De tirar o apetite!

Eu estava num restaurante desses, tipo fast food. Sentada em uma das mesas. Calmamente desenrolava minha refeição, antes mesmo de dar a primeira mordida, escuto uma conversa de tirar a fome. Da mesa ao lado, dois rapazes, pela voz, presumidamente de uns trinta e poucos anos, conversavam entre chopps:
- Rapaz, a cada dia que passa, confio menos em mulher.
- Mulher tá f***, velho!
- O que? Meu irmão, você não acredita! Eu jurei que não ia contar, mas tinha que falar pra alguém.
- Fala cara, qual foi?
- Você sabe a Ritinha? (nome fictício, como tudo nesse blog)
- Ritinha lá do escritório? Sei!
- Pois é, o que é que você acha dela?
- Rapaz, daquela mulher ali ninguém tem nada a dizer não. A mulher é casada, toda comportada, séria. Só fala do marido, só vive pra a família. Ninguém vê em balada, nem nas festas da empresa ela vai. Só sai se for com a família. Conheço o marido dela.
- É, né? Pois é, tô pegando!
- Como é rapaz? Oxi, duvido velho!
- Pois eu lhe mostro aqui as mensagens dela. - E sacou o celular. Eu o ouvia digitando rapidamente, como se procurasse algo, diante do silêncio espantado do amigo.
- Caraca, mano! A mulher escreveu que está apaixonada! Apaixonada, brother! Eu não acredito.
- Pois é, cara! E agora não sei como é que me saio dessa roubada. A mulher colou!
- Sai fora mano, o marido dela é manso, mas nem tanto!
- E você acha que eu não já tentei? Já falei, que é melhor dar um tempo e tal. Mas a mulher tá falando em divórcio cara!
- Iiiiiixe, aí pegou!
Não tive dúvidas, enrolei novamente meu sanduíche, e resolvi ir comer em casa. Aquela conversa me dava náuseas. Nem olhei pra a cara dos sujeitos. Afinal, eu não tenho nada a ver com a história. Vai que isso acaba em tragédia, e lá vou eu ter que testemunhar? Infelizmente, por mais que eu tentasse, a conversa não me saia da cabeça. Era mano pra lá, cara pra cá e a reputação da pobre da Ritinha no meio, que nem bola de ping pong. Indo por água abaixo.
Mas o que leva um cara a fazer um negócio desses? Gente, não se trata de sexismo, de prejulgamento, mas tem coisas que carecem de discussão. Era de um ser humano, de sentimentos, que se falava ali naquela mesa, como se fosse de um pano de chão qualquer, chafurdado na lama. Primeiro, o moço contava vantagem por ter desvirtuado, tirado da reta, uma mulher casada. Segundo, não bastava pegar, tinha que contar. Ele comentava a vida dela com alguém. Já não era um segredo de dois, mas de três. Futuramente seria de quatro, e a seguir, quem sabe de domínio público. Terceiro, achava brutal o fato de ela ter se deixado envolver. Quarto, satisfeito, ele queria sair de fininho da situação, como se nada tivesse acontecido. E por último, o sujeito ainda dizer que não acredita mais em mulheres?
Me pergunto qual é a grande surpresa em ver uma mulher, ser naturalmente sonhador, estando dentro de um relacionamento rotineiro e pouco estimulante, ser seduzida pela lábia sempre muito bem articulada de um cafajeste. Normalmente, já que nada é absoluto, mulher não trai por prazer. Trai porque se apaixona. Agora vá entender: A pobre diaba está lá no inferno do casamento dela, quietinha, infeliz, com a autoestima em frangalhos, sem beijar na boca há um tempão e sem um pingo de romantismo. Mas ela é honesta, está lá, segurando a onda. Chega o gostosão, vendendo a imagem de príncipe encantado, que vai libertá-la do dragão e não quer que a criatura caia? Ah, valha me Deus! Que é isso? Se não for covardia, eu não sei mais o que é? Hoje em dia, homem não bate em mulher, isso dá cadeia. Atualmente, eles a torturam emocionalmente. Não sei o que é pior. Vai brigar com alguém do seu tamanho! Por que ele não vai seduzir alguém com um caráter similar ao dele?
Será que esse moço em momento algum pensou, com a cabeça destinada a esse fim, nas pessoas envolvidas nessa questão? E se essa mulher tem filhos? E se esse marido descobre? E se ele mata essa mulher? E se essa mulher se mata? E se nada disso acontecer, pelo andar da carruagem, alguém vai se machucar. Muito ou pouco, alguém vai perder. Alguém vai chorar. Será que ele já pensou no custo dessa lágrima? Quem vai pagar?
O mais emocionante, é que ele agora se sente a vítima da paixão dela, e mais, incapaz de confiar nas mulheres. Paradoxal! Resumo da ópera: A moça se apaixonou, meu sanduíche esfriou, perdi meu apetite, e um puco da minha fé na humanidade. Sinceramente? Não sei onde isso vai parar... Repito mais uma vez: Tudo o que um homem inventa, as mulheres aperfeiçoam. Quero é ver quando essas lágrimas secarem, e as mulheres aprenderem a jogar.
Por Cris Vaccarezza


0 comentários :

Related Posts Plugin for WordPress, Blogger...