A roda gira

Quando a roda girou, quando ele rodou, ela rodou, ficaram frente a frente. A mão dele arrodeou sua cintura, a outra, segurou firme a sua mão. Os olhos estavam fitados e o corpo dele, imprimia ao dela, postura firme, olhar altivo.
Ela era uma menina de grande idade, uma mulher pequena, de olhos negros como eram negros seus cabelos antes de chegarem (sem convite) os fios brancos que a tintura parcialmente escondia.
Ele era atlético, depois de longo período magro. Agora ele tinha o corpo estufado, o peito empinado, que intimidava os seios dela. Comprimia, roçava, provocava. Antes era só um tórax comum. Ele era um homem, embora em certos aspectos, insistisse em se manter um menino.
Quase saindo da faixa preferida de Balzac, ela tinha uma certa jovialidade. Conservava um ar de quem perdera poucas noites na juventude. Ele atualmente perdia noites de mais, não via sentido no sono, se seus sonhos, roubaram, tempos atrás. Ele buscava em vão, a sua cara metade. O sorriso escondia o que seus olhos gritavam. Uma tristeza distante, uma vontade calada. Um não sei quê de saudade.
Ele a achava uma mulher interessante, dona de um mistério que ele não conseguia penetrar, talvez a visse perfeita demais. Ela o queria justo em seus mistérios, queria os defeitos que ele teimava ocultar. Achava que ele era mais do que aquela aparência perfeita queria mostrar. Sabia que fora ferido, se interessava por cuidar. Nunca gostou de pássaros presos, mas se sentia impelida a proteger os mais frágeis, os pássaros feridos. Era advogada das causas impossíveis. Queria muito estar ali quando ele saísse do limbo. Achava que poderia ser seu beijo que o faria despertar.
Ele só queria encontrar a felicidade, a estabilidade, a tranquilidade que seu coração perdera tempos atrás.
No girar da roda, giraram também os dois, naquele momento eram somente os dois, feitos em um pela roda, a dançar.
Ele sorriu, ela sorriu, eles dançaram. Ele jamais imaginaria que ela o protegeria. Ela jamais sonhara que ele não a compreenderia. Eles se viam idealizados demais. A dança foi bela. Foi breve a dança. E no curto espaço de uma canção, eles se encontraram e se perderam um do outro.
A roda girou novamente, os corpos se afastaram por fim, as mãos não se davam mais. A roda é assim. Uns vêm outros vão, o ciclo se fecha e todos trocam de mãos.
Acabou, só no próximo giro.
By Cris Vaccarezza

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