Beija flor

Eu tenho pensado muito em você. Em como de forma tão madura meus sentimentos tem se comportado em relação a você. Quando estamos juntos, você é sempre perfeito. Mas eu sinto falta. É como um lindo beija flor, em seu passeio flor em flor, numa manhã de domingo. Impossível detê-lo. Impossível retê-lo, assim como é impossível não desejar tê-lo mais perto em sua efemeridade.
Compreendo o desapego e a necessidade de estar só. Também me pego assim, nesse momento. Sei que não sou a única em sua vida. Tampouco pretendo ser. Não estou em um momento de exclusivismos. E é incrível como consigo te querer sem posses.
Pra mim, bastam nossos momentos. Os que não são nossos, não são meus. São seus, não me pertencem. Ademais, nada me pertence. Quanto mais alguém. Não quero amarras, coleiras, nós. Prefiro laços e laços só são lindos porque são frouxos. Ao menor esforço se desfazem, deixando leve amasso nos fios. Nada mais.
Em contrapartida, embora seja muito bom estar com você, me dói a sua ausência. Não pela saudade em si. Mas pela incerteza de saber se posso ou não te ver de novo. Se posso ou não te ligar. Se devo ou não te desejar outra vez...E quando. Beija flores se vão, mas voltam vez por outra a visitar as suas flores, colher seu néctar, provar seu gosto, deixar seu carinho, trocar afeto.
Não é uma questão de solidão. Propostas existem de constância, compromisso, relacionamento sério,  outras nem tanto. Homens interessantes, maduros, sinceros, outros nem tanto. Mas existe em mim um teimoso querer ser só de você. Mas você virá? Se sim, quando chegará? E se demorar, vou querer esperar? Como esperar um beija flor?
Ser beija flor tem esse porém. Escolhe-se que flor visitar. Mas há que visitar a todas regularmente, para que nenhuma se sinta desprezada em seu florescer. Para que a nenhuma reste o murchar sem perfume. Deixe que eu dispense os outros beija flores. Que busquem outros jardins! Não é justo fazê-los esperar. Ou me dispense você, se não quiser mais me visitar. Visita-se, ou deixa-me saber...
Não sei ser beija flor. Não tenho suas asas, sua leveza de toque, seu silencioso partir e chegar. Não tenho seu encanto, sua ousadia. Sou flor... Sou delicada, não quero procurar, não quero ir atrás, deslocar, despetalar. Somente um leve ondular, ao sabor do vento.
Gostaria que fosses o beija flor dessa flor. Embora fosses o de outras flores mais. Sem compromissos formais, só uma certa constância. Saber que virias beijar uma vez ao mês, uma vez por semana se muito. Sei que se te procurar, te encontro. Mas não quero. Já disse, sou flor, não beija flor. Reduz meu perfume sair à caça. Necessito ser visitada, tanto quanto necessito ser regada de carinho e amor.
Queria viver uma relação sem rótulos com você. Um te ver de vez em quando mais frequente. Um de vez em sempre, vez por outra, ou coisa assim. Um de vez em muito. É isso! Essa semana hoje e na outra semana também. Se não for na outra, tudo bem, mas na seguinte, visita-me... Estranho me sentir livre assim. Mas sinto-me livre até para não ter vontade de outro beija flor. Só de você!
Por Cris Vaccarezza

0 comentários :

Related Posts Plugin for WordPress, Blogger...