Ratoeira

Quatro horas da manhã, deitada de costas, seminua, na sua cama, ela terminava mais uma noite do mesmo jeito... sozinha!
Lembrava do quanto estivera perto, da adrenalina que ele fez correr em suas veias, mas que de repente, do nada, sumiu como que por encanto!
Como é que ele podia se comportar assim? Mexia com ela de um jeito que não deveria. Ela sabia que era fake, sabia que era parte do ritual de sedução dele, que não era real, mas toda vez que ele estendia a ratoeira e acenava com o queijo, ela caia como um ratinho na armadilha dele: Ficava cheia de esperança, o coração batia a mais de cem. Fazia mil planos mentais de como seria sua noite aos beijos com ele: Será que resistiria? Claro que não! Quem resiste a esse choque térmico? Esquenta, quase derrete, esfria... quase congela! Haja metal pra isso! Haja fibra! Haja coração, pra tanta criptonita!
Recordava passo a passo da noite, pensando: Droga,, onde foi que eu errei?
Horas atrás, ela chegara com um pouco de ansiedade, típica de quem chega a uma festa e uma pontinha de desejo. Como ele estaria nessa noite especial? Era seu aniversário! Ele adora festas de aniversário. Sua família estaria lá, seus amigos também, a namorada dele, também estaria lá... Fazer o que? Quem disse que o mundo é perfeito. Ela não era, ele não era, enfim...Vamos respeitar. E ela respeitava! Mas olhar não tirava pedaço, e por mais que tentasse, às vezes, ela não resistia e olhava mesmo, discretamente.
Logo que estacionou o carro, ele estava na porta, tinha vindo cumprimentar outros convidados e também a recebeu com um abraço. Estava lindo...As always! Ela entrou, com aquela sensação de quero mais, mas o anjinho em sua cabeça gritava: "pára com isso! Olha o mole!"
Lá dentro, a decoração singela demonstrava o carinho que sua jovem namorada tinha por ele. Estava tudo decorado, balões, um lindo bolo. Eles formam um belo casal, sem dúvida. Resolveu que, pela jovem namorada, deveria tirar esse homem da cabeça, esquecer: -Ela é jovem demais pra tamanha desilusão!
Procurou uma mesa em que pudesse ver, sem necessariamente ser vista. Já tinha os amigos que certamente estariam alí e que a encontrariam, tinham combinado já. Não queria holofotes.
A surpresa é que a festa ainda não tinha começado, a música habitual não se ouvia e por isso ninguém abrira a pista. Já rolavam murmúrios e queixas. Quando a música começou os casais povoaram a pista, e a festa adquiriu seu espírito peculiar... (longo intervalo de tempo, contido entre parênteses) E a festa foi linda como ele havia sonhado!
De pé, fotografando o ambiente, não percebeu que também era fotografada, foi quando ele passou e sussurrou algo em seu ouvido. Era o gatilho. E sempre tinha um gatilho que disparava a metralhadora inteira, sempre tinha a gota que ele jogava discretamente, e que fazia o dique de emoções dela se romper. Mais uma vez estava a idiota, bilhete na mão, pronta pra entrar na montanha russa emocional dele.
É incrível, bastava um sussurro dele pra arrepiar sua alma! Como esse cara consegue ter tamanho domínio sobre um corpo que nunca lhe pertenceu? Juntou o resto de juízo, sacou o telefone, fez alguns contatos, pegou a bolsa e resolver continuar a balada em outro lugar. Afinal decidira, pela namorada, vou tirar esse moço de minha cabeça!
Mas qual?! Na saída, ao se despedir, sussurros insinuavam que ele não queria que ela se fosse. Ele a abraçou como só ele sabia, roçou sua orelha com os lábios e disse: - Me liga, eu quero ficar com você! Pronto! Bastou isso! Ser ou não ser, eis a questão!
Não vou ligar! Ela já sabia, isso não é certo!
Mas mandar sms pode! Quero ver até onde ele vai com isso... Mandou! Saíu dali o mais rápido possível com medo que ele respondesse. Partiu, foi pra outro lugar.
E agora? Longa espera, será que ele responde? A balada pegava fogo em outro bar, mas ela atentava para a resposta que não vinha! Nada, silêncio...
Quase duas da manhã, o famigerado celular vibra! Era ele: - Você ainda está aí? Tempo....pausa! Conta até dez, criatura, respira!... - Estou sim!
Ele chega, dono da situação, ela estava na pista de dança, fogo... quase um vulcão, era o ápice da montanha russa, o cume. Daqui pra frente não tem volta, seja o que Deus quiser! Ele se aproxima, meio sem jeito, e diz pertinho: Eu estou tão cansado hj, acho que vai ficar pra a próxima!
Como assim, cansado?! Pra dar um beijo?! Ela não disse palavra. Cerrou os olhos, por breves 2 segundos, aproveitou que alguém vinha falar com ele e girou nos calcanhares, rumo à mesa.
Chega! Por hoje já deu! Não conseguia acreditar, enquanto dirigia de volta pra casa, ele fizera mais uma vez! Rato na ratoeira! Bingo!
...Quatro horas da manhã, deitada de costas, seminua, na sua cama, ela terminava mais uma noite do mesmo jeito... sozinha!
By Cris Vaccarezza

0 comentários :

Related Posts Plugin for WordPress, Blogger...