Falso: Alternativa errada!

Partindo do princípio de que a verdade absoluta, é absolutamente relativa. E de que é um grande equívoco se imaginar o dono da verdade, proponho novo questionamento: Se não sabemos o que é verdadeiro, como rotular algo ou alguém de falso. Antes de começar, gostaria de ressaltar que a intenção dessa discussão não é polemizar, mas prevenir injustiças desnecessárias.
Note bem, todos somos movidos por relações interpessoais. Afetos e desafetos. Às vezes, alguns de nossos afetos, são concomitantemente, desafetos de alguém. E quando esse alguém, desafeto de nosso afeto, também é nosso afeto? Seremos falsos por existir harmônicamente entre os dois? Somos obrigados a antipatizar esse ou aquele, em função da animosidade alheia? Cedo ou tarde, alguém partilhará de segredos, opiniões, observações a respeito de seu desafeto. E então, o que você, enquanto amigo comum, fará? Criará ainda mais desarmonia transmitindo adiante as opiniões de um em relação ao outro? Procurará reduzir as arestas entre os dois? Se calará? Se afastará de algum dos seus afetos? Qualquer que seja a atitude tomada, vê correrá o risco de ser taxado de falso por um ou por outro. Infelizmente, a incompreensão e o julgamento equivocado é uma constante entre nós seres humanos. Nós ainda não exercitamos suficientemente o distanciamento, uma habilidade que poderia reduzir significativamente os nossos problemas: colocar-se no lugar do outro.
Uma opção bastante sensata, diriam alguns, é se afastar dos dois desafetuosos, e deixar que resolvam entre si suas pendências. Isso até seria possível, se se tratasse de dois amigos. Mas e se esses afetos forem seus dois irmãos, seus dois filhos, seu marido ou esposa atuais e o filho da relação anterior? E se os desafetos forem os seus próprios pais, que tanto se amaram, se separaram e agora disputam a sua aprovação. O que é ser verdadeiro e sincero, num caso desse? O que é não tomar partido, ser neutro e não ser falso?
Julgar nunca é fácil. Nenhum de nós conhece toda a verdade. Nenhum de nós está apto a julgar e condenar ninguém. Mesmo o juíz que julga por ofício, procura ser o mais cauteloso e imparcial, mas sabe que é passível de erros. E em caso de dúvida, considera inocente por falta de prova em contrário.
Quem somos nós para apontar o dedo para o outro e rotulá-lo de falso? Não fomos nós também um dia, considerados falsos, por alguém que não nos compreendeu? Não fomos nos também algum dia, ainda que de forma inadvertida, faltosos com alguém? Não nos cabe julgar.
Falsidade é traição! Alguns dirão. Continuamos movidos pelo espirito da revanche, da vingança. Não há traição. Se alguém nos faz um mal, é a si mesmo que prejudica. Judas traiu Jesus. Será que traiu mesmo? Jesus era um ser magnânimo, que via o mundo com uma visão ampliada. Sabia que, por suas crenças equivocadas, por sua visão materialista, por seu temperamento belicoso, Judas se sentiria traído primeiro, por ele (Jesus), que se recusava a tomar da espada e liderar o povo Judeu numa revolta armada contra Roma, e que o entregaria às autoridades, por considerá-lo um desertor, e não o Messias de seu povo. Jesus sempre soube. Tanto que disse a Judas, sem qualquer ódio ou ressentimento: O que tendes de fazer, fazê-o logo! Por tanto, traição também é relativo. Jesus nunca o condenou.
De qualquer maneira, tendo sido traído ou não, o próprio Jesus nos recomendava: Amai os vossos inimigos. Ele nos pedia que orássemos por nossos inimigos. Isso a principio poderia ser visto como falsidade. Como orar por alguém que me feriu, por alguém que me maltratou, por alguém que me traiu? Na primeira prece, pode ser que as palavras não saiam completamente sinceras. Mas você estaria fazendo um bem maior proferindo uma prece não tão sincera, que proferindo sinceros impropérios contra os seus desafetos. Com o tempo, essas preces, te ajudarão a perceber, que aquele por quem pedes, também está imerso num mundo de ilusões onde nada é absolutamente real. Que ele também se equivoca, é imperfeito e que merece muito mais o seu perdão que o seu rancor. Isso abranda seu coração e alivia sua alma. Continuemos em prece e em breve, as palavras virão do coração.
Quando agirmos assim, a humanidade se tornará mais branda, e o mundo, um lugar melhor de se viver. Esqueçamos a falsidade como dogma ou motivo para retaliação. Nenhum de nós é puro, santo ou dono de verdade alguma. Então, estaremos buscando a verdade que nos ensinou o Cristo.
Por Cris Vaccarezza

0 comentários :

Related Posts Plugin for WordPress, Blogger...