Do nada...

Eles se viram na festa e do nada, súbito se interessaram. Era impossível não perceber o V do decote dela e era   improvável que ela resistisse a todo aquele cerco de charme e atenção. Eles já tinham se visto; ele a vira de relance, mas estava acompanhado no outro dia. Considerou investimento pra uma próxima vez. E essa vez, tinha chegado!
Ela o achara uma graça, mas ele não estava sozinho. Na verdade, já o percebera antes, da faculdade ele fazia Direito, e ele morava perto dela até. E por algumas vezes se pegara esticando o pescoço quando passava em frente à casa dele. Sentia que ele era de alguma maneira especial. Será? Não queria alimentar sonhos. Ele nunca sequer olhara pra ela por mais de um segundo, apenas mais uma gatinha, gostosa de 18 aninhos ou pouco mais. Mais uma presa, já salivava!
Agora era diferente, música no ar, um clima de festa, alguns drinks na cabeça e ele que não desviava o olhar. De repente, ela era o foco. Caminhou em sua direção, ela percebeu. De repente sentiu-se gelar. Passou nervosamente a mão pelos cabelos e olhou pro chão, meio sem graça. O que será que ele iria dizer? E ela?
Não deu tempo, ele chegou, sorriu, se aproximou sorrindo. Então é em silencio que ele diz oi! Diz oi com os olhos! Foi se aproximando, sorrindo em silencio. Ela, meio que hipnotizada, nem percebeu que sorria também. Ela deve estar bebada, pensou. E a beijou.
Rápido, nem deu tempo de dizer... o que é mesmo que eu queria dizer? Nem lembrava mais. Também não importava. Ao som da música em alto volume, foram se dando, ele pedindo, ela se entregando. Não é que ela quisesse. Na verdade, preferia de outro jeito, mas e se acabasse mais uma noite sozinha. E era ele que a beijava. Ele era de algum jeito especial. Ele morava perto. Ela o queria tanto. Ele a vira enfim. Pelo menos ali havia certo calor.
Muitos beijos depois, estava satisfeita. Ele não. Suas mãos demonstravam que ele queria muito mais. Se insinuavam, percorriam, mais do que ela pensara dispor assim desse jeito. Partes que não estavam tão disponíveis à primeira mão. Mas quando percebeu já tinha sido percorridas. Para ela estava bom, mas como quebrar o gelo? Ou melhor, como por gelo em algo que esquentava tão rapidamente? Com muito esforço, sussurrou um:...Olha... Ele não deixou que ela completasse a frase, pela primeira vez, falou, interrompendo-a: "Tá cheio  demais isso aqui! Vamos sair daqui? Essa balada já deu! Quer, eu te levo em casa!"
Dois pensamentos cruzam instantaneamente a cabeça dela. Primeiro, ele fala, e que voz sensual. Segundo, que pena, a noite acabou, queria mais beijos. Feito rato na ratoeira ela busca mais queijo...E curiosamente, cai na sua armadilha. "Eu, eu moro perto de você!" -"Ótimo! Então está decidido! Te levo em casa!" -"Vou me despedir do pessoal." -"Pra quê, linda? Já foi todo mundo embora! Vamos também!" -"Tá bom!"
No carro, o clima era meio tenso pra ela, uma mistura de nervosismo e ansiedade, somado ao desejo de beijá-lo mais uma vez. Ela olhava pra ele há tanto tempo e agora ele a estava levando pra casa...Quer dizer, não exatamente pra casa, sua casa não era por alí. -"Eu acho que estamos indo pra o lugar errado! Minha casa, fica pro outro lado!" - "Vamos dar uma volta, nos conhecermos melhor."
.....Avanço no tempo... Horas depois: Cena de final, típica de sexo casual... Ela pra um lado, ele pro outro. Após a guerra, recolham-se os despojos. Corpos vazios, sentimentos pulverizados. Ele se sente pleno: Derrubei mais uma! Ela se sentia como um lixo. Queria beijos, queria carinho, queria colo, queria atenção. Não queria tanto. Não de uma vez só. Muita intimidade, pouco conhecimento. Por que se dar por tão pouco...segundos de um prazer que nem foi tanto seu...
Ele no fundo a achava uma vadia, fácil. Foi de primeira. Onde que ele iria imaginar que ela o conhecia muito antes? Onde que ele iria imaginar que ela nutria um sentimento? Onde que ele iria imaginar que ela teria qualquer sentimento?
Dois seres jazendo juntos nus, numa cama desfeita, sem qualquer proximidade emocional. Feito dois animais devorados pelo cio... Devorados, apensa devorados! Apenas física. Nada humano. Apenas instintual. E agora? Que vontade de sumir dali! Que vontade de ir embora e nunca mais voltar. Ele por ter se  satisfeito. Ela por vergonha mesmo. Que vontade de o tempo passar. De o tempo voltar... Que vazio enorme... Há segundos, corpos tão unidos. Agora, almas tão separadas.
Quanto sentimento desperdiçado. Ele sentia-se meio enojado. Levantou pra tomar um banho. Nenhum orgulho em estar ali. Ela fitava o teto. Muda, enquanto aguardava-o terminar para tomar seu próprio banho. Agora via seu sonho escorrer, levado ralo abaixo pela água do chuveiro. Era só isso?! Eu queria mais que isso...Queria ser alguém especial. Pensei que seria diferente, pensei que ele seria diferente... Mas são todos iguais.  Sexo casual, só é casual pra uma das partes.
Mais uma lágrima rolava pela face, atingiu o canto da boca e deixou seu sabor salobro de revolta. A revolta que calava no peito. Nunca mais, pensou... NUNCA MAIS!
Por Cris Vaccarezza

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