Silêncio

Silencio... Um silêncio ensurdecedor entre minha página em branco e eu. E por mais que eu tente, por mais que eu queira, nada flui desde que resolvi não falar mais de sentimentos e deliberadamente coloquei meu coração no freezer.
É como se por vingança, a fada das letras tivesse tirado de mim a capacidade de escrever. Toda vez que congelo meu coração, meu cérebro é feito refém. É como aquele casal que separa e a mulher que se achava dependente, que pensava que morreria se o relacionamento acabasse, de repente, abandonada, se liberta e o homem que clamava por liberdade definha ou entra numa espiral autodestrutiva.
Meu cérebro masculino, prático, inteligente, imparcial, zombava da subjetividade do meu coração. Mangava dele, chamava-o de idiota  infantil, passional. Queixava-se de ter que coexistir com ele. Odiava suas decisões erradas, seu sim quando queria dizer não e o não quando poderia ter dito sim. E o arrependimento? Ah! Não tinha paciência para quando o coração vinha falar de si, quando se abria, com suas duvidas e questionamentos a respeito das atitudes, do que poderia ter sido. Ele odiava isso. E me acusava de sempre ouvir o coração. Quando tudo dava errado, ele se recusava a mandar uma lágrima sequer aos olhos, cruzava os braços e emburrava como derrotado em seu canto lá em cima. "Coração idiota! No fundo, um fraco!" resmungava ele.
Cansada da querela e de curativos sucessivos no coração teimoso, meu cérebro me convenceu por A+B e resolvi mandar o coração para uma temporada no Alasca, apertei a tecla mute, o deixei sem palavras. Já sem coração, tranquei-o no freezer e achei que assim, seria feliz. Afinal, sou uma mulher moderna, bem resolvida, quem precisa de sentimentos, quem precisa de coração? Bonzinho só se ferra!
No fim, meu coração manda avisar ao todo poderoso, que quem manda nessa joça é ele. Que queira ou não, eu fui feita pra amar. Que coração ralado é melhor que coração no freezer, que esse postura blasé é completamente ilusória e que viver uma vida morta e não viver são quase sinônimos, como vias paralelas de uma mesma estrada. O que te poupa de lágrimas, te acresce em apatia e tédio!
Viciada em joguinhos que não me levam a lugar nenhum, troquei os bate papos até a madrugada pelo silêncio das janelas de chat, pelo silêncio emocional. Eu sumi! Dei um tempo.
Desculpas, terei aos montes, e elas até tem sentido, preciso dormir mais cedo, preciso ter mais tempo para outras coisas, preciso mudar de conduta. Mas apesar de terem sentido, nenhuma delas tem mais qualquer sentimento. Eu os matei em mim. Tá bom, não conseguiria matá-los, eu os anestesiei com Cityville, eu os embebedei de House... eu sai da dança. Me afastei do que me fazia "mal".
Mas continuo dormindo tarde, atrás de metas que não tem fim, continuo não tendo tempo para trabalhar pois o cérebro entrou de férias junto com o coração. Duas faces da mesma moeda, um não vive sem o outro. Vendo seu oposto baleado, o outro não vê sentido em sua existência unilateral, definha e morre também.
E o resultado é esse silencio estéril. É esse intervalo branco, essa ausência de mim mesma que não sei quando volto!
Até quando eu voltar!
By Cris Vaccarezza

1 comentários :

Maxwell Soares disse...

Ás vezes não entendemo como tudo acontece, apenas, acontece. Somo provedores e gestores de nossa existência. Portanto, sei quando o silêncio é por mim manifesto e, também, sei o momento de gritar. Mas nesse turbilhão de emoção quem manda, realmente, é o coração. Que bom seria se fosse sempre, assim. Um abraço...

Related Posts Plugin for WordPress, Blogger...