Em construção

Olhava agora a vida de outro ângulo. E pensava como uma coisa ruim pode mudar toda a sua história.
Ela o tinha perdido, ou ele a tinha perdido, sei lá! Perderam- se os dois. Embora ainda houvesse o carinho, o respeito, e porque não dizer, o amor, já não eram um casal.
Embora vez por outra um fugisse para os braços do outro. Embora às vezes ainda se abrigassem do frio e da solidão sob o mesmo edredom, já não eram um casal. Ele sabia, ela sabia.
O que ninguem sabia, era do dia de amanhã. Certeza, certeza, não tinham, mas intuíam que nunca mais seria igual.
Sempre se viam. Quando um falava, o outro ouvia. Quando um recordava, o outro também se comovia: Nunca mais os domingos de manhã, nunca mais a emoção da primeira viagem de avião, nunca mais férias juntos na casa de praia, nunca mais a solidariedade de um, nos perrengues do outro. Nunca mais saber-se do outro... Isso doía um pouco ainda. Doía um pouco já, o nunca mais.
Separação é uma pequena morte. Ainda mais quando ainda resta amor, ou carinho, ou respeito, ou desejo, mas não há mais vontade.
Apesar de tudo isso, quase dois anos, sozinhos. E nossa, como estavam sozinhos... Ficaram, estiveram, mas não compartilharam, ainda se reservavam um para o outro. Continuavam sozinhos.
Quem os viu, quem os vê. Ele, o eterno playboy, o Peter Pan que se recusava a crescer. Ela, o patinho feio, a nerd workaholic que só pensava em trabalhar...quanta diferença!
Ele se firmou profissionalmente, ela aprendeu a dançar. Ele passou a interagir no mundo dos solteiros, virou o novo solteiro disponível. Ela aprendeu a dançar. Ele exerceu sua independência , aguçou a responsabilidade, a mediação, a tolerância. Ela aprendeu a dançar.
Ele se tornou o homem que sempre quis, ela, deixou a senhora sisuda de lado pra ser apenas a adolescente que sempre quis.
Como ninguém passa em nossa vida sem que deixe de herança um pouco de sí, e leve consigo um pouco do outro, ela era agora um pouco ele, e ele se via um pouco nela.
Dizer que o casamento deles não deu certo, seria um blasfêmia. Deu certo sim, apenas passou...
By Cris Vaccarezza

5 comentários :

Bricio Cruz disse...

Amei seu blog tbm, estou seguindo, bjs.

Anônimo disse...

Amei mãe, muito lindo e fala tudo msm! bjs <3

Anônimo disse...

Amei mãe, muito lindo e fala tudo msm! bjs <3

Felisberto T. Nagata disse...

...olá!...realmente, muito bom...texto intimista, articulada...gostei...e o blog, também, é bem organizado!
Bom dia!

poesias acidentaids disse...

Obrigada, Bricio, Felis, e Tá! O blog é de vcs!! Bjs

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