De verdade, o que é a verdade?

Ser dono da verdade? O que é a verdade? Se eu tenho a minha, você tem a sua. Quanta pretensão querer ser o dono da verdade.
Engana-se quem imagina conhecer a verdade. A verdade não é absoluta, e raramente se dá a conhecer em detalhes. É relativa, depende do ponto de vista. Infelizmente, por esse equivoco, muito já se roubou, guerreou, matou e enganou. Ironicamente, faltou com a verdade.
Se pararmos para avaliar a história da humanidade, os primitivos sacrificavam pessoas para agradar a forças da natureza que imaginavam serem deuses de verdade. Os egípcios enterravam junto com seus faraós, toda a sua fortuna e todos os seus escravos para que em ressuscitando pudessem continuar a ser servidos como verdadeiros deuses. Os gregos criaram toda uma mitologia, com semideuses ciumentos, deuses possessivos que desejavam em verdade dominar os mortais. Os romanos atiravam no Coliseu, os cristãos, dissidentes da sua verdade, para serem devorados por leões. Depois foram os cristãos, que em nome de Jesus, organizaram as cruzadas para, em nome da verdade, destruir os infiéis.
Na idade média, inocentes foram para a fogueira da Inquisição. Cientistas tiveram que se retratar, embora estivessem corretos. Guerras mundiais foram iniciadas, povos perseguidos. Judeus foram massacrados. Faixas de verdades religiosas diferentes até hoje sao adubadas com sangue. Aviões foram atirados contra prédios. Pessoas foram assassinadas, homens bomba detonados, mulheres estupradas, crianças abandonadas. Tudo em nome da verdade... De cada um.
Talvez, a mais perversa verdade de todas ainda seja a de que não somos capazes de nos compadecer com a dor do outro. Não somos capazes de conviver com a diferença. Não somos capazes de perdoar. Sempre nos julgamos com a capa da autocomiseração, enquanto apontamos ao outro o dedo do julgamento, da condenação. Quantas vezes, até hoje, quando somos atingidos pela violência, pela dor, gritamos: Justiça, quando na verdade, gostaríamos de gritar: vingança! Quantas vezes até hoje damos nossa ultima gota de sangue por tesouros que não nos trarão qualquer alento à alma. Quanta ambição por nada.
Qual é a verdade afinal? Se nos sentarmos em quatro pessoas para interpretar um mesmo texto em parábola, teremos quatro interpretações diversas. Por exemplo, a respeito da vida do próprio Cristo, só entre Mateus, Marcos, Lucas e João os autores dos evangelhos canônicos, os únicos aceitos pela maioria das denominações cristãs como legítimos, são quatro as interpretações. Então, como pretendemos conhecer toda a verdade?
A própria Bíblia,  ao contrario do que normalmente se acredita, não foi escrita por nenhum santo, mas sim por um imperador romano, daqueles que atiravam os cristãos aos leões. Seu nome era Constantino, e cansado de ver seu império dividido por verdades religiosas, se aliou à Igreja, levando os mais influentes bispos cristãos a se reunir no concílio de Niceia, fez uma compilação de escritos e instituiu uma série de informações até hoje tidas como verdades. Instituiu o Natal em vinte e cinco de Dezembro, como data de nascimento de Cristo, no mesmo período em que se comemoravam as festas pagãs do solstício de inverno, uma data comemorada por todos os povos de todas as religiões pois se tratava do nascimento do novo ciclo do sol sob a Terra. Assim, Constantino selou a paz entre romanos e cristãos com a sua verdade, que acabou de certa forma se tornando a nossa verdade.
Infelizmente, por outro lado, algumas pessoas, de posse desses conhecimentos, de verdades religiosas contraditórias, revoltam-se contra Deus e se intitulam ateus. Como se Deus fosse culpado pela nossa interpretação errônea da verdade que desconhecemos.
Somos ainda muito pequenos e ignorantes. Limitados a cinco sentidos para nos relacionar com um universo desconhecido. Dominantes que somos, de apenas dez por cento da nossa capacidade mental. Habitantes de um planetinha azul, que gira em torno de um sol de quinta categoria, iguais a zilhões de outros sistemas solares idênticos espalhados pelo cosmos. Nos arvoramos a discutir Deus. A esse respeito, nos falava Jesus, o mais adiantado dos seres que já pisou o solo terrestre. Se vos tenho falado das coisas terrenas e não me credes, como crereis se vos falar das celestiais? Não compreendemos ainda os mistérios da vida, da terra. Não dominamos ainda nem os nossos próprios instintos, a fera que há em nós às vezes nos surpreende, e pretendemos compreender Deus. Pensando nas palavras de Neil de Grasse, um cientista americano, que relembra que nós, seres humanos, somos geneticamente, apenas um por cento diferentes dos chimpanzés. Tudo o que somos, e os chimpanzés não são, está nesse um por cento de diferença. Imaginemos o que seria uma criatura um por cento de genes a mais diferentes de nós? Pensemos em quão inteligentes eles seriam. Ou são. Não seria pretensão achar que todo esse universo lá fora foi criado só para nós? Evidentemente deve haver formas de vida muito mais avançadas que a nossa, cuja existência, ainda está muito aquém do alcance da nossa verdade.
Quando formos humildes o suficiente para perceber que em verdade, nada sabemos, talvez as palavras de Cristo passem a fazer algum sentido: Conhecerás a verdade e ela vos libertará.
Por Cris Vaccarezza

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