Despenteia


A lua saia agora toda nua por trás dos prédios. E a menina loba agora debruçada na sacada, olhava vida de camarote.
Percebia as coisas, agora com certo distanciamento. Contemplava sem tanta paixão. Brincava com o vento que despenteava seu cabelo. E ria, só ria! Ora, cabelos não foram mesmo feitos para despentear? Deixa que voem! Eles podem. Quem não pode é o seu coração.
Sabor doce, esse de fruta madura, sabor ideal, esse de lição compreendida. De tarefa encerrada. Dever cumprido. Madura é isso aí!
A lua estava plena agora lá no céu. Plena, como ela também se sentia. Madura. Capaz de ver, perceber, entender, avaliar. Falar? Aí depende de quem vai ouvir. Tem gente que não aceita ouvir, até que seja tarde demais. A esses, o tempo e o despentear. Faria a sua parte. Tentar, argumentar. Não ouviu? Deixa passar... Deixa o vento despentear. Tudo a seu tempo. E agora chegara a sua vez. Já remara demais. Hora de curtir a maresia no rosto, de se lambuzar na fruta adocicada, de se deixar levar.
Sabia, essa sensação não ia durar pra sempre. Nada dura! Novas demandas viriam. Mas naquele momento, dali, de camarote, tudo o que ela queria, era ver a lua navegar pelo céu, e saborear a fruta suculenta, enquanto o vento lhe bagunçava os cabelos, e ela, ria. Apenas ria...
Por Cris Vaccarezza

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