Aguardando em vão...

Eu vivia guardando o meu roupão mais felpudo, intacto, perfumadinho no armário, para envolver o corpo do homem amado, quando ele saísse do banho quente que prepararia para ele, com todo carinho. Eu vivia guardando os lençóis mais delicados, os travesseiros mais fofinhos, os edredons mais macios, para que os sonhos do meu amor fossem dourados e doces. Para que seu sono fosse tranquilo.
Eu vivia guardando as taças do cristal mais nobre para servir o melhor vinho da adega, para deleite do meu amor. Para brindar com ele o prazer de estarmos juntos.
Vivia guardando os sais de banho mais perfumados, para ficar mergulhada entre bolhas, aconchegada ao peito do meu amor. Acenderia os incensos e as velas mais lindos. E usaria os óleos mais aromáticos, para massagear seus pés cansados, seu dorso e pescoço, e fazê-lo relaxar.
Guardava as mais novas redes e as almofadas mais fofinhas, para com ele deitar na varanda quando a chuva caísse lá fora. Guardava meus melhores beijos para o meu amor, para comemorar a chegada da lua cheia, surgindo no horizonte... Para ele guardei meus melhores sorrisos, com a intenção de iluminar-lhe os dias cansados. Guardava meu carinho para lhe dar, os mais leves toques. Até meu corpo, guardei para seu retorno, deixei na pele, a memória das suas digitais.
Mas esse homem nunca chegou. Nunca guardou de seu tempo, nenhum segundo pra mim. Não separou, de suas desculpas, uma sequer que justificasse essa ausência prolongada. Nunca lembrou de mim. Nunca se importou se eu sorria ou chorava, se eu dormia, se tinha saudade, se sentia frio ou calor. Nunca...
Então, hoje vou abrir os armários de minha alma! Vou tirar os cotovelos do peitoril da janela. Ele não vai chegar! Vou usar meu roupão felpudo para sair do banho tépido em que vou mergulhar. Vou massagear os meus pés cansados e por fim deitar na rede da varanda para ao som da noite, olhar a lua, espantando o dia que se aproxima. Depois vou deitar nos lençóis delicados, e comer morangos imersos em chantili, e vou tomar o vinho que guardei na adega, para enfim adormecer sorrindo o meu melhor sorriso.
Pois quem vive de espera e saudade, morre de amargura esperando de alguém mais do que ele pode ou quer lhe dar.
Por Cris Vaccarezza

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