Saudoso - Especialista em deixar saudades

De passagem pelo Facebook, mais uma vez dava uma olhadinha no perfil dele. Não resistira. Tentara, mas fora impossível. Queria notícias. Um curtir, um comentar. Alguma coisa que desse indícios de que ele estava bem. Só queria notícias. Um tantinho de nada, um contato distante. Só notícias. Sem ter que ligar. E perder a queda de braço pro orgulho ferido. Sem ter que pagar pau... Tolice! Que coisa adolescente. Passara do peso e da idade desse tipo de comportamento, mas coração tem idade? Não! E lá estava ela, fuçando o seu perfil.
Para variar, ele mesmo, pouco ou nada dissera de si ou dos outros. Sempre fora um mistério e isso enlouquecia sua curiosidade. Aguçava seus instintos. Que capacidade mimética! Ao contrario dele, que nada dissera, as meninas de seu perfil falavam muito! Postavam frases, fotomensagens, se autodenominavam seus amores, curtiam suas poucas fotos em família, comentavam, comentavam... E no final desses comentários, havia sempre um saudades e reticências. Achava que reticências era o que ela mais encontrara em seu perfil.
Constatou que o quilo de homem estava mesmo muito caro, ainda mais um homem como ele, que sabia fazer-se marcante. Um Don Juan pós moderno. Do tipo que todas se orgulhariam de ter no curricilum, por mais que as saudades apertassem depois. Um refinamento raro.
Surpreendentemente, não se sentiu traída, magoada, enciumada. Não acreditava em posses induzidas, mas em doações ou partilhas voluntárias. Riu pra si mesma aquele riso silencioso, enquanto meneava a cabeça negativamente, pensando: Nao tem jeito! Ele sabe ser ainda melhor com ausências que com a própria presença.
Sentiu-se cúmplice de cada uma daquelas mulheres, todas saudosas, todas solitárias, ansiando seu retorno, todas carpideiras chorosas, freqüentando seu perfil buscando alento para a sua dor.
No fim a saudade, que continuava a mesma, nem um milímetro menor, e a certeza de que entre os talentos que tinha aquele homem, um deles, indubitavelmente se destacava: O de saber se fazer desejável, e deixar saudades.
Os cotovelos modernos, já não doem de ralados no peitoril das janelas, mas na quinas das mesas, em frente às telas frias de um computador. Estamos evoluindo... Ou não!
Por Cris Vaccarezza

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