Extrema pobreza

Ontem, assitia no jornal da manhã uma reportagem sobre nove crianças, entre eles, três bebês, que foram encontradas sozinhas em casa, um comodo sujo, com forte odor e lixo revirando por elas, em busca de comida. Foram socorridos pela polícia, chamada após pedirem ajuda pela janela. É uma triste realidade. As mães, foram encontradas perto dali, em um bar. Uma estava atrás do balcão, e a outra, sentada numa mesa. O filho mais velho de uma das mulheres, de 20 anos, se ofereceu para tomar conta das crianças, e informou que iria levá-las a uma oficina onde morava. Lá, foram encontradas, mais três menores, em igual condição de miséria e fome.
Ao que parecia, à primeira impressão, se tratava de um caso de abandono de incapaz. E a mídia, cai em cima do fato, crucificando as mães por sua irresponsabilidade. Como pode uma mãe abandonar seus filhos, alguns, bebês de meses, outros, crianças de colo, sozinhos em casa e ir para um bar? As crianças foram recolhidas, o serviço social apareceu e foi investigar a condição da família.
Hoje, o jornal se retrava. Depois de conversar com pessoas próximas à família e de avaliar as crianças, psicólogas da prefeitura constataram que elas nunca tinham ficado sozinhas, não apresentavam sinais de maus tratos e que todas estão matriculadas em escolas e creches. A conclusão foi de que o caso não é de abandono, mas um drama familiar motivado por extrema pobreza. A mãe tinha forte vínculo com as crianças, e só os tinha deixado sozinhos, para arrumar uma faxina de última hora para comprar comida e alimentá-los. Tinha sido abandonada pelo pai das crianças dias antes. A outra mulher, era sua nora, esposa provavelmente do filho mais velho, e era também a mãe de uma criança de oito meses, encontrada na casa.
O mais estranho de tudo isso, foi um magistrado que cuida da área da infância e juventude, dizer: “Vamos conversar com esse pai. O senhor pai está tão distante dos seus filhos, enquanto ela sai fique com as crianças. Alguma solução tem que haver com o estado presente na vida desta família, desta pessoa, colaborando da maneira que puder para que a família permaneça unida e é isso que a gente quer”. Tem fatos que por mais que eu tente, não consigo compreender. É verdade, isso é o que todos nós sonhamos, mas a essa altura do campeonato? Santa ingenuidade! Se o homem abandonou o lar, sem pensar nos filhos, como iremos convencê-lo a voltar?
Em que país nós vivemos? Será que não sabemos que a despeito da fartura em nossas mesas, há muitos a quem tudo falta? Será que não sabemos que a miséria ronda grande parte da população? Será que não sabemos que todos os dias mães saem de casa e deixam seus filhos sozinhos, no lar para buscar o pão? Será que não sabemos que hoje em dia grande parte das mulheres é arrimo de família? E que encontrar vagas em creches, nem sempre é viável em nosso país? Será que não sabemos as dificuldades que enfrenta a grande maioria de nossa população?
O que mais me assusta é que muito é dito e nada é feito. Onde estão aqueles que não se preocupam com o aumento desordenado da população, principalmente nas classes menos favorecidas? Onde estão aqueles que são contra os métodos anticoncepcionais? Onde estão aqueles que distribuem bolsas auxílio que acabam estimulando a natalidade? Onde estão aqueles que defendem o aborto como método contraceptivo? Onde estão aqueles que acham que o Brasil vai de vento em polpa e só voltam seus olhos para a Copa do Mundo de 2014? Onde estão aqueles que se elegeram para defender esse que agora sofrem? Onde estão aqueles que recheiam as cuecas de dólares? Onde estão aqueles que cobram dízimos e propagam a fé sem obras? Será que dormem em paz? Onde estão todos esses, agora, quando essa mãe precisava de um pedaço de pão pra alimentar os filhos?
E a assistência social, o que é? É reprimir, depois da miséria feita? Será que não há estudos que levem a projetos efetivos de capacitação, que evitem toda essa tragédia? Será que num país de SUS que defende a universalidades, os princípios prevenção e promoção à saúde? Não continuamos fechando a porta depois de roubados? Será que num país com carga tributária altíssima, vamos continuar pagando sem ver os resultados de nossos impostos?
É preciso aprender a prever o caos, antes que ele se instale. É preciso ajudar, sem escravizar. É preciso educar, capacitar, preparar o cidadão dentro da ética, dentro dos padrões sociais de moralidade. Mais que dar o peixe, é imprescindível ensinar a pescar. O Brasil é o país do futuro. E que futuro estamos esperando para essas crianças, cada dia nascendo mais e mais abandonadas à própria sorte?  Se todos trabalharem, todos trabalharão menos. Temos que reduzir a desigualdade. E para isso temos que usar as bolsas auxílio, vinculadas à educação. Temos que chamar o cidadão à sua responsabilidade sim, mas não depois que ele já se deprimiu com o desemprego, já afundou nas drogas, no álcool e abandonou a esposa e os onze filhos. Precisamos agir enquanto ainda dá tempo. Agora, nessa família desestruturada, só nos resta investir no remédio, na cura, na limitação dos danos e a reabilitação. Níveis sempre mais caros, trabalhosos e difíceis de alcançar.
Prevenir, teria sido muito mais fácil.E ainda dá tempo de começar, antes da Copa de 2014.

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