E o inverno chegou...

Então chegou o inverno. E eu, tô com muito frio! Nada mais nesse inverno, me aquece. É que o frio vem de dentro. Vem do coração. Invertido. Congelando tudo, de dentro pra fora. Alma, sentimentos, sangue, carne, pele. Tudo!
Antes, me diziam com frequência: "Que mãos frias! Sinal de coração quente!" Sim, meu coração era quente. Eu estava sempre lá. Era toda coração. De alguma maneira, eu queria fazer parte, sorrir, colorir, amparar, consolar... Nunca compreenderam. Cansei. Não quero mais! Agora as mãos são frias, como o resto do corpo. Gelado. Acho que morri um pouco por dentro, sem notar. O coração, de tanto calejar, já começa a endurecer...
Fruto da insensibilidade humana, fruto da minha própria imprevidência. Deixei abertas, as janelas da minha alma. Achei que não haveria mal que pudesse entrar. Não me preveni contra a friagem dos corações alheios. Adoeci de incredulidade. E agora o inverno chegou, enraizou, faz parte.
Deve ser fruto do tempo. Deixa estar. Deve ser pra que eu me torne menos doce, menos risonha de menina, e encontre a gravidade típica de mulher, que os tons prata acrescentaram ao cabelo. Não se pode destoar. Deve ser para que eu desenvolva o olhar de quem aprendeu a desconfiar. Chamam isso de amadurecer. Eu chamo de começar a definhar. 
Agora é tarde! Agora, não me importa se lá fora a chuva cai, se a nevasca adensou ou passou, se o sol algum dia vai voltar. Quero ficar aqui dentro! Quero ficar cada vez mais dentro da minha concha, da minha casa, mais em cima da minha cama, mais pertinho do meu cobertor. Ele me aquece um pouco a alma fria. Ele me conforta um tantinho a dor. Que me importa mais se o mundo gela, ou se ferve em ondas de calor? Aqui dentro é só gelo. As coisas são como são. E a frieza de algumas almas, enfim me contaminou. 
Quero ficar à distância. Não tenho mais o mesmo calor. Antes, eu era toda afeto, antes, eu queria abraçar, acolher, dar amor. Nunca compreenderam. Nunca aceitaram de peito aberto, um coração para aquecer o outro. Agora não me interessa mais. Sei que esse inverno, um dia vai passar. Quem sabe algum dia quebre o gelo? Mas por hora, mais por dentro que por fora, fica como está, congelado...Não quero mais calor!
Por Cris Vaccarezza

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