Quereres diversos

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- Não consigo gostar do que gosta de mim. Isso é um fato. E contra fatos, não há argumento. - Gritava Marcela, arrancando os cabelos!
- Aceita.
- Isso é um defeito tremendo! Isso é caso pra análise. Isso é passível de criticas.
- Secundário. Principal é aceitar os fatos.
- O fato é que eu não consigo gostar de quem gosta de mim. E agora, Meu Deus, o que faço? Não posso culpar a ninguém.
- Não mesmo. Não te faltam pretendentes. Do jeitinho que pediste a Deus. Agora é escolher com qual deles.
- Nenhum me interessa. Nenhum me atrai. Apenas aquele que não está presente. Apenas aquele que vem quando quer. E quando não quer, some. É esse que eu quero. Esse é o ideal.
- Complexo.
- Paradoxal.
- O que não te atrai nos pretendentes?
- Não são completos. O que um tem demais, falta no outro. E vice versa. .
- E aquele que você quer?
- Ele é um conjunto completo. Tem tudo.
- Tudo? Não lhe falta nada?
- Só a vontade constante de me ver.
- Eureca! Mas isso explica tudo!
Por Cris Vaccarezza

Fim de namoro, ou carta de adeus - Como preferir.

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Amor, estou te escrevendo pra terminar o nosso namoro. É triste, eu sei, ter que terminar algo que nunca chegou de fato, a existir. Um esboço, uma história que alguém esqueceu pela metade e coube a mim, concluir. Uma pena, pois eu a teria escrito de maneira diferente. Eu teria tentado te fazer mais e mais feliz.
Queria te contar que me apaixonei por você. Chame isso de bobagem, imaturidade, infantilidade. Não importa o nome que dê, não reduziria em um milímetro o que sinto. Creia. Eu já tentei tirar você da cabeça. Sem sucesso! Que nem febre alta, essa paixão não cede, essa saudade não passa. Não sei como pude me apaixonar assim. Não sei como pude me deixar envolver. Mas o fato é que aconteceu. Você foi, nesse último ano e pouco, a companhia que eu mais desejei ter pra mim, de verdade. Não por falta de opção, por falta de juízo mesmo. Eu só queria você. Te achava perfeito em suas imperfeições. Lindo, sensual, inteligente, divertido, protetor, às vezes paternal, e de quebra, dança um forró...sem comentários. O cara pra namorar, pra apresentar à família. Também, quem mandou saber segurar na mão como só você sabe, sorrir, beijar, seduzir, dengar?
Não sei de fato quando foi que comecei a me apaixonar, mas confesso que até aquele beijo roubado, no estacionamento do shopping, num final de uma tarde qualquer de Janeiro, eu não te levava muito a sério. Foi ali que tudo começou a mudar. Foi ali que a química começou a fazer seus estragos em mim. Seu beijo deixou vontade.
Adorava ouvir sua voz sem vergonha, quando você me ligava, seus convites inusitados por telefone, no meio da noite. Achava estranho, mas adorava ouvir, rubra, vermelho tomate, as suas pequenas perversões.
Nosso namoro durou, à distância, em segredo, só nosso. Alimentado pela expectativa. Uma vontade danada de te ver, mas um medo ainda maior de romper as barreiras da minha insegurança, e ir.
Foi preciso que o São João esvaziasse a cidade, que você colocasse borracha em todos os postes, lembra? Pra que eu tivesse coragem de ir te ver. A vontade venceu meus medos e eu fui. Queria muito te encontrar. E nosso encontro valeu. Você me deu uma noite de São João inesperadamente linda. Na capital, na contramão do mundo, que fugia pro interior. Não tinha fogueira, não tinha quentão, era atípica a noite de São João, mas ainda assim, era perfeita. Repleta de seu calor, de sua carinho, de sua atenção. Seu abraço me enchia a alma, seu beijo me arrancava do chão.
Eu só queria que o São João durasse pra sempre. Mas não dura, né amor? E nosso amor foi ficando numa festa junina. Foi se apagando que nem fogueira. Eu achei até que já tinha apagado. Foi quando sua voz rouquinha reatou nosso namoro num sábado de Carnaval. Reacendeu nossa chama. Você veio me ver. No interior, mais uma vez na contramão do mundo, que fugia para a Capital.  Marcou seu lugar, achei que era pra ficar. Mania burra de achar. Não sei perguntar. Deixo ficar subentendido. Tudo errado, mas subentendido. Nas loucas horas com você, me sentia incrivelmente à vontade. E o tempo passou depressa demais.
Lembro dos nossos últimos encontros, à beira mar. Intensos, como todos os outros. Mágicos pra mim, provavelmente iguais a tantos outros pra você.  Quem dera pudesse fazer o tempo parar. Quem dera pudéssemos sair da contramão.
Eu nunca te falei a respeito. Mas no fundo, acreditei nas primeiras frases que me disse, "estou aqui sozinho, esperando você". Acreditei que essa pessoa por quem você esperava era eu. Quem dera fosse verdade. Queria você, namorado. Queria amar você, amor. Queria teu calor, teu afeto, cuidar de você, te proteger mesmo à distância. E oro por você, pra que o seu coração, encontre a paz que o meu necessita. Queria ter sido especial. Hoje, quero apenas, te ver feliz.
Desculpa, eu não sei ligar. Não sei correr atrás, não sei marcar território. Não sei forçar a barra. Respeito o espaço do outro. Se quando era sim, você se fez presença, compreendo sua ausência como um não. Se quando queria, você ligava, compreendo o silêncio como um convite para te esquecer. E entendo que talvez não tenha sido tão bom pra você, quanto foi pra mim. Vai ver, foi culpa da carência. Vai ver, nem era pra ser.
Queria mesmo continuar sendo só de você. Mas sozinha, me sinto incapaz de ser fiel ao meu ideal por muito mais tempo. Tenho que ir. Gostar de quem gosta de mim. Seguir quem me queira. Essa saudade de você me mata. Não sou boa com ausências. Como diz Caio Fernando Abreu, "Ou você me quer e vem, ou não me quer e não vem, mas me deixe saber, para desocupar meu coração". Seu silêncio me deixou saber. Você não me quer e não vem. Não dá mais pra esperar. Preciso preparar a mudança. Arrumar a mobília, esvaziar a sala, empacotar os pertences, desocupar meu coração. Abrir vaga para quem queira ocupar. Não posso viver de ilusão. Essa é a formalização do adeus. Chega de reticências, de ficar contando saudades. Se o meu amor não é possível, não cabe mais vírgulas. É ponto mesmo, e final.
Talvez agora você entenda o porque dessa carta maluca, que te alforria do que nunca te fez cativo. Que te liberta do que nunca te prendeu. Que finda um namoro que só existiu pra mim. Eu  namorei você. Dediquei uma oração todas as noites, e um pensamento florido todas as manhãs. Te levei em pensamento comigo a cada lugar lindo que eu visitei, abracei o travesseiro pensando em você. Viajei em sonhos com você, criando mimos pra te ver sorrir. E namorei, namorei. Eu namorei você. E já que comecei sozinha esse namoro, agora preciso terminar.
Por fim amor, foi bom. Valeu. Te desejo do fundo da alma, amores reais. Do jeitinho que seu coração puder sonhar. Do jeitinho que te faça feliz. Que você seja muito feliz. Que seus olhinhos de menino sapeca possam se iluminar de alegria sempre. Simplesmente porque, você existiu e me fez quebrar paradigmas, ousar, me fez feliz. Obrigada por todos os sorrisos que provocou!
Um beijo enorme no coração!
Sua ex namorada...
Por Cris Vaccarezza

Prolixa

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A verdade dói. Mas nos faz crescer. Quando te jogam na cara seus defeitos. É duro de aceitar. Mas é necessário. Machuca mas faz crescer. Sou prolixa sim. Prolixa de palavras, de sentimentos. Sou prolixa de quase tudo na vida. Intensa, excessiva. Fazer o que? Se tenho que dizer uma coisa, não consigo seguir a menor distância entre dois pontos. Tenho que voltear em pensamentos, rodar, girar. Borboletear até me sentir satisfeita. É que escrever  me desestressa.
Meu pensamento não é linear, não é reto. Meu pensamento é circular, curvilíneo. Passeia por vários pontos. Avalia de diversos ângulos. E pensar pra mim é um prazer. Por isso deixo meu pensamento voar solto. Sem limites, sem controle.
Eu falo sozinha, bato altos papos. Dizem que isso é loucura. Outros, que é mediunidade. Cientistas agora falam que desenvolve a capacidade cognitiva. Que exercita os dois hemisférios cerebrais. Vá entender...O fato é que até em meus altos papos individuais, eu sou prolixa! Se for contar um fato, necessito dissecá-lo em detalhes na esperança que o outro acompanhe o raciocínio. Devo reconhecer que isso cansa mais do que elucida.
Foi preciso que alguém me atirasse na cara minha própria prolixidade para que ela passasse a fazer sentido pra mim. Desde então, andava muda, calada. Há uma semana não escrevia nada que passasse de quatro linhas. Por mais que me esforçasse. Alguns versos. Um ensaio de um pensamento qualquer, nada mais que isso. Aquele comentário calara minha mente naturalmente prolixa.
Então parei e em silêncio resolvi enfrentar os meus medos. Sim, eu sou prolixa. E daí? Há os que roubam. Há os que mentem, Há os que enganam. Há os que matam. Eu sou prolixa! Conviva com isso se quiser. É uma escolha. Todos são livres. Mas não posso apagar minha essência para agradar A ou B. Não posso deixar de ser eu para ser quem quer que seja. Não posso fingir que não quero falar o que acho que devo falar em um espaço que é meu! Ora, não gostou? Obrigada pela visita e até nunca mais. Mas deve haver quem goste nesse mundo de meu Deus. Deve haver outros prolixos como eu. E é pra eles que eu escrevo. A bem da verdade, eu escrevo porque sou prolixa mesmo.
Foi necessário ver meu defeito refletido no espelho para enxergar o que eu não queria ver. E enxergando o problema de frente, pude medí-lo e julgar se era ou não, necessário mudar e por que. Agora sim, certa da minha prolixidade, vejo que não é difícil conviver com ela. Posso tentar limitá-la, mas extinguí-la, seria apagar de mim uma parte essencial. E como não estou ferindo, roubando, matando ou agredindo ninguém com a minha prolixidade, fico com a essência, que é de mim, o mais importante. Dane-se quem não compreender isso!
Por Cris Vaccarezza

A diferença entre ficar, pegar, amar.

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Então eu zapeava pelo Facebook quando me deparei com essa imagem. Pela primeira vez nesse blog, um post se iniciará pela foto. Porque para mim, é impossível não comentar. A imagem diz: A diferença entre "ficar", "pegar", e "amar" é a mesma diferença entre "um minuto", "uma hora" e "toda a vida". Eu me pergunto. Como é que estamos tratando as pessoas hoje em dia? Quais os critérios para se ficar, pegar, ou amar? Em primeiro lugar, uma pessoa que fica ou pega pessoas, como se fossem objetos, de alguma forma não os descarta depois, como lixo? Uma pessoa dessas sabe o que é amar?
Em segundo, qual o critério para se julgar pessoas? Que pessoas são para ficar, pegar, ou amar? Atração física? Beleza? Afinal, sentimentos não são vias de mão dupla? O que um sente, o outro não tem que sentir em troca? Quem nos garante que aquele que escolhemos para dar uns pegas, não nos queria para amar? 
Em terceiro lugar, o que é uma relação de um minuto, ou uma hora? Isso é uma relação? Troca-se o que, em um minuto, ou uma hora, além de fluidos corporais? Em uma hora se tem a chance de conhecer melhor alguém? Em um minuto se dá a chance a alguém que nos queria amar, de ser mais do que uma simples pegada em um final de noite qualquer?
Vivemos em um mundo de aparências. Hoje em dia banaliza-se tudo. Inclusive o sentimento do outro. Ninguém sabe se aquela que foi facinho com você, ou se aquele que você pegou na balada e deu o telefone errado, não estavam completamente apaixonados por você, e esperavam ansiosamente uma chance para estar com você, amar você. Ninguém pode julgar ninguém por um minuto, ou uma hora. Há pessoas que necessitam de tempo para serem elas mesmas. Pensemos nos tímidos, nos introvertidos, nos nerds, nos intelectuais, que não tem a mesma facilidade de sair vendendo uma autoimagem positiva, muito embora fake. Pensemos no outro como um ser humano, que está tentando acertar, e que pode ser aquele que lhe fará feliz. E você o descartou, simplesmente porque aparentemente, ele não merece mais que um minuto, ou uma hora de sua atenção. 
Seres humanos não foram feitos para serem experimentados. Foram feitos para serem conhecidos. A falta de envolvimento esvazia as relações humanas e banaliza o afeto. Amar, em breve, não será uma aquisição para toda a vida, mas uma busca para a vida toda, pois estaremos imersos em um mar de superficialidade que não nos permitirá sequer, diferenciar quem merece um minuto, uma hora, ou toda a nossa vida de atenção. 
Para durar uma vida inteira, o amor não pode ser baseado no que temos, nos bens que duram anos, décadas apenas, como a beleza física. O amor que se pressupõe eterno, imortal, tem que ser baseado em valores igualmente imortais, como os valores da alma. Aquilo que o outro é. E isso jamais se conhecerá em um minuto, em uma hora, em um beijo, em uma noite ou duas de sexo selvagem. Isso, se leva às vezes, uma vida inteira de convivência para conhecer. Pois o amor que se supõe para a vida inteira, ao contrário do que se espera, não é encontrado. É construído, a partir dos alicerces que cada um dos dois já traz. Alicerces como paciência, tolerância, maturidade, confiança, autoestima, independência, capacidade de se doar, altruísmo. Quanto mais fortes esses alicerces, mais sólido será o amor. 
Ninguém espere ir caminhando pela rua e de pegada em pegada, simplesmente topar com o amor da sua vida. Ninguém espere que ele lhe caia pronto no colo. Para buscar o amor verdadeiro, é necessário fechar os olhos do corpo e aguçar os olhos do coração. Pois, como bem dizia Antoine de Saint-Exupéry, em O Pequeno Príncipe, "o essencial, é invisível aos olhos. Só se enxerga bem, com o coração."
Por Cris Vaccarezza

Alexia e as encruzilhadas da Avenida Brasil

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Uma nova novela começou no horário nobre. Cheia de tramas, maldades, mal entendidos, crueldades, e desencontros. Uma protagonista determinada, uma antagonista idem, com alta dose de falta de caráter associada a uma falta de limites.
Mas por trás dos holofotes, quem me chamou a atenção foi Alexia, a personagem de Carolina Ferraz. Mulher independente, solteira, que vendo o relógio biológico marcar os quarenta e cinco do segundo tempo, resolve realizar o sonho de ser mãe fazendo uma produção independente. Até ai história semelhante à de muitas mulheres. A diferença está em dois detalhes inusitados: ela escolhe inadvertidamente para pai do seu filho um homem já bígamo; e segundo detalhe, se apaixona por ele, virando a terceira esposa desse Sheik de araque. Pior, descobre que já conhecia e era amiga de longa data de Verônica, uma das esposas de Cadinho. Que situação.... Grávida de um homem que parecia ser o cara, o pai ideal, que prometia mundos e fundos e no fundo, era uma grande mentira. O que fazer?
Ela, que ao contrario das outras duas, sabe da existência das outras famílias e, embora não concorde e tente dissuadi-lo da ideia, acaba por ajuda-lo a sair de grande parte das enrascadas em que se mete Cadinho. Se torna amiga, parceira, cúmplice nos planos para evitar que as outras mulheres descubram e encerrem os relacionamentos.
Alexia representa a diversidade do tempo moderno, onde a mulher tem que se adequar ao maremoto emocional da modernidade, e  inteligentemente evitar ser afogada pelas lagrimas da desilusão, sendo forcada a partilhar suas figuras masculinas. A despeito da hipocrisia social, dos casamentos de fachada, das pseudo fidelidades de quem ainda não está pronto para encarar a verdade.
Certamente haverá quem critique a sua atitude. Jesus já dizia que é muito mais fácil ver o cisco no olho do irmão que a trave que está no nosso próprio olho. Mas se observarmos bem a personagem, compreenderemos ao menos a sua lógica. Isso é amor? Se tornar cúmplice de um homem em suas armações para enganar outras mulheres? É a forma de amor de Alexia. É uma forma inteligente e desprendida de amor. Há os que dirão: É falsidade! Mas o que é real nesse mundo moderno, cada vez mais fake?
A bem da verdade, não foi ela que criou toda essa situação. Ela também foi vítima. Acabou se envolvendo num quadrilátero de relações amorosas. E quando descobriu, sua primeira reação foi contar a verdade e acabar com a farsa. Mas foi convencida a continuar pelo homem por quem estava apaixonada.
Na cena em que sua filha finge estar doente, ela recebe uma falsa mensagem do celular de Cadinho, na verdade enviada por uma das esposas dele, e pede que ele a encontre na farmácia. Tudo o que ela buscava naquele momento era ter o pai de sua filha ao seu lado em um momento difícil. Mas Noêmia vai ao encontro no lugar de Cadinho e descobrindo a farsa, a humilha, descarrega nela e não nele, a sua raiva por estar sendo traída. Culpa a ela, a outra mulher, a outra. Não o marido, o infiel. Alexia, ouve, cala e minimiza a relação com Cadinho, informando que só o conhece a um mês. Dando ao relacionamento, ares de casualidade, o que tornaria menor, aos olhos da esposa, o crime do seu marido/amante. Como julgar um caso desses?
A grande fragilidade do sexo feminino em relação ao masculino, não está na força de trabalho, na inteligência, na capacidade de exercer funções da mulher. A grande fragilidade do sexo feminino, está em não saber se aliar a outras mulheres. Mulheres são desunidas, competitivas entre si, de uma maneira diferente da dos homens. Homens não traem a "raça" (como se autodenominam) quando o assunto é relacionamentos. Quando um homem, vê outro em atitude suspeita de traição, pode ser seu próprio pai, normalmente não revelam à mulher traída. A menos que eles próprios, tenham interesse em conquistar a vítima da traição. Para os homens, amor é um departamento completamente distinto de sexo. Eis a diferença.
Ela é culpada, alguns dirão, pois sabia de tudo e continuou. Mas saber de tudo não seria também uma grande responsabilidade, ao invés de um trunfo? Ela poderia destruir tudo, derrubar o castelo de cartas dele, mas isso não tornaria nenhum dos envolvidos mais feliz. E afinal de contas, essa não seria uma tarefa dele? A fidelidade às esposas, é missão do marido, ou da amante que ele arranjou? Ora, a César o que é de César!
O grande culpado na história de Cadinho e suas três mulheres, é ele mesmo. É a sua incapacidade de limitar-se. De perceber que o seu direito finda, onde começa o do seu próximo. É a sua incapacidade de perceber que pode acabar ferindo, ou machucando alguém, com suas escolhas. Mas as mulheres se voltam contra Alexia. Que na verdade, de uma maneira distorcida, acaba tendo uma atitude até altruísta, ao passar por cima de seus sentimentos pelo bem da "coletividade". E o problema vai crescendo, por anos. Filhos sendo criados sem saber os irmãos que tem, relações sendo tecidas em torno de uma grande mentira. Famílias sendo montadas por um homem que não percebe que em dado momento não será capaz de manter toda essa estrutura que acabará por desmoronar e ferir muita gente. Seria cômico, se não fosse trágico. Casos como esse, ocorrem diuturnamente na vida real. E vidas acabam sendo destruídas pelos excessos, pelo ciúme, pela possessividade, pela ausência do perdão. Só quem já esteve em algum dos vértices desses triângulos, quadriláteros amorosos, sabe o quanto machuca ferir e ser ferido, enganar ou sentir-se enganado. Trair, ou sentir-se traído.
Não estou dizendo que o que a personagem Alexia decidiu fazer com a sua vida é o correto. Teoricamente, o correto é escolher alguém para amar e ser amado. Mas quem de nós pode apontar o outro e condená-lo sem conhecer toda a verdade. E dos quatro envolvidos principais nesse jogo (fora os filhos, vítimas consecutivas), o único que conhece a verdade menos parcial, seria o próprio Cadinho. Mas Cadinho é um personagem com tons de comédia, não de drama. E se nós mesmos, achamos as atitudes dele divertidas, se o enaltecemos como o pegador, o inteligente, o que dá conta de 3 mulheres, como condenar Alexia?
Nos dias de hoje, onde o sexo é fácil e o amor dificílimo. Num mundo onde as pessoas confundem a liberdade de amar, de escolher, de decidir com a libertinagem de trocar, enganar, iludir, ludibriar infinitamente, como conseguir tal proeza? Como julgar alguém que se esforça para preservar o único relacionamento que lhe coube? Julgar? Sempre muito difícil. Que possamos julgar, antes, as nossas próprias atitudes, que as dos outros!
Por Cris Vaccarezza

Os desafios de pertencer

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"O medo é o mais tradicional espantalho que sempre usamos quando continuamos a fazer como sempre fizemos. Na meia-luz dos nossos automatismos. Na meia-lucidez do nosso sonambulismo crônico. É esse medo de ser, de se sentir ou de ser diferente de todos e de si mesmo a primeira das resistências psicológicas." José Ângelo Gaiarsa
Um dia, uma conhecida, sabendo que eu formara em Psicanálise, me convidou para uma entrevista para o trabalho de conclusão do seu curso de Jornalismo. O tema era: O que leva o ser humano a fazer sacrifícios para estar na moda.
Resposta complexa para uma pergunta intrigante. Primeiro, porque a minha escolha por psicanálise foi muito mais pessoal, que profissional. Curiosa que sou dos mandos e desmandos da mente, encontrei no método, uma chave para o autoconhecimento, e embora tivesse feito clínica, enquanto o tempo permitiu, meus estudos se voltavam muito mais às minhas próprias neuroses. Segundo, porque, ao contrario do que as pessoas normalmente imaginam, psicanálise difere completamente de psicologia. E o estudo do comportamento humano é do campo da psicologia, e não da psicanálise. Psicanálise é uma técnica muito  pessoal e releva muito mais a aliança terapêutica entre analista e paciente, que um padrão de comportamento geral. Mas diante da falta de outro profissional conhecido, e da iminência da apresentações do trabalho, me dispus a ajudar. Não sem antes ressaltar que não era o profissional indicado para tal demanda.
À luz da psicanálise, como à luz de qualquer outra técnica ou ciência humana, o ser humano é, essencialmente um ser social. E sociável. Que necessita do outro como parâmetro e referência comportamental. Isso a princípio, já seria um ponto de partida para se tentar compreender o desejo de estar na moda. Provavelmente a necessidade de aceitação, de sentir-se pertencendo a um grupo que gere essa necessidade de repetir o que a maioria faz. Isso, pode ser tão forte em algumas pessoas que chega a se sobrepor ao próprio senso estético, prejudicando-o, a despeito das características individuais, em nome da generalização. Para corpos individualizados, com padrões diferentes, não há com aplicar-se uma regra geral, sem que haja alguma discrepância. Então em tese, nem todos podem estar na moda.
Quando essa padronização é meramente estética ou de estilo, o prejuízo pode ser apenas visual. A estética passa, muda, transforma-se, resgata tendências, mas o caráter fica. Quando a padronização é comportamental, corremos o risco de criar verdadeiros autômatos, ou deprimidos párias sociais. Pessoas que se esforçam para pertencer a grupos que contrariam suas mais intimas inclinações e aptidões pessoais. A primeira regra a ser respeitada em termos de moda é que cada ser humano é único, e tem suas aptidões e defeitos. Valorizar o que tem de positivo e disfarçar os defeitos, é que deveria estar na moda, muito mais que cores, ou comportamentos.
Não há como se pertencer a um grupo do qual não se compartilha as características básicas. Evitemos comparações. Ao contrário das roupas, não há como medir pessoas por tamanhos, apensa pelas atitudes. Ainda assim, devemos respeitar a diversidade de ideias. Nem melhores, nem piores, apenas diferentes. É necessário usar do bom senso para adequar-se às demandas sem excessos ou autoflagelo; e do autoconhecimento para discernir um do outro.
Por Cris Vaccarezza

O desafio de sentir

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Foi necessário aguçar sentidos e exercitar sentimentos para escrever esse texto. Não só por ser tarefa de casa, mas por sentir que com relação ao tema, a inspiração não me favorecia nesse momento. Vai ver que é porque estou mais habituada a raciocinar a vida, que a senti-la. Desde pequena ouvia: Raciocine! Raciocine! Ninguém nunca me disse: Sinta... Ainda assim, eu precisava sentir.
É que sentir significa experimentar algo nem sempre bom. Às vezes, os sentimentos não são agradáveis, e as sensações, piores ainda, mas o aprendizado é sempre útil, por mais penosa que seja a experiência. Enfim, forçada a sentir, tenho experimentado uma infinidade de temperos emocionais. Só porque passei a sentir sem preconceito, a sentir sem filtrar. A dar ouvidos ao sentir.
Tudo começou com uma impressão de que alguma coisa estava errada na minha forma de me relacionar com o mundo. Principalmente com o digital. Vivia embotando sentimentos, alugando-os virtualmente. Tudo muito vago, tudo muito fake. A internet é um anestésico potente para da vazios da alma. Nos sentimos virtualmente acompanhados, enquanto nos tornamos cada vez mais solitários. Todos hipnotizados, linkasos, plugados a uma rede virtual. Irreal. Cada um trancado em seu quarto, em sua cela, buscando interação. Querendo arrancar calor de uma tela fria. Para resolver esse dilema, puxei o fio e resolvi viver um pouco mais no mundo real.
Feriado prolongado e eu sentindo coisas que há muito esquecera. O prazer de um almoço em família sem hora para terminar. O prazer de ficar na cozinha, três gerações de mulheres, a louça, o papo, suas alegrias e demandas. O prazer de ouvir o outro. Sem pressa. Sem cobranças como há muito não vivia.
Ir ao cinema, sem ter um filme especifico pra ver. Chegar ao cinema e escolher uma comedia despretensiosa pra assistir, comendo pipoca. E rir, rir muito, sabendo que pode-se levar o tempo necessário no cinema, na rua, na pipoca, no papo, que ninguém vai te cobrar. Nem se resolver repetir a sessão, ou a sensação.
Sentir novamente o prazer de ter um livro de verdade nas mãos. O cheiro das páginas novas, o prazer de folear as páginas, deitada na varanda, com uma xícara de café recém saído do coador. E ver a lua nascer no horizonte.
O prazer de um abraço, de querer e ser querido. De dar e sentir calor. O prazer do afeto, de beijar faces, afagar cabelos, tocar a pele, sentir-se viva outra vez.
O prazer de dançar, de ouvir as musicas que se quer ouvir, de toca-las até enjoar. De se levantar e mover no ritmo da melodia. O prazer do movimento, de se fazer flutuar. E sentir o coração bater, no passo ou no descompasso, pulsando, acelerado mesmo, depois da dança. Sentir seu coração bater...
O prazer de deletar um habito ruim, de excluir um contato que gera ansiedade por uma resposta que não vem, deletar uma saudade unilateral. O prazer de superar um limite, de vencer a si mesmo. O prazer de tomar um sorvete, de andar calmamente entre pessoas, de se vestir como quer, e não como dita a moda. O prazer de acender um incenso e acompanha-lo queimar sem pressa, até o fim.
O prazer que hoje sinto, em experimentar a vida de outra maneira, menos automatizada e repetida, posso comparar ao prazer do ex fumante, quando volta a sentir o sabor das comidas e o cheiro da vida que ele voluntariamente retirava com o uso do cigarro. É claro que como o dependente químico, às vezes também sente saudades. Mas quem disse que sentir saudades também não é sentir-se?
Sei que nada na vida dura eternamente, nem o prazer. Mas até agora, tenho redescoberto o prazer de encontrar-me comigo mesma. Em silencio, aos poucos. De escolher, de ser livre.
Por Cris Vaccarezza

Detox digital

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ITSO - Inability To Switch Off , “incapacidade de desligar” . É exatamente isto o que está acontecendo comigo. A internet,  com sua infinidade de informações disponíveis, é sem dúvida a invenção do milênio. Veio suceder a televisão em sua capacidade informativa e trouxe de carona a interatividade. Mas toda essa conectividade, criou as redes sociais e essas, a dependência digital. 
Graças à dependência digital, nos tornamos seres antenados, conectados, socialmente interligados. Interagimos mais com conhecidos, reencontramos velhos colegas, trocamos informações nas mais diversas mídias, reduzimos distâncias geográficas, mas aumentamos as distâncias pessoais. A internet, e mais especificamente as redes sociais, geram uma pseudo sensação de proximidade. Parecemos estar juntos, quando na verdade estamos individualmente, cada vez mais solitários. Cada um conectado à sua máquina, trancado em sua casa, distante do resto do mundo.
Nos sentimos virtualmente amados, quando aquela pessoa te chama no msn e realmente desprezados quando a janelinha está verde, mas ela não fala com você. Ao contrário do que ocorre na vida cotidiana, onde quem chega a um recinto, deve, por convenção social, cumprimentar a todos. Isso não ocorre na internet. Quem entra no msn não tem necessariamente que dar oi a todos os presentes. A pessoa está disponível, mas virtualmente inacessível.
Na verdade, cada vez mais utilizamos as redes sociais para não sentirmos o peso da solidão em um mundo que esfacela as relações de contato e proximidade, que desvaloriza os relacionamentos de longo prazo, e que banaliza a sexualidade e a afetividade: "Eu sou de todo mundo e todo mundo é meu também..." ou " É meu defeito, eu bebo mesmo. Beijo mesmo, pego mesmo. E no outro dia nem me lembro."
Está ocorrendo com as relações humanas, o mesmo que ocorre com a alimentação. Fast food. Não se come, não se mastiga, não se faz refeição. Alimentar-se então, muito menos, hoje em dia engole-se a comida, com refrigerante. A nossa solidão também é assim. Disfarçada de grande número de seguidores ou amigos nas redes sociais, nos tornamos a cada dia mais sós. Esse afeto não deu certo, busco outro em um site de relacionamento, pego um msn e começo a conversar, se rolar, rolou. Se não, amanhã pego outro. Tudo feito com muita pressa. A mesma pressa que temos de engolir a comida, quase compulsivamente. Compulsões são comportamentos compulsivos ou aditivos são hábitos aprendidos e seguidos por alguma gratificação emocional, normalmente um alívio de ansiedade e/ou angústia. São hábitos mal adaptativos, que têm objetivo de proporcionar alívio de tensões emocionais, mas normalmente não se adaptam ao bem estar mental pleno, ao conforto físico e à adaptação social.  Eles se caracterizam por serem repetitivos e por se apresentarem de forma freqüente e excessiva. A gratificação que segue ao ato, seja ela o prazer ou alívio do desprazer, reforça a pessoa a repeti-lo mas, com o tempo, depois desse alívio imediato, segue-se uma sensação negativa por não ter resistido ao impulso de realizá-lo. Mesmo assim, a gratificação inicial (o reforço positivo) permanece mais forte, levando a repetição. Podem ser considerados comportamentos compulsivos os excessos de alguma natureza, alimentar, sexual, de atividade física, jogo, adição por drogas ou álcool, compras, trabalho e mais recentemente, a dependência digital.
A dependência digital é a busca incessante pela utilização da internet que age de forma semelhante à dependência química, pois é consequência do uso prolongado da internet que, proporciona prazer físico à pessoa. Tal prazer está relacionado a fatos e reações simples como downloads, interatividades, e-mails, que em contato direto com o organismo originam descargas elétricas entre os neurônios através da dopamina.
Dentro dessa dependência, podemos destacar a dependência por redes sociais, e mais especificamente, a  Facebook Addiction Disorder (FAD) com mais de 400 milhões de utilizadores em todo o mundo, a rede criada por Mark Zuckerberg atingiu um estatuto de obsessão social. Parece piada, mas não é. A FAD é uma perturbação psicológica derivada da Internet Addiction Disorder (IAD), ou Desordem de Adição à Internet, diagnosticada pelo psiquiatra norte-americano Ivan Goldberg em 1995, e que segundo pesquisas exames de escaneamento do cérebro, encontraram nos portadores da IAD, alterações  semelhantes na substância branca às imagens do cérebro de pessoas viciadas em álcool, cocaína, heroína, maconha, e metanfetamina. Esta nova geração de viciados do século XXI, como alguns psiquiatras estão a descobrir, pode apresentar inclusive sintomas físicos e psicológicos semelhantes à adição a substâncias químicas.
Por tudo isso, já que o caso é de dependência, antes que se agrave, gerando os sintomas típicos da abstinência,o melhor a fazer é recorrer ao autocontrole e entrar em um processo de DETOX, que é uma desintoxicação de um fator que causa algum tipo de dependência, adição ou descontrole.
Reaprender que avida tem outros valores fora do mundo digital, que as horas tem seus sessenta minutos habituais e não os aparentes trinta de quando estamos conectados ao Facebook. Vá à praia, vá ler um bom livro de papel, folear páginas, sair com os filhos, ir ao cinema, fazer um piquenique, fazer uma caminhada, comer uma pizza. Vá namorar gente de verdade, abraçar, beijar e não enviar bjs. Mas vá agora, publique um aviso no seu perfil, estabeleça o período que vai se ausentar das mídias digitais e entre de férias. Desconecte-se. Mas faça isso agora, antes que alguém publique mais uma atualização no perfil e você se sinta tentado a curtir, comentar ou partilhar. A propósito, estou de Detox. Fui!
Por Cris Vaccarezza

O que é que tem de errado comigo?

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-Ihhhh, mas que é que você tem agora?
-Meu último romance terminou.
-Com o bonitão mais velho?
-É!
-E algum dia existiu romance?
-Tinha sim um clima de romance, ele me tratava como uma princesa, era atencioso...
-Sei! E isso significa o que exatamente?
-Pra mim significa romance. Sou romântica.
-Pois pra mim significa apenas que o rapaz era educado. Nada mais!
...
-O que aconteceu? Ele terminou?
-Não, sumiu.
-Normal!
...
-E você? Vai ficar aí amuada?
...
-Tá triste, eu sei, mas bola pra frente!
-Não tô triste.
-Não?
-Tô preocupada.
-Com quê? Você tem casa, comida, roupa lavada, trabalho, paga suas contas. Tá preocupada com que?
-O que é que tem de errado comigo, bi? E nem me venha com aquela ladainha de "não tem nada errado contigo, você é linda, os homens é que não prestam!" Isso não cola mais!
-Não, não, longe de mim te dizer isso. Uma vezinha ainda vai, mas seus "romances" realmente não emplacam! Cruz credo!
-Então tem mesmo alguma coisa errada comigo?
-Mas claro que tem, criatura! Seu problema é que você é cisne, mas cismou de nadar entre os patos! Não vai dar certo nunca, amiga! Cisne é cisne, pato é pato! Não será cisne jamais! Abre o olho, seca esse rímel que está um horror, e vai procurar tua turma! Você está no lago errado da vida!
Por Cris Vaccarezza

Amores(?) virtuais

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-Fála sério! Mais um bloqueado nesse site de relacionamentos? Desse jeito você não quer ninguém! O que tem de errado com esse agora? Pelo amor de Deus! Você quer a perfeição!
-Não é verdade! Só que esse também não é o cara! Não gostei dele! Muito novo!
-Ah claro! Ou é muito novo, ou é muito velho, ou é muito alto, ou baixo demais! Nunca está bom!
-Não é o meu tipo, ora! O que vc quer que eu faça?  Não posso forçar a natureza! Os que eu gosto, eu gosto! Converso, troco msn, se der, conheço. Mas são poucos! Fazer o que?
-Sinceramente? Acho que no fundo você não quer ninguém.
-Agora! Mas que culpa eu tenho se os caras que me atraem, moram em Nárnia? Ou não se sentem atraídos por mim. E se se sentem, só se sentem atraídos, nada mais? Não estou na rifa! Sinto muito!
-Mas então, pra que droga você entra nesses sites de relacionamento? Não sabe o que tem lá?
-Sei sim. Sei exatamente o que tem lá. Homens se achando mais espertos do que todo mundo. Mas a diferença é que lá o que eles fazem, se bebem, se fumam, se tem filhos, já está escrito, não preciso perguntar. Dá pra descartar logo de cara. Poupa tempo.
-Por que você não sai da frente desse computador e vai a um barzinho, ver gente de verdade?
-Porque a gente de verdade vai estar com um copo de whisky na mão, já meio bêbado, falando besteira e achando que vai me impressionar com isso.
-Não. Definitivamente você não quer ninguém!
-Eu quero alguém. Mas o alguém que eu quero não apareceu ainda. Eu até achei que já tivesse aparecido. -Conheci alguns que são bem interessantes, tudo de bom. Mas esses são interessantes demais pra se interessarem por uma só. Queriam todas...
-É, assim está difícil!
-Tá mesmo. Mas eu não tenho pressa não. Vou mudar os planos. Modificar o foco. Cuidar de mim. Do meu jardim, da minha vida. Deixa estar! Um dia as coisas entram nos eixos e tudo volta pro ligar. Basta não procurar...
Por Cris Vaccarezza

Mais uma de amor

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Eles tinham acabado de se separar. Encontrei minha amiga por acaso e ela enfim tomara a coragem necessária para partir em carreira solo. Cansou de ser humilhada, traída, enganada, catou o filho no colo, pegou tudo o que era seu e voltou pra casa da mãe, até que a poeira baixasse.
Estava ainda meio abalada, no olho do furacão, mas já começava a se reconhecer mulher, e não mais esposa. Já começava a pensar como indivíduo e não mais como família. As coisas começavam a se acertar.
Só que parecia que ele já havia se acertado. "Como assim, já tinha se acertado?" pensava indignada. Como não ter se acertado? pensava eu. Para se acertar com alguém, basta nascer homem. A demanda anda violenta nos dias de hoje. Há tantas mulheres lindas, carentes e dispostas a tudo por amor, por aí.
Já os homens... Ah, os homens! Esses não queriam nada a sério com as tantas mulheres, bem resolvidas, lindas, carentes. Se forem inteligentes então? Nem pensar! Pra que ter trabalho com alguém que fala, além de se mexer, de rebolar? Pensam(?) eles. Pra que ter trabalho com alguém que pensa, se amanhã eu nem me lembrarei de com que gata maquiada dormi na terça? Ou terá sido ontem? Que importa? O mundo é dos homens! Temos que pegar todas! Somos os leões... E as mulheres? Bem, na ótica deles, nós somos a caça. A presa muitas vezes fácil. O alvo a ser abatido. A meta a ser batida. O desafio... Chamem do que quiser. Somos só um desafio a mais no longo "testosteronear" deles. E mais, um desafio com limites. Se der trabalho demais, próxima! E a fila anda...
Sabe o que somos de verdade? Somos um espécime em extinção. E eu falo do exemplar feminino verdadeiro. Aquele que sabe o que é e o que quer. Que tem um norte na vida além de procurar um marido. Que quer, mas não por cima de tudo. Que quer, mas não com todo mundo, só pra se sentir preenchida e cada vez mais vazia. Esse tipo de mulher está acabando. A mulher que sabe o que quer não aceita mais ser tratada como sabonete. Usada e descartada. Restam-lhe algumas opções.
Se não tem uma forte atração pelo sexo masculino. Ou se buscam fidelidade e reconhecimento, admiração e valorização ao seu sexo, muitas buscam a opção pelo mesmo sexo, já que os objetivos são semelhantes. Se tem um temperamento mais visceral, dado a iras e vinganças, acabam por fatigar-se dos mal tratos sofridos e se afastam do meio social em que os homens imperam, tornando-se reclusas, antes de homicidas.
Outras, desesperadas, apelam para a religiosidade para não se entregar à mais completa promiscuidade, que abominam, casam-se com Cristo e viram freiras, beatas. Apelam para a castidade como forma de se manter mulheres.
A grande maioria, no entanto, conforma-se com a "condição feminina", e como Marias, vão com as outras, ao shopping, às academias, aos bares, aos clubes. Se tornam mais um número. Viram Barbie, a Barbie loira, a Barbie morena, a Barbie surfista, a Barbie patricinha, a Barbie dançarina, a Barbie na academia, mas apenas uma Barbie. Linda por fora, oca por dentro.
Cada vez mais coisificada, generalizada, plastificada, embonecada, cada vez mais confusa, a mulher se perde em sua essência. Deixa de ser o que é, para ser o que eles querem. E o preço disso é a dor!
Antes eram os homens que estavam dispostos a tudo para conquistar uma mulher. Até a casar e manter-se ao lado dela. Fazia-se tudo para obter sexo seguro, a herança genética, a estabilidade. Hoje, seguramente, o sexo se consegue fácil. Pra que casar?
Desde os primórdios, os homens enfrentavam as feras para alimentar e ter uma mulher. Hoje as mulheres alimentam os homens, e enfrentam a ferocidade de outras mulheres que querem roubar-lhe a casa, a caça, o marido. Eu me pergunto: Queimamos soutiens em praça pública e aí, melhorou pra quem?
Curiosamente, a queixa que ouço dos homens de hoje, é que as mulheres são interesseiras. Engraçado. Antes os homens carregavam um piano sozinhos, davam conta da família, da casa, do lar, dos filhos, proviam toda a família e estavam felizes. Hoje, as mulheres é que caçam, atiram, tomam a presa das outras, dão duro para conciliar carreira, filhos, marido, vida pessoal. Mas são independentes, tem seu dinheiro, não dependem deles. Sobra mais pra eles curtirem a vida sozinhos, com mais mulheres. E hoje as mulheres são caras? Inversão de valores. Então tudo o que uma mulher quer é um homem que pague suas contas? Espantoso! No fundo, acho que eles preferem assim, porque pagam e dominam. As outras, as que pensam, se bancam, querem dividir, parceirar, com essas, eles não se envolvem. Pois tem medo. Com essas, eles não sabem lidar, pois não tem como dominar.
Por Cris Vaccarezza

Quando quero

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Admito que minha paciência é meio curta para esperas. Quando quero, quero na hora. Só quero se for hoje, de preferência agora! Amanhã não sei se quero mais. Posso querer outra coisa. Posso até desistir de querer, Quem sabe? Hoje é hoje, amanhã, só Deus dirá!
Por isso que às vezes as minhas escolhas parecem incoerentes. Prefiro o pouco que se perpetua, que o muito que teima em ser impermanente.
 Por Cris Vaccarezza

As mentiras que as mulheres caem...

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Olhava agora já pela vigésima vez, acredito, para o visor inerte e frio do celular. Nada! Nenhuma mensagem, nenhuma ligação, nenhum sinal de fumaça. Absolutamente nada!
É incrível como a saudade tende a eternizar-se e causar terríveis falhas nas telecomunicações. Sim, porque obviamente, depois de tudo o que ele dissera, ele também sentia falta dela.
Esperava por uma mulher com ela, dissera. Muitas mulheres, poucas assim tão especiais! Não se enganara! Por diversas vezes, ele a chamara de "amor". Tudo bem, não foi de "meu amor", mas era amor, não era? Era sim! Claro que era!
E ele ligara tantas vezes antes. Quase todo dia! Não, definitivamente, só podia ser um defeito na operadora, ou no celular. Ele vai ligar! Já deve até ter ligado. Vai ver, não conseguiu sinal!
Minhas amigas, aquelas invejosas, falam que ele está me enrolando. Que some sem dar satisfação e que tem uma em cada bairro da cidade. Puro despeito. Ele não some. Na verdade, ele sempre me responde perguntando por que eu sumi, quando retorna as minhas ligações. Ele trabalha muito, nem sempre pode atender, então, quando dá, ele retorna. Como é que some um cara assim? Despeito! Ô raça despeitada é mulher. Falam que ele não presta! acredita que teve uma que chegou ao absurdo de insinuar que ele estava dando em cima dela? E se dizia minha amiga, a fulana viu? Eu hein?! Sai pra lá!
Mas o telefone não toca. E ele não atende. Agora está na caixa...Tempos modernos. Ô coisa difícil conseguir sinal para se ligar quando é necessário...
Por Cris Vaccarezza

Fim de carnaval

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Foi então que ela olhou em seus olhos. Os olhos pelos quais se apaixonara, os olhos através dos quais vira a alma dele. Através dos quais, sempre  via algo de bom, a despeito do que viam os outros.
Era fim de carnaval. E ele, o que via nos olhos dela prenunciava um longo período de incerteza longe do seu porto seguro, longe do colo amigo e querido daquela mulher. Naquele dia, seus olhos não eram olhos de ressaca, de dúvidas, de incertezas, como os de Capitú. Eram olhos de tristeza, de despedida, de esperança morta, como os de Carolina. Seus olhos tinham visto coisas demais. Não teve dúvidas. Ela o deixaria ir.
- Quando amamos alguém, temos que ser altruístas o suficiente para dar o que a pessoa quer, ela disse. Eu já te dei tudo o que tinha de melhor. Te dei meu tempo, te dei meu colo, meu carinho, te dei meu corpo, meu conforto, meu chamego, minha fidelidade, meus melhores anos de vida. Te dei esperanças quando você desacreditou. Até uma família pronta, a minha família eu te dei. Tudo por amor. Te amei demais. O tempo passou...Não tenho mais nada para oferecer que te valha. Agora, em respeito a esse amor, em nome dele e por ele, é preciso fazer essa escolha difícil. Tenho que te dar o que você necessita nesse momento. Preciso te dar a liberdade, o divórcio. Preciso te deixar livre.
Ele sabia o que isso significava. Era o fim. Ela era a pessoa mais altruísta que conhecerá, embora estivesse longe de ser a mais altruísta que existe. Mas perto do egoísmo de que ele mesmo se sabia portador, as atitudes dela chegavam a ser chocantes. E mais uma vez, ela surpreenderia. Iria deixá-lo partir por amor. Ele jamais faria isso. Nem estava certo de que aquilo era mesmo o que ele queria. Partir. Pra onde? Olhava a rua, a liberdade, olhava o lar...
- Mas eu nunca disse que quero partir, ele falou. Não quero terminar.
Ela permaneceu em silêncio. Sabia que não seria fácil para ele dar o primeiro passo e partir. Quando se passa anos em uma gaiola, qualquer um tem medo de voar. Para uns, amor é partilha, casamento é união. Para outros, é gaiola. E para ele, o casamento não era a alegria da partilha de um ninho, mas a solidão de uma gaiola.
O tempo passava e ele permanecia inerte, entre a gaiola de portas a bertas e a ilusão das asas cortadas. Alguém o teria que empurrar para fora, em busca do que ele desejava no íntimo, mas tinha medo de encontrar. Não era amor, era medo.
-Você jamais me diria isso com palavras. - Ela falou finalmente. Mas cada uma das noites que você se ausenta. Cada um dos momentos em que você sai, todos os dias, a alegria com que sais e a tristeza com que voltas. Me dizem com todas as letras o que eu preciso ouvir. Você precisa de tempo e de espaço. Precisa saber de você, antes de saber de nós. Nesse momento, o seu amor pede pra partir. E o meu, entende, e me pede pra deixar.
Sem alternativa, ele se preparou para sair, quando cruelmente um pensamento lhe ocorreu. Não pôde deixar de pronuncia-lo antes que fosse tarde para voltar atrás:
- Por que de verdade você quer que eu vá? Será que não é você, e não eu, que quer ficar solteira?
Embora tivesse ganas de gritar e atirar verdades contra ele, de fincar-lhe as unhas sob a pele, respirou fundo e fechou os olhos. Esperou que aquela lágrima teimosa caísse. Depois virou-se limitou-se a olhá-lo nos olhos ainda uma última vez e dizer:
- Porque eu sempre preferi as certezas às esperanças. Porque eu sempre optei pela fidelidade.  Porque eu vou penar muito mais que você nesse mar de solteiros, quando chegar a hora. Lembre-se de que no oceano de solidão que inunda as relações humanas, você será o desejado, a minoria, a diferença; será a isca e o anzol indo em direção ao cardume que anseia, repleto de opções. Eu serei apenas mais do mesmo. Mais um peixe nesse imenso cardume, que na pressa de devorar, ninguém se dará ao menor trabalho de conhecer. Entregue às intempéries da maré, e às malhas dos arrastões. Mas não adianta. Ainda é cedo pra você compreender isso... Apenas vá e seja feliz.
E foi assim que acabou o Carnaval.
Por Cris Vaccarezza
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