Amores plásticos em corações de plástico

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Ah, eu quero um amor de novela!! Um amor daqueles de fazer inveja até a quem não enxerga nem um milímetro diante do nariz. Sabe, um amor daquele que você não precisa ver, pra saber que existe? Amor que transpira, que sai pelos poros?
Quero um amor para mudar status de facebook. Mas não apenas para mudar o status do facebook. Não um amor plasticamente moldado para servir, para encaixar, para ser provisório. Quero um amor para mudar de rua, para mudar minha rotina. Quero um amor pra mudar o rumo da minha vida.
Chega de superficialidade, de modernidade, de praticidade, de "Plasticidade!". Plástico, é prático, descartável, reciclável. Meu coração não. Meu coração não é de plástico. Coração de plástico é bonitinho, mas não resiste ao calor intenso de um amor maduro. 
E sabe o que mais? o mundo está cheio de amores de plástico, amantes de borracha, corpos de silicone, corações de papel. E plástico, amigo, facilita a vida, mas tudo demais é sobra. Plástico demais entope bueiro, satura a natureza, é antinatural. Plástica demais é antinatural. Prático demais é superficial. Quero um amor natural! Chega de plástico.
Quero um amor, não pra se chamar de amor a qualquer um ou todo mundo, como se amor fosse apelido: "Viu, amor?" "Oi, amor!" "Sabe, amor?" Não! Quero um amor pra chamar de "Meu amor!" Meu grande amor. Um amor de carne, osso e problemas. Alguém para me ligar de madrugada e dizer que está com frio. Alguém com quem planejar aquela viagem pra Paris, aquele final de semana na Argentina. Planos de longo prazo, pra parcelar em doze vezes sem juros. Casinho nenhum permite isso. Quero um amor pra curtir comigo aquele pacote de fim de semana em Boipeba, que comprei, mas tem que ter uma companhia legal pra usar. Alguém pra quem fazer jantar romântico no dia dos namorados. Quero alguém especial, queira ser especial. Alguém pra me doar, não só pra emprestar, com quem me preocupar, de quem cuidar. Alguém pra abraçar, com quem curtir, dar cheirinho, beijinho no pé do pescoço e fazer cafuné. Pra assistir vídeos num domingo à tarde. Alguém pra viajar, pra namorar, pra dividir, compartilhar.
Ah, eu tô cansada dessa vida dividida, de incertezas, de ficar. Inclusive de ficar sozinha por me recusar a ficar ficando por aí! Também não quero um amor de mentira pra fazer de conta que namora e não ficar só, enquanto o outro não está nem aí. Droga, eu quero alguém para ansiar dividir meu mundo... Isso não é pedir demais! 
Não quero sair dizendo "Eu te amo" por aí, como se fosse "bom dia", ou "tudo bom?". Tipo, eu te amo, amor, mas também amo o Paulo, o Estevão, o Antônio, e se bobear amo o Pedro também! Não quero isso pra mim. Quero um "eu te amo" que venha do fundo da alma. Um "eu te amo" com suspiro do tipo, "caramba, mas como eu te amo mesmo!" "Amo você e todos os seus defeitos!".
Amores descartáveis não dão trabalho, não dão complicação, não dão nada, além de prazer. Eu quero ter trabalho. Quero sim! Quero vínculos, quero raízes, quero intimidade em minhas relações. Quero saber se, quando e pra quem ligar! 
Quero amor! Um grande amor! Não precisa durar para sempre. Para sempre é efêmero demais quando se ama. Mas que dure o tempo necessário para existir, de verdade. A ponto de provocar mudanças e deixar marcas, ter peso, ser real. Não apenas um simples mudar de status, ou aliviar a tensão.
Por Cris Vaccarezza

Saudoso - Especialista em deixar saudades

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De passagem pelo Facebook, mais uma vez dava uma olhadinha no perfil dele. Não resistira. Tentara, mas fora impossível. Queria notícias. Um curtir, um comentar. Alguma coisa que desse indícios de que ele estava bem. Só queria notícias. Um tantinho de nada, um contato distante. Só notícias. Sem ter que ligar. E perder a queda de braço pro orgulho ferido. Sem ter que pagar pau... Tolice! Que coisa adolescente. Passara do peso e da idade desse tipo de comportamento, mas coração tem idade? Não! E lá estava ela, fuçando o seu perfil.
Para variar, ele mesmo, pouco ou nada dissera de si ou dos outros. Sempre fora um mistério e isso enlouquecia sua curiosidade. Aguçava seus instintos. Que capacidade mimética! Ao contrario dele, que nada dissera, as meninas de seu perfil falavam muito! Postavam frases, fotomensagens, se autodenominavam seus amores, curtiam suas poucas fotos em família, comentavam, comentavam... E no final desses comentários, havia sempre um saudades e reticências. Achava que reticências era o que ela mais encontrara em seu perfil.
Constatou que o quilo de homem estava mesmo muito caro, ainda mais um homem como ele, que sabia fazer-se marcante. Um Don Juan pós moderno. Do tipo que todas se orgulhariam de ter no curricilum, por mais que as saudades apertassem depois. Um refinamento raro.
Surpreendentemente, não se sentiu traída, magoada, enciumada. Não acreditava em posses induzidas, mas em doações ou partilhas voluntárias. Riu pra si mesma aquele riso silencioso, enquanto meneava a cabeça negativamente, pensando: Nao tem jeito! Ele sabe ser ainda melhor com ausências que com a própria presença.
Sentiu-se cúmplice de cada uma daquelas mulheres, todas saudosas, todas solitárias, ansiando seu retorno, todas carpideiras chorosas, freqüentando seu perfil buscando alento para a sua dor.
No fim a saudade, que continuava a mesma, nem um milímetro menor, e a certeza de que entre os talentos que tinha aquele homem, um deles, indubitavelmente se destacava: O de saber se fazer desejável, e deixar saudades.
Os cotovelos modernos, já não doem de ralados no peitoril das janelas, mas na quinas das mesas, em frente às telas frias de um computador. Estamos evoluindo... Ou não!
Por Cris Vaccarezza

Naquele momento

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Naquele momento, através da janela escancarada, via a cidade que adormecia por trás da gigantesca arena de concreto que se erguia em direção ao céu. Se punha entre eles. As luzes fortes dos refletores da obra que não parava de dia à madrugada, ofuscavam sua visão.
Estava ali para dançar, mas não dançava. Apesar de ter ido a uma festa, sua alma permanecia parcialmente enlutada. Queria mesmo era poder encontrá-lo, ainda que no breve instante de um único abraço.
Da janela tentava sentir no ar o perfume dele. Tentava adivinhar onde estaria ele naquele exato momento.  Acompanhava com os olhos o movimento dos carros ao longe, tentando encontrar qualquer vestígio dele, em meio à multidão. Saudade não tem peso, mas oprime o peito de um jeito, que a gente quase não respira...
Sabia que ele estaria recluso em algum canto silencioso da cidade. Imerso em sua dor. Sabia que nada poderia ajudá-lo naquela hora. Estava sozinho, distante, quieto. Calado... Geminianos quando sofrem, costumam calar-se, afastar-se. Curtir seu luto, elaborar sua perda. E que só quando se recuperasse, ela o veria de novo.
Sentia vontade de abracá-lo, e roubar do seu coração, um pedaço se sua dor, aliviar, dividir. De colocar com um beijo, um curativo que fizesse sarar o machucado em seu peito. Pessoas são jóias raras, emprestadas. Difícil desapegar quando necessário devolver.
Ali, naquele momento, ao mesmo tempo tão perto dele e tão distante, só uma prece poderia ajudar. Mesmo com o som nas alturas, seu pensamento voou ao céu para perto do Criador, pedindo em oração, um anjo que o abraçasse, em seu lugar, mitigando a sua dor.
Fica com Deus, meu anjo. Amor estranho que chegou sem pressa e partiu, sem nunca deixar de ficar.
Por Cris Vaccarezza

Seu dia vai chegar, ah se vai!

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Depois de tanto tempo, sentia que estava chegando a hora. Ela tinha essa certeza, mas não sabia ao certo quando chegaria. O coração acelerava, e ela sussurrava para ele, acalma! Ainda não chegou o momento. No momento certo, você saberá! Está próximo... Falta pouco. Eu aguento um pouco mais.
Pressentia que estava perto. Mas ainda não sabia ao certo que atitude tomar. Fez o que fizera sempre, tocou sua vida em frente. Foi trabalhar. O trabalho é sempre o melhor passatempo para se aguardar uma hora que não tarda a chegar.
Por Cris Vaccarezza

A superexposição nossa de cada dia.

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Acho muito triste essa mania que nós seres humanos temos de sair rotulando tudo, julgando tudo, medindo tudo. Semana passada foi a paulista que criticou os nordestinos. Se ela errou, revidar o erro não vai ajudar em nada na mudança. A pessoa já foi socialmente punida, a justiça já lhe deu a sentença. Expor sua vida, divulgar suas fotos na internet com frases revanchistas vai nos tornar melhores que ela? Vai apagar os ofensas que ela publicou contra os nordestinos? Será que essa coisa do perdão não está sendo negligenciada demais nos tempor modernos não? Será que esse grito de QUEREMOS JUSTIÇA! Não poderia ser trocado para QUEREMOS VINGANÇA sem prejuízo do sentido da frase? Não seria esse também um linchamento moral?
Carolina Diekman, após ter sido chantageada por hackers que invadiram seu e-mail, também foi vítima de linchamento moral por pseudo moralistas,  que queriam criticar a morosidade da polícia nos casos corriqueiros, que queriam por outro lado, criticar  a rapidez das investigações por se tratar de uma celebridade, queriam criticar o fato de ela ter em seu computador fotos sensuais, que queriam criticar... E quem nesse mundo narcisista nunca apontou para o espelho e fez caras, bocas e poses sensuais para se imaginar sem ou com pouca roupa? Quem entregaria agora tranquilamente, seu computador pessoal para manutenção em empresa que não fosse idônea?
Agora, a bola da vez é a Xuxa e seu depoimento no Fantástico. Se foi pra dar Ibope, se foi verdadeiro e sentido, se foi excesso de exposição, o que importa? Se era pra dar Ibope, o objetivo foi alcançado, não é? Visto que, não se fala em putra coisa! Se foi real, foi uma escolha dela falar, não conhecemos a verdade, jamais conheceremos, Não nos cabe julgar. E se foi excesso de exposição, mas o que é que nós estamos fazendo aqui no Facebook todos os dias, se não nos expondo em rede nacional? Mas isso
Na minha humilde opinião, o depoimento foi feito, o Ibope alcançado, o desabafo/exposição publicado e daí? Isso realmente importa? Importa que tem um monte de gente que está precisando de comida nesse momento, importa que tem gente precisando de doação de órgãos pra salvar uma vida, importa que tem gente precisando de sangue pra ir pra uma sala de cirurgia. Importa que tem muita criança sendo abandonada, outras vivendo em orfanatos no abandono, outras sendo jogadas nas latas do lixo. Importa que tem um bando de jovens se envolvendo com drogas, destruindo a sua vida e a dos outros num impuso. Importa que tem gente roubando os nossos suados importos enquanto a saúde e a educação estão às moscas. Isso realmente importa. E outras e outras tantas coisas de relevância que são realmente importantes, mas que nós preferimos fazer de conta que não existem pra continuar tomando conta da vida da Xuxa, da Sandy, da Carolina Dieckman, da mulher pera, da candidata a santa ou da periguete.
Relembrando mais uma vez, Jesus Cristo, o único entre nós seres humanos que era reto de caráter e tinha elevação moral pra julgar alguém e não o fez. Aquele a quem todo mundo clama nas horas difícieis (inclusive os ateus): "Quem estiver sem pecados, que atire a primeira pedra!" " mulher, onde estão os que te julgavam?(...) Nem eu te condeno" Pronto falei!
Por Cris Vaccarezza

Reciprodidade

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Aí, de repente, até eu me pergunto: Vem cá, de verdade, o que é que você espera nesse mar revolto dos relacionamentos? Nesse mercado tão inflacionado dos solteiros? Beleza, amor, pegada, química? E então a resposta vem assim, sem mais: Reciprocidade!
É, reciprocidade. Eu quero querer alguém que me queira. Não basta eu querer alguém que não me quer, nem alguém me querer, sem que eu o queira de volta. Há que ir e voltar. Tem que ter reciprocidade. Eu não quero nada disso de alguém que me quer, mas também quer todo mundo. Que nivela pela anatomia, pelo comprimento dos cabelos, pelo tom da voz. Que acha todo mundo igual. Não quero essa coisa pós modernista de "eu sou de todo mundo e todo mundo é meu também!". Eu não sou de todo mundo. Eu não sou todo mundo. Eu não quero todo mundo. Quero um alguém só.
Não concordo com essa história de é todo mundo igual. Eu não sou igual. Sou pior que muita gente. Mas igual? Não sou igual a ninguém. Minhas digitais são únicas.
Não sou uma coisa, que se plastifique igual, que se possa produzir em série. Sou fruto das experiencias que vivi, das vivências que tive. Como você tem experiências que são exclusivamente suas. Conhece coisas que são inerentes a você e que ninguém nesse mundo conseguirá mimetizar, imitar, por melhor que seja o ator. São propriedades da sua matéria. Inimitáveis, inigualáveis. É necessário conhecer o indivíduo. Não dá pra copiar.
Quero distância dessa coisa de ser mais uma. Eu não sou mais uma. Eu sou eu. Quero fazer a diferença na vida de alguém. E nesse mundo tão diverso, deve ter alguém que busca alguém exatamente como eu. Do mesmo jeito que eu busco alguém, que queira alguém como eu. Não se trata de se sentir melhor que os outros. É aquela coisa de individualidade. De ser individual. Cada ser é único.
É por isso que eu não quero qualquer um, e também não vai ser qualquer um que será capaz de compreender a minha dualidade e respeitá-la. Não sendo assim, prefiro estar só. Não ter que me esforçar para agradar a alguém que não sabe exatamente o que quer, que se contenta com qualquer um. Se eu me contento com qualquer um, eu não quero nada em especial. Eu não quero nada. Assim, não vai ser eu, ou qualquer um que vai satisfazer as suas necessidades.
É preciso saber primeiro o que se quer, para poder valorizar o que se encontra. Mas se o outro não sabe o que quer, tanto faz... Ou não é?
Por Cris Vaccarezza

Reflexoes avulsas - Saudade

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Eita! Que se saudade tivesse nome era o seu. Se tivesse rosto, era o seu. Se tivesse cheiro, adivinha? Claro que era o seu! Eita, amor, se saudade matasse...eu hoje já estaria com as horas contadas!
Ás vezes uma semana é tempo demais!
Por Cris Vaccarezza

À sua imagem e semelhança

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Observo divertida como às vezes vivemos de imagem. Frases como: "uma imagem fala mais que mil palavras", é levada ao pé da letra em nossa sociedade consumista e civilizada. Pessoas se esforçam para ser aceitos, para parecer aptos, para se encaixar numa imagem, num padrão. Socialmente, temos já definidos alguns estereótipos bem típicos, baseado no que algumas pessoas vestem, nos ambientes que frequentam, nos grupos sócias com os quais anda. Quem não se enquadra no perfil é tido como páreas sociais. Profissionalmente, também é assim.
A idéia que as pessoas fazem de um dentista por exemplo, como um ser sádico e perverso. Da dentista como sendo aquela mulher estilosa que está sempre elegantemente arrumada. As enfermeiras se queixam de terem ficado estigmatizadas como sexies, as fantasias de enfermeira mexem com o imaginário masculino, mas desagradam algumas profissionais.
O advogado é tido como aquele ser letrado, que vive diuturnamente, de terno e gravata, como se a roupa sócial já estivesse tatuada ao corpo. Entre os médicos também há o estereotipo do profissional bem sucedido que desfila de jaleco branco pelos corredores dos hospitais. O status é tamanho, que jaleco branco virou grife.
As afirmações acima, também são mera generalização, baseadas numa imagem da maioria. Toda generalização tende ater equivocada em alguns pontos. Evidentemente, existem médicos que se preocupam muito mais com a saúde dos pacientes do que com a própria aparência. Os advogados também vão à praia e provavelmente, não irão de terno e gravata. Assim como há dentistas, que não tem nada de sádicos e se preocupam muito com o bem estar de seus pacientes.
Atualmente, nos baseamos tanto em imagem, que criamos a personificação da periguete. Outro dia, assisti na televisão um tutorial de como ser periguete. Vivemos numa época em que a estética valoriza mulheres vestidas como se estivessem plastificadas à vácuo, com todos os atributos à mostra.
Na maioria das vezes, medimos os outros pela nossa imagem e semelhança. A partir do que nós acreditamos ser o padrão de correto e incorreto. Quantas vezes, ao entrar numa loja os vendedores te olham de cima abaixo, julgando pela aparência simples e "largada". Tentando prever se esse cliente é potencialmente lucrativo. No entanto há clientes que desafiam esse tipo limitado de vendedor, chegam simplesmente trajados e compram o produto mais caro, à vista. Enquanto há os potencialmente pomposos que fazem descer as prateleiras e no final, apenas um: "Não gostei de nada!" Nem um obrigado. Sabe qual a reação do vendedor? "Nossa! Que pessoa de bom gosto!"
Sempre torceram o nariz para o meu jeito de ser. Mas continuo sendo. Valorizo o simples. Há dias em que eu curto estar arrumada, maquiada, dentro do estilo que se espera para o status. Mas também há dias de rasteirinha, cabelo preso e cara limpa. Tem dias em que eu simplesmente não estou a fim. E saio assim mesmo. Isso não fará de mim melhor ou pior pessoa, melhor ou pior profissional. O que determina a pessoa,  é sua relação com o outro. O que determina o profissional, é o serviço que presta ao outro. Não sua imagem.
Acho que todos temos nossos dias de rasteirinha, de cabelo desgrenhado ao vento. Às vezes é preciso se desvestir dos estereótipos para enxergar melhor as pessoas. É que imagem é ilusão de óptica, é incompleta.  Imagem é fração, é instantâneo, é fragmento. Imagem muda, acaba com o tempo. Além disso, não há certo ou errado. Há sim, o adequado e o inadequado. Dependo do ponto de vista.
Mas imagem? Imagem não é nada!
Por Cris Vaccarezza

Aguardando em vão...

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Eu vivia guardando o meu roupão mais felpudo, intacto, perfumadinho no armário, para envolver o corpo do homem amado, quando ele saísse do banho quente que prepararia para ele, com todo carinho. Eu vivia guardando os lençóis mais delicados, os travesseiros mais fofinhos, os edredons mais macios, para que os sonhos do meu amor fossem dourados e doces. Para que seu sono fosse tranquilo.
Eu vivia guardando as taças do cristal mais nobre para servir o melhor vinho da adega, para deleite do meu amor. Para brindar com ele o prazer de estarmos juntos.
Vivia guardando os sais de banho mais perfumados, para ficar mergulhada entre bolhas, aconchegada ao peito do meu amor. Acenderia os incensos e as velas mais lindos. E usaria os óleos mais aromáticos, para massagear seus pés cansados, seu dorso e pescoço, e fazê-lo relaxar.
Guardava as mais novas redes e as almofadas mais fofinhas, para com ele deitar na varanda quando a chuva caísse lá fora. Guardava meus melhores beijos para o meu amor, para comemorar a chegada da lua cheia, surgindo no horizonte... Para ele guardei meus melhores sorrisos, com a intenção de iluminar-lhe os dias cansados. Guardava meu carinho para lhe dar, os mais leves toques. Até meu corpo, guardei para seu retorno, deixei na pele, a memória das suas digitais.
Mas esse homem nunca chegou. Nunca guardou de seu tempo, nenhum segundo pra mim. Não separou, de suas desculpas, uma sequer que justificasse essa ausência prolongada. Nunca lembrou de mim. Nunca se importou se eu sorria ou chorava, se eu dormia, se tinha saudade, se sentia frio ou calor. Nunca...
Então, hoje vou abrir os armários de minha alma! Vou tirar os cotovelos do peitoril da janela. Ele não vai chegar! Vou usar meu roupão felpudo para sair do banho tépido em que vou mergulhar. Vou massagear os meus pés cansados e por fim deitar na rede da varanda para ao som da noite, olhar a lua, espantando o dia que se aproxima. Depois vou deitar nos lençóis delicados, e comer morangos imersos em chantili, e vou tomar o vinho que guardei na adega, para enfim adormecer sorrindo o meu melhor sorriso.
Pois quem vive de espera e saudade, morre de amargura esperando de alguém mais do que ele pode ou quer lhe dar.
Por Cris Vaccarezza

Falso: Alternativa errada!

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Partindo do princípio de que a verdade absoluta, é absolutamente relativa. E de que é um grande equívoco se imaginar o dono da verdade, proponho novo questionamento: Se não sabemos o que é verdadeiro, como rotular algo ou alguém de falso. Antes de começar, gostaria de ressaltar que a intenção dessa discussão não é polemizar, mas prevenir injustiças desnecessárias.
Note bem, todos somos movidos por relações interpessoais. Afetos e desafetos. Às vezes, alguns de nossos afetos, são concomitantemente, desafetos de alguém. E quando esse alguém, desafeto de nosso afeto, também é nosso afeto? Seremos falsos por existir harmônicamente entre os dois? Somos obrigados a antipatizar esse ou aquele, em função da animosidade alheia? Cedo ou tarde, alguém partilhará de segredos, opiniões, observações a respeito de seu desafeto. E então, o que você, enquanto amigo comum, fará? Criará ainda mais desarmonia transmitindo adiante as opiniões de um em relação ao outro? Procurará reduzir as arestas entre os dois? Se calará? Se afastará de algum dos seus afetos? Qualquer que seja a atitude tomada, vê correrá o risco de ser taxado de falso por um ou por outro. Infelizmente, a incompreensão e o julgamento equivocado é uma constante entre nós seres humanos. Nós ainda não exercitamos suficientemente o distanciamento, uma habilidade que poderia reduzir significativamente os nossos problemas: colocar-se no lugar do outro.
Uma opção bastante sensata, diriam alguns, é se afastar dos dois desafetuosos, e deixar que resolvam entre si suas pendências. Isso até seria possível, se se tratasse de dois amigos. Mas e se esses afetos forem seus dois irmãos, seus dois filhos, seu marido ou esposa atuais e o filho da relação anterior? E se os desafetos forem os seus próprios pais, que tanto se amaram, se separaram e agora disputam a sua aprovação. O que é ser verdadeiro e sincero, num caso desse? O que é não tomar partido, ser neutro e não ser falso?
Julgar nunca é fácil. Nenhum de nós conhece toda a verdade. Nenhum de nós está apto a julgar e condenar ninguém. Mesmo o juíz que julga por ofício, procura ser o mais cauteloso e imparcial, mas sabe que é passível de erros. E em caso de dúvida, considera inocente por falta de prova em contrário.
Quem somos nós para apontar o dedo para o outro e rotulá-lo de falso? Não fomos nós também um dia, considerados falsos, por alguém que não nos compreendeu? Não fomos nos também algum dia, ainda que de forma inadvertida, faltosos com alguém? Não nos cabe julgar.
Falsidade é traição! Alguns dirão. Continuamos movidos pelo espirito da revanche, da vingança. Não há traição. Se alguém nos faz um mal, é a si mesmo que prejudica. Judas traiu Jesus. Será que traiu mesmo? Jesus era um ser magnânimo, que via o mundo com uma visão ampliada. Sabia que, por suas crenças equivocadas, por sua visão materialista, por seu temperamento belicoso, Judas se sentiria traído primeiro, por ele (Jesus), que se recusava a tomar da espada e liderar o povo Judeu numa revolta armada contra Roma, e que o entregaria às autoridades, por considerá-lo um desertor, e não o Messias de seu povo. Jesus sempre soube. Tanto que disse a Judas, sem qualquer ódio ou ressentimento: O que tendes de fazer, fazê-o logo! Por tanto, traição também é relativo. Jesus nunca o condenou.
De qualquer maneira, tendo sido traído ou não, o próprio Jesus nos recomendava: Amai os vossos inimigos. Ele nos pedia que orássemos por nossos inimigos. Isso a principio poderia ser visto como falsidade. Como orar por alguém que me feriu, por alguém que me maltratou, por alguém que me traiu? Na primeira prece, pode ser que as palavras não saiam completamente sinceras. Mas você estaria fazendo um bem maior proferindo uma prece não tão sincera, que proferindo sinceros impropérios contra os seus desafetos. Com o tempo, essas preces, te ajudarão a perceber, que aquele por quem pedes, também está imerso num mundo de ilusões onde nada é absolutamente real. Que ele também se equivoca, é imperfeito e que merece muito mais o seu perdão que o seu rancor. Isso abranda seu coração e alivia sua alma. Continuemos em prece e em breve, as palavras virão do coração.
Quando agirmos assim, a humanidade se tornará mais branda, e o mundo, um lugar melhor de se viver. Esqueçamos a falsidade como dogma ou motivo para retaliação. Nenhum de nós é puro, santo ou dono de verdade alguma. Então, estaremos buscando a verdade que nos ensinou o Cristo.
Por Cris Vaccarezza

Paixão nacional: Colocando o coração na ponta da chuteira

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Quem foi que disse que mulher não gosta de futebol? Eu gosto sim! E nao é só para observar a beleza desse ou daquele jogador. Futebol tem uma certa magia, contagiante. Ainda me surpreendo com a cara de surpresa dos meus amigos homens, quando digo isso. E digo mais, entendo um pouquinho. Dá até pra falar dos nossos assuntos, usando o bom e velho "futebolês". Podemos por exemplo, traçar um paralelo entre os mundos masculino e feminino. Uma análise do amor, tendo como base o futebol. Se não vejamos:
Hoje em dia, os relacionamentos muito se assemelham a uma final de Libertadores da América, final de brasileirão, ou qualquer grande clássico de domingo ou quarta à noite. Vivemos o clássico homens versus mulheres. Ou será mulheres versus mulheres? Sei não! Só sei que a coisa está feia. O mercado inflacionado. Tem muito jogador perna de pau por aí com o passe cotado a preço de ouro. Como se fosse craque. Tudo isso, porque craque mesmo, tá difícil de encontrar. Todos jogando na Europa, ou no outro time, enfim. O passe dos jogadores estão pela hora da morte.
Ainda assim, é dia de clássico, homens vs. mulheres. Bom seria que o jogo fosse homens e mulheres, mas hoje em dia é "versus" mesmo. Campeonato disputadíssimo.  No horário combinado, na balada, nos cinemas, nos barezinhos, as seleções entram em campo, exibindo com orgulho seus brilhantes jogadores. Seus atributos, seus dotes, desfilando arte, poder e fama nas quatro linhas.
Tem jogador de todo tipo: o artilheiro, aquele que só quer saber de fazer gol. Bobeou com ele, nada de bola na trave! Tem o jogador que faz a finta, que dribla, que parece viver só pra enganar o time adversário. Tem aquele que faz uma linda jogada, bate um bolão, mas não finaliza. E infelizmente tem aqueles que não sabem perder, que entram pra machucar, pra fazer falta, pra dar carrinho, e pior, carrinho por trás, na deslealdade! Carrinho por trás, amigo, é cartão vermelho! A regra é clara! Não tem apelação! Pegou pesado? 180 pra você! Chama o juiz, expulsa de campo! O jogo tem que ser limpo, na bola, na ponta da chuteira! Nada de violência!
Tem jogador que só sabe jogar em linha, fazer impedimento. Tem jogo mais chato que aquele que o cara fica ali cavando falta, segurando a bola e não deixa o jogo correr? Caramba! A jogada não dá pra você, seja generoso, lance a bola! Quem sabe algum amigo está em condição de dar à "gorduchinha" a condição de estrela que ela merece. Quem sabe alguém não a leva direto pro gol? Prende o jogo não, que você não é dono da bola. A bola tem que rolar. Esse é o espetáculo! Se ficar segurando, catimbando, escondendo o jogo, uma hora a bola escapole, pula a cerca ou o alambrado, cai no fosso e vai direto pros braços de algum gandula.
É então que analiso meu papel nessa escalação. Eu não sou o tipo de jogador retranqueiro, mas também não sou atacante. Daquele que entra, e rouba a bola na marra dos pés dos outros, não. Ser invasiva não é o meu forte. Acho que nessa escalação, eu seria um libero ou meio campo. Aquele que arma a jogada pra alguém se dar bem. Se eu vejo que a jogada não dá pra mim, mas dá pra alguém, toma a bola e faça o gol! Quero ver é o espetáculo! Quero ver é a torcida ferver!
Tampouco espere de mim uma postura do tipo zageuirão.  Do tipo que quer fechar o gol mais que o goleiro, que marca em cima, que não deixa o jogador respirar. Já joguei nessa posição. Hoje acho que Maria chuteira tem aos montes, ninguém é de ninguém e cada um administra seu futebol como bem entende. Quer mudar de time, fica à vontade.
É certo que meio campo, líbero não tem muito valor no mercado da bola, mas sei do meu valor. Conheço o meu futebol.  Meu negócio é ficar nos bastidores, no meio campo e fazer a bola correr. Contribuir, participar. Posso não ser o artilheiro do campeonato, mas procuro fazer as jogadas que levarão meu time ao gol. E não nasci pra ficar na reserva. Quero participar. Ou me escalam como titular, ou abrem mão do meu passe. Também não sei ficar na torcida. O negocio é servir. Ser útil. Nem que seja em um time da segunda divisão. Não precisa de holofotes. Mas de fazer o meu papel. Quem sabe assim, a regra é clara,  seguiremos batendo um bolão até o apito final. Se é que você me entende.
Por Cris Vaccarezza

De verdade, o que é a verdade?

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Ser dono da verdade? O que é a verdade? Se eu tenho a minha, você tem a sua. Quanta pretensão querer ser o dono da verdade.
Engana-se quem imagina conhecer a verdade. A verdade não é absoluta, e raramente se dá a conhecer em detalhes. É relativa, depende do ponto de vista. Infelizmente, por esse equivoco, muito já se roubou, guerreou, matou e enganou. Ironicamente, faltou com a verdade.
Se pararmos para avaliar a história da humanidade, os primitivos sacrificavam pessoas para agradar a forças da natureza que imaginavam serem deuses de verdade. Os egípcios enterravam junto com seus faraós, toda a sua fortuna e todos os seus escravos para que em ressuscitando pudessem continuar a ser servidos como verdadeiros deuses. Os gregos criaram toda uma mitologia, com semideuses ciumentos, deuses possessivos que desejavam em verdade dominar os mortais. Os romanos atiravam no Coliseu, os cristãos, dissidentes da sua verdade, para serem devorados por leões. Depois foram os cristãos, que em nome de Jesus, organizaram as cruzadas para, em nome da verdade, destruir os infiéis.
Na idade média, inocentes foram para a fogueira da Inquisição. Cientistas tiveram que se retratar, embora estivessem corretos. Guerras mundiais foram iniciadas, povos perseguidos. Judeus foram massacrados. Faixas de verdades religiosas diferentes até hoje sao adubadas com sangue. Aviões foram atirados contra prédios. Pessoas foram assassinadas, homens bomba detonados, mulheres estupradas, crianças abandonadas. Tudo em nome da verdade... De cada um.
Talvez, a mais perversa verdade de todas ainda seja a de que não somos capazes de nos compadecer com a dor do outro. Não somos capazes de conviver com a diferença. Não somos capazes de perdoar. Sempre nos julgamos com a capa da autocomiseração, enquanto apontamos ao outro o dedo do julgamento, da condenação. Quantas vezes, até hoje, quando somos atingidos pela violência, pela dor, gritamos: Justiça, quando na verdade, gostaríamos de gritar: vingança! Quantas vezes até hoje damos nossa ultima gota de sangue por tesouros que não nos trarão qualquer alento à alma. Quanta ambição por nada.
Qual é a verdade afinal? Se nos sentarmos em quatro pessoas para interpretar um mesmo texto em parábola, teremos quatro interpretações diversas. Por exemplo, a respeito da vida do próprio Cristo, só entre Mateus, Marcos, Lucas e João os autores dos evangelhos canônicos, os únicos aceitos pela maioria das denominações cristãs como legítimos, são quatro as interpretações. Então, como pretendemos conhecer toda a verdade?
A própria Bíblia,  ao contrario do que normalmente se acredita, não foi escrita por nenhum santo, mas sim por um imperador romano, daqueles que atiravam os cristãos aos leões. Seu nome era Constantino, e cansado de ver seu império dividido por verdades religiosas, se aliou à Igreja, levando os mais influentes bispos cristãos a se reunir no concílio de Niceia, fez uma compilação de escritos e instituiu uma série de informações até hoje tidas como verdades. Instituiu o Natal em vinte e cinco de Dezembro, como data de nascimento de Cristo, no mesmo período em que se comemoravam as festas pagãs do solstício de inverno, uma data comemorada por todos os povos de todas as religiões pois se tratava do nascimento do novo ciclo do sol sob a Terra. Assim, Constantino selou a paz entre romanos e cristãos com a sua verdade, que acabou de certa forma se tornando a nossa verdade.
Infelizmente, por outro lado, algumas pessoas, de posse desses conhecimentos, de verdades religiosas contraditórias, revoltam-se contra Deus e se intitulam ateus. Como se Deus fosse culpado pela nossa interpretação errônea da verdade que desconhecemos.
Somos ainda muito pequenos e ignorantes. Limitados a cinco sentidos para nos relacionar com um universo desconhecido. Dominantes que somos, de apenas dez por cento da nossa capacidade mental. Habitantes de um planetinha azul, que gira em torno de um sol de quinta categoria, iguais a zilhões de outros sistemas solares idênticos espalhados pelo cosmos. Nos arvoramos a discutir Deus. A esse respeito, nos falava Jesus, o mais adiantado dos seres que já pisou o solo terrestre. Se vos tenho falado das coisas terrenas e não me credes, como crereis se vos falar das celestiais? Não compreendemos ainda os mistérios da vida, da terra. Não dominamos ainda nem os nossos próprios instintos, a fera que há em nós às vezes nos surpreende, e pretendemos compreender Deus. Pensando nas palavras de Neil de Grasse, um cientista americano, que relembra que nós, seres humanos, somos geneticamente, apenas um por cento diferentes dos chimpanzés. Tudo o que somos, e os chimpanzés não são, está nesse um por cento de diferença. Imaginemos o que seria uma criatura um por cento de genes a mais diferentes de nós? Pensemos em quão inteligentes eles seriam. Ou são. Não seria pretensão achar que todo esse universo lá fora foi criado só para nós? Evidentemente deve haver formas de vida muito mais avançadas que a nossa, cuja existência, ainda está muito aquém do alcance da nossa verdade.
Quando formos humildes o suficiente para perceber que em verdade, nada sabemos, talvez as palavras de Cristo passem a fazer algum sentido: Conhecerás a verdade e ela vos libertará.
Por Cris Vaccarezza

De tirar o apetite!

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Eu estava num restaurante desses, tipo fast food. Sentada em uma das mesas. Calmamente desenrolava minha refeição, antes mesmo de dar a primeira mordida, escuto uma conversa de tirar a fome. Da mesa ao lado, dois rapazes, pela voz, presumidamente de uns trinta e poucos anos, conversavam entre chopps:
- Rapaz, a cada dia que passa, confio menos em mulher.
- Mulher tá f***, velho!
- O que? Meu irmão, você não acredita! Eu jurei que não ia contar, mas tinha que falar pra alguém.
- Fala cara, qual foi?
- Você sabe a Ritinha? (nome fictício, como tudo nesse blog)
- Ritinha lá do escritório? Sei!
- Pois é, o que é que você acha dela?
- Rapaz, daquela mulher ali ninguém tem nada a dizer não. A mulher é casada, toda comportada, séria. Só fala do marido, só vive pra a família. Ninguém vê em balada, nem nas festas da empresa ela vai. Só sai se for com a família. Conheço o marido dela.
- É, né? Pois é, tô pegando!
- Como é rapaz? Oxi, duvido velho!
- Pois eu lhe mostro aqui as mensagens dela. - E sacou o celular. Eu o ouvia digitando rapidamente, como se procurasse algo, diante do silêncio espantado do amigo.
- Caraca, mano! A mulher escreveu que está apaixonada! Apaixonada, brother! Eu não acredito.
- Pois é, cara! E agora não sei como é que me saio dessa roubada. A mulher colou!
- Sai fora mano, o marido dela é manso, mas nem tanto!
- E você acha que eu não já tentei? Já falei, que é melhor dar um tempo e tal. Mas a mulher tá falando em divórcio cara!
- Iiiiiixe, aí pegou!
Não tive dúvidas, enrolei novamente meu sanduíche, e resolvi ir comer em casa. Aquela conversa me dava náuseas. Nem olhei pra a cara dos sujeitos. Afinal, eu não tenho nada a ver com a história. Vai que isso acaba em tragédia, e lá vou eu ter que testemunhar? Infelizmente, por mais que eu tentasse, a conversa não me saia da cabeça. Era mano pra lá, cara pra cá e a reputação da pobre da Ritinha no meio, que nem bola de ping pong. Indo por água abaixo.
Mas o que leva um cara a fazer um negócio desses? Gente, não se trata de sexismo, de prejulgamento, mas tem coisas que carecem de discussão. Era de um ser humano, de sentimentos, que se falava ali naquela mesa, como se fosse de um pano de chão qualquer, chafurdado na lama. Primeiro, o moço contava vantagem por ter desvirtuado, tirado da reta, uma mulher casada. Segundo, não bastava pegar, tinha que contar. Ele comentava a vida dela com alguém. Já não era um segredo de dois, mas de três. Futuramente seria de quatro, e a seguir, quem sabe de domínio público. Terceiro, achava brutal o fato de ela ter se deixado envolver. Quarto, satisfeito, ele queria sair de fininho da situação, como se nada tivesse acontecido. E por último, o sujeito ainda dizer que não acredita mais em mulheres?
Me pergunto qual é a grande surpresa em ver uma mulher, ser naturalmente sonhador, estando dentro de um relacionamento rotineiro e pouco estimulante, ser seduzida pela lábia sempre muito bem articulada de um cafajeste. Normalmente, já que nada é absoluto, mulher não trai por prazer. Trai porque se apaixona. Agora vá entender: A pobre diaba está lá no inferno do casamento dela, quietinha, infeliz, com a autoestima em frangalhos, sem beijar na boca há um tempão e sem um pingo de romantismo. Mas ela é honesta, está lá, segurando a onda. Chega o gostosão, vendendo a imagem de príncipe encantado, que vai libertá-la do dragão e não quer que a criatura caia? Ah, valha me Deus! Que é isso? Se não for covardia, eu não sei mais o que é? Hoje em dia, homem não bate em mulher, isso dá cadeia. Atualmente, eles a torturam emocionalmente. Não sei o que é pior. Vai brigar com alguém do seu tamanho! Por que ele não vai seduzir alguém com um caráter similar ao dele?
Será que esse moço em momento algum pensou, com a cabeça destinada a esse fim, nas pessoas envolvidas nessa questão? E se essa mulher tem filhos? E se esse marido descobre? E se ele mata essa mulher? E se essa mulher se mata? E se nada disso acontecer, pelo andar da carruagem, alguém vai se machucar. Muito ou pouco, alguém vai perder. Alguém vai chorar. Será que ele já pensou no custo dessa lágrima? Quem vai pagar?
O mais emocionante, é que ele agora se sente a vítima da paixão dela, e mais, incapaz de confiar nas mulheres. Paradoxal! Resumo da ópera: A moça se apaixonou, meu sanduíche esfriou, perdi meu apetite, e um puco da minha fé na humanidade. Sinceramente? Não sei onde isso vai parar... Repito mais uma vez: Tudo o que um homem inventa, as mulheres aperfeiçoam. Quero é ver quando essas lágrimas secarem, e as mulheres aprenderem a jogar.
Por Cris Vaccarezza


Escrever, sinônimo de existir

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Desde sempre, escrever foi algo natural. Inclusive, uma preferência à fala. Como se distingue claramente quem é canhoto e destro. Mais que isso, escrevo por prazer, porque alivia a alma. Escrever é terapia também. Escrevendo, revisto o passado, reescrevo em forma de poesia. Entendo, registro, aprendo, reedito. Minha inexperiência me deixou trilhar descalça, por caminhos que cansaram meus pés. Nas  pedras em que topei, gostaria que mais ninguém precisasse praguejar. Fiz um curso intensivo de vida, queria que fosse útil. Pay it forward - Passe Adiante. Por outro lado, penso: Mas tem que caminhar, tropeçar, praguejar, faz parte do amadurecer a termo.
É por isso que escrevo. Porque o que as pessoas não contam, eu quero contar. Quero contar que erro. Que sou humana, imperfeita, às vezes inexperiente, estabanada e por vezes ainda imatura. Adulta, mas também uma criança. Alguém que de vez em quando quer colo, um abraço, um cafuné. É que depois que a gente cresce, raramente encontra um abraço sincero, de afeto que te faça se sentir protegido do mundo, sem segundas intenções. Todo mundo precisa se sentir protegido do mundo. Quem vai te proteger do mundo, depois desse parto abrupto e tardio?
Permitam, por favor que eu escreva minhas amenidades, só para minha alma inquieta se sentir saciada. Escrevo para registrar o que aqui vi e vivi. Escrevo, para que minha memória não se apague com o passar do tempo e eu acabe esquecendo de cada tropeço, de cada recomeço. Escrevo para deixar marcado as emoções que senti, que sentiram, que me fizeram sentir. Escrevo porque o papel tem uma memória melhor que a minha.
Escrevo, porque se alguém resolver ler, terá a possibilidade de, a partir dos meus sentimentos, traçar uma trajetória diferente da minha, ou não... Escrevo para que as mães e pais, mesmo amando muito os filhos, saibam que eles são do mundo, não seus. Eduquemos nossos filhos para o mundo, pois como tudo na vida, nós também passaremos.
Por Cris Vaccarezza

Imatura idade

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Normalmente supomos que uma pessoa tenha a maturidade compatível com a idade cronológica. E à medida que o tempo passa, as pessoas exigem que se demonstre experiência, vivência, astúcia. Mas isso não é regra. Não quando se foi amado demais. Quem foi protegido demais, poupado demais, tropeçou pouco, aprendeu pouco. Pássaro criado em gaiola, se posto em liberdade, tarda a aprender a voar. O cativeiro deixa suas marcas. É que asas demoram a crescer. Tropeçar é parte do processo, e te impulsiona pra frente. Às vezes, é caindo do desfiladeiro, que se aprende a voar... ou não.
Amar um filho em demasia e querer protegê-lo do mundo pode ter um efeito inverso. Às vezes, por medo de perdê-lo, o mantemos sob a nossa asa, em nossa bolsa, como se ainda fosse possível gestá-lo, como se não fosse preciso pari-lo. Dar à luz. Como se pudéssemos conservá-lo no calor de nossas entranhas para sempre. Mas não é. Cedo ou tarde, a vida nos exige seu filho. Filho dela, da vida. Como dizia Khalil Gibran, somos filhos da ânsia da vida por si mesma. Aí, de repente, o bebê de idade avançada acaba sendo arremessado do útero, direto para o caos urbano.
Quem não aprende cedo a viver, mais tarde enfrentará o ônus da maturidade incipiente, aquém da que se espera para a idade. Uma ingenuidade tardia. Feito fruta verde, que enfiada às pressas nos armários abafados, tem de amadurecer. Infelizmente, assim a fruta que tem de amadurecer, tende a apodrecer, com o perdão do trocadilho. Fruta só dá no tempo. Maturidade expressa, não garante um sabor natural. Fica sempre um deves pelo meio, fica sempre um amarguinho, travando no final. Só que ninguém tem culpa de amar demais um filho. E normalmente, a gente ama demais...
Quando pequena, não convivia muito com gente, convivia mais com livros. Eram os meus mais frequente amigos. Acostumei-me à ideia de que além da companhia, do passatempo, todo conhecimento, encontraria nos livros, mas essa não era toda a verdade. Nunca aprendi nos livros, a lidar com gente, com o amor, com abandono, com o dissimular, com a perda repentina. Minha relação com os livros, não me preparou para lidar com o outro. Nunca aprendi a suspeitar.
Foi na prática, mais especificamente, no poker, que descobri uma das mais interessantes práticas da vida: "The poker face". A cara de quem blefa. De quem parece ter a jogada perfeita. Você olha e imagina que o cara tem um Royal Straight Flush. Intimidado, você desiste, nem paga pra ver. Baixa a guarda. E ele tinha na mão apenas, uma dupla de três, um ás, um quatro e um rei, ou seja nada! Blefe. Cortina de fumaça. Dom de ilusionista. Muito da imagem de algumas pessoas é jogo de cena. É o inconfessável, é o que elas escondem. Blefam e simulam muito bem. Então você compra a imagem, se intimida e desiste da mão. Mas era somente uma dupla, e três cartas, sem qualquer valor. Nem uma sequência era... E você, com a sua quadra de ases na mão, desistiu, não pagou pra ver. Perdeu tudo. É uma defesa delas. Crie as suas. Jogo de cintura só se aprende com o tempo. E maturidade, com as quedas da vida.
Por Cris Vaccarezza
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