A ex

Há coisas que por mais que se tente, não se consegue superar. Essas são as coisas que não tem corpo, as dores que não tem uma origem física, e assim, não se pode aplacar. Muitas coisas doem nessa vida, mas a dor de uma saudade, de uma perda, de uma rejeição, do arrependimento, da solidão, não tem remédio que reduza. Há quem se anestesia, embebeda, se droga, se torna compulsivo, obsessivo... e há os que apenas sofrem.
Ela observava a sua inquietação. Hora levantava, hora sentava-se, hora convidava pra dançar, hora amuava num canto. Sucessos antigos tocavam sem parar. As pessoas se espremiam na pista de dança, e ele, simplesmente não queria estar ali.
Estava claramente incomodado. Primeiro por que aquele cara brilhava momentaneamente mais do que ele. Era o astro, o centro das atenções. Ora, mas ELE era o sol! Não estava acostumado a ser planeta;
E segundo (ele jamais admitiria) mas isso doia muito mais, aquele cara, era o cara da ex dele.
Ele nunca superou essa perda. Mesmo tanto tempo depois, era por ela, a ex, que ele agia daquele jeito. Ver aquele cara chamando atenção, fazendo sucesso era assinar um atestado de derrota: Eu a perdi.
Não tinha nem meia hora que ele havia saído debaixo dos refletores, há pouco, era ele quem brilhara. Mas ceder seu posto para aquele cara, logo pra ele? Ainda ter que assisti-lo era demais!
Há alguns dias, ele dissera quase ao seu ouvido, em situação similar: Coisa incrível, eu estar aqui, assistindo o sucesso do atual da minha ex! Que situação.... - Tempos modernos, meu caro! Acontece!
Então, ela, que intuitivamente sabia de todo o seu conflito com a ex, se colocou entre o palco fervilhante e ele, olhou no fundo do olho azul infinito e perguntou:
- Quando é que vai passar, hein, meu amor?
- O que? - Falou, ainda meio distraído
- Essa dor que te consome?
Ele compreendeu que havia sido pego. Ruborizou. E como ficava lindo rubro. Não sei se era de vergonha, ou de raiva, sei que ele baixou os olhos e a guarda.
- Eu não estou sentindo dor... só não tenho que ficar aqui!
Ela balançou a cabeça compreensivamente. Jamais venceria o fantasma da ex. Nem tinha a menor pretensão. Ninguém vence um ex. Ex é aquele que foi sem nunca ter ido. Se é ex, é mal resolvido. Se for meu ou minha ex, então, pode ter certeza de que está bem localizada entre os dois.
Quando passou, quando a história morreu, simplesmente acabou, fala-se o nome da pessoa sem qualquer problema, ou, na pior das hipoteses, denomina-se infeliz, enconsto, aquele ser de quem não falamos e outras denominações similares. Mas minha ex? Meu ex? Isso ainda era alguma forma distorcida de posse, de relação. Um tipo de fogo de monturo que ainda queima...
Ela também tinha o seu ex. Também tinha os fantasmas dela. Nunca conseguiu exorcizá-lo, como criticar?
Estendeu a mão pra que ele soubesse que ela (a atual) estava alí, sorriu um riso triste de cumplicidade.
Raros foram os momentos em que foram tão íntimos. Quando ele segurou a sua mão, ela simplesmente a levou junto ao seu coração: -Se, e quando quiser ir embora, é só me falar. Também não estou gostando da festa!
Ele compreendeu que ela era muito especial e que poderia contar com ela. Num abraço terno, enlaçou sua cintura e sussurrou no seu ouvido: - Vamos embora sim, não tenho mais nada o que fazer aqui. Vamos ser felizes, onde o passado não esteja tão presente. Façamos agora nosso presente. Chega de Flashback!

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