Imatura idade


Normalmente supomos que uma pessoa tenha a maturidade compatível com a idade cronológica. E à medida que o tempo passa, as pessoas exigem que se demonstre experiência, vivência, astúcia. Mas isso não é regra. Não quando se foi amado demais. Quem foi protegido demais, poupado demais, tropeçou pouco, aprendeu pouco. Pássaro criado em gaiola, se posto em liberdade, tarda a aprender a voar. O cativeiro deixa suas marcas. É que asas demoram a crescer. Tropeçar é parte do processo, e te impulsiona pra frente. Às vezes, é caindo do desfiladeiro, que se aprende a voar... ou não.
Amar um filho em demasia e querer protegê-lo do mundo pode ter um efeito inverso. Às vezes, por medo de perdê-lo, o mantemos sob a nossa asa, em nossa bolsa, como se ainda fosse possível gestá-lo, como se não fosse preciso pari-lo. Dar à luz. Como se pudéssemos conservá-lo no calor de nossas entranhas para sempre. Mas não é. Cedo ou tarde, a vida nos exige seu filho. Filho dela, da vida. Como dizia Khalil Gibran, somos filhos da ânsia da vida por si mesma. Aí, de repente, o bebê de idade avançada acaba sendo arremessado do útero, direto para o caos urbano.
Quem não aprende cedo a viver, mais tarde enfrentará o ônus da maturidade incipiente, aquém da que se espera para a idade. Uma ingenuidade tardia. Feito fruta verde, que enfiada às pressas nos armários abafados, tem de amadurecer. Infelizmente, assim a fruta que tem de amadurecer, tende a apodrecer, com o perdão do trocadilho. Fruta só dá no tempo. Maturidade expressa, não garante um sabor natural. Fica sempre um deves pelo meio, fica sempre um amarguinho, travando no final. Só que ninguém tem culpa de amar demais um filho. E normalmente, a gente ama demais...
Quando pequena, não convivia muito com gente, convivia mais com livros. Eram os meus mais frequente amigos. Acostumei-me à ideia de que além da companhia, do passatempo, todo conhecimento, encontraria nos livros, mas essa não era toda a verdade. Nunca aprendi nos livros, a lidar com gente, com o amor, com abandono, com o dissimular, com a perda repentina. Minha relação com os livros, não me preparou para lidar com o outro. Nunca aprendi a suspeitar.
Foi na prática, mais especificamente, no poker, que descobri uma das mais interessantes práticas da vida: "The poker face". A cara de quem blefa. De quem parece ter a jogada perfeita. Você olha e imagina que o cara tem um Royal Straight Flush. Intimidado, você desiste, nem paga pra ver. Baixa a guarda. E ele tinha na mão apenas, uma dupla de três, um ás, um quatro e um rei, ou seja nada! Blefe. Cortina de fumaça. Dom de ilusionista. Muito da imagem de algumas pessoas é jogo de cena. É o inconfessável, é o que elas escondem. Blefam e simulam muito bem. Então você compra a imagem, se intimida e desiste da mão. Mas era somente uma dupla, e três cartas, sem qualquer valor. Nem uma sequência era... E você, com a sua quadra de ases na mão, desistiu, não pagou pra ver. Perdeu tudo. É uma defesa delas. Crie as suas. Jogo de cintura só se aprende com o tempo. E maturidade, com as quedas da vida.
Por Cris Vaccarezza

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