Zona de conforto

Seis e quinze da manhã. Tentou adivinhar pelos barulhos da casa se a mocinha teria chegado pra servir o cafe. Nada! Silencio total. Os minutos avançavam. Ela odiava acordar cedo. Mas sentia que naquele momento, era preciso levantar. Vou fazer o que tem que ser feito!  Alguém certamente faria isso por mim. Pay it forward. Pensou. É assim que deve ser.
Era seu último dia de ferias, mas o correto naquele momento era levantar e servir. Depois dormia, depois descansava da noite perdida. Depois se via! Depois!
Lembrava a todo momento da conversa no dia anterior quando seu irmão lhe perguntara porque se dispor a ajudar alguém que nem conhecia? Que era um incômodo e uma inconveniência . Que era um absurdo receber assim alguém que poderia ser uma ameaça à sua vida, à sua segurança à da sua filha, um completo desconhecido! Também não estava 100% segura. Também não estava tão confortada, mas sentia que deveria fazer, que deveria servir, que deveria confiar. Pensando bem, não havia porque não. Então dissera sim, e desde então entregara a Deus! Odiava viver desconfiada, temendo o outro, temendo represálias, presa. Isso não!
Pensava no que a impelia, era somente o desejo de ajudar? Era o desconforto em dizer não? Ela estava de férias. Poderia ter dito que iria viajar. Poderia ter dito que não estaria ali disponível pra ajudar, e seria verdade. Mas ela sentia que devia ajudar. Algo no jovem parente que ela desconhecia lhe inspirava auxilio. Sentia que ele merecia uma chance. Ele vencera as barreiras de seus medos. Ele estava ali, também em um momento de desconforto, para tentar um sonho maior. Ele tinha uma tranqüilidade, uma força de vontade e uma simplicidade que lhe eram familiares. Assim, sentia-se sua parenta muito mais por afinidade, que por laços de sangue. Sua atitude contrariava, ela sabia, o consenso dos mais velhos, mas ela ia ajudar!
Elevou o pensamento, agradeceu a Deus a oportunidade de ajudar, levantou, se vestiu e foi colocar no café da manhã que preparava, todo o carinho e afeto que podia. Toda a energia positiva que poderia transmitir ao rapaz. Que ele tivesse sucesso! Que fosse com Deus! Não custava nada um pequeno sacrifício de conforto pelo bem comum.
Quando o rapaz saiu, no horário certo para realizar sua prova, ela fez uma prece mental por ele. E agradeceu a oportunidade de ser útil, quando poderia ter simplesmente dito não, e perdido a oportunidade de conhecer, de acreditar, de interagir. Se algum dia, alguém tivesse semelhante gesto por sua filha, ela ficaria muito feliz. Por que nem sempre podemos estar próximos quando aqueles que mais amamos precisam da gente.
Agora, dever cumprido, poderia virar pro lado e cochilar um pouco, com a certeza de ter feito a coisa certa. Quebrado as algemas mentais do medo, do comodismo e da desesperança. Agora estava em paz.

1 comentários :

DAVID SILVA disse...

Oi, gatinha, obrigado por participar de meu blog: www.desenhuras.blogspot.com. Espero que goste. Um grande abraço.

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