e interage comigo, no resto, todos os homens se não forem iguais, são bem parecidos.
           Gosto de você, no que mais me interessa, uma parte da sua anatomia oculta aos olhos da maioria, seu intelecto, sua personalidade, não preciso deixar de ser virtual pra isso, ou corremos o risco de entre fogos de artifício, como a pólvora, simplesmente se consumir e aniquilar-se, deixar de existir.
           Não me odeie se te preservo das efemeridades. Se serve de consolo, você, eu queria que durasse.
Pos Cris Vaccarezza

Silêncio

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Silencio... Um silêncio ensurdecedor entre minha página em branco e eu. E por mais que eu tente, por mais que eu queira, nada flui desde que resolvi não falar mais de sentimentos e deliberadamente coloquei meu coração no freezer.
É como se por vingança, a fada das letras tivesse tirado de mim a capacidade de escrever. Toda vez que congelo meu coração, meu cérebro é feito refém. É como aquele casal que separa e a mulher que se achava dependente, que pensava que morreria se o relacionamento acabasse, de repente, abandonada, se liberta e o homem que clamava por liberdade definha ou entra numa espiral autodestrutiva.
Meu cérebro masculino, prático, inteligente, imparcial, zombava da subjetividade do meu coração. Mangava dele, chamava-o de idiota  infantil, passional. Queixava-se de ter que coexistir com ele. Odiava suas decisões erradas, seu sim quando queria dizer não e o não quando poderia ter dito sim. E o arrependimento? Ah! Não tinha paciência para quando o coração vinha falar de si, quando se abria, com suas duvidas e questionamentos a respeito das atitudes, do que poderia ter sido. Ele odiava isso. E me acusava de sempre ouvir o coração. Quando tudo dava errado, ele se recusava a mandar uma lágrima sequer aos olhos, cruzava os braços e emburrava como derrotado em seu canto lá em cima. "Coração idiota! No fundo, um fraco!" resmungava ele.
Cansada da querela e de curativos sucessivos no coração teimoso, meu cérebro me convenceu por A+B e resolvi mandar o coração para uma temporada no Alasca, apertei a tecla mute, o deixei sem palavras. Já sem coração, tranquei-o no freezer e achei que assim, seria feliz. Afinal, sou uma mulher moderna, bem resolvida, quem precisa de sentimentos, quem precisa de coração? Bonzinho só se ferra!
No fim, meu coração manda avisar ao todo poderoso, que quem manda nessa joça é ele. Que queira ou não, eu fui feita pra amar. Que coração ralado é melhor que coração no freezer, que esse postura blasé é completamente ilusória e que viver uma vida morta e não viver são quase sinônimos, como vias paralelas de uma mesma estrada. O que te poupa de lágrimas, te acresce em apatia e tédio!
Viciada em joguinhos que não me levam a lugar nenhum, troquei os bate papos até a madrugada pelo silêncio das janelas de chat, pelo silêncio emocional. Eu sumi! Dei um tempo.
Desculpas, terei aos montes, e elas até tem sentido, preciso dormir mais cedo, preciso ter mais tempo para outras coisas, preciso mudar de conduta. Mas apesar de terem sentido, nenhuma delas tem mais qualquer sentimento. Eu os matei em mim. Tá bom, não conseguiria matá-los, eu os anestesiei com Cityville, eu os embebedei de House... eu sai da dança. Me afastei do que me fazia "mal".
Mas continuo dormindo tarde, atrás de metas que não tem fim, continuo não tendo tempo para trabalhar pois o cérebro entrou de férias junto com o coração. Duas faces da mesma moeda, um não vive sem o outro. Vendo seu oposto baleado, o outro não vê sentido em sua existência unilateral, definha e morre também.
E o resultado é esse silencio estéril. É esse intervalo branco, essa ausência de mim mesma que não sei quando volto!
Até quando eu voltar!
By Cris Vaccarezza
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