Valores: Uma novela brasileira

Há algum tempo citei em um post que eu queria ter um amor de novela, desses de fazer inveja e grudar no pensamento das pessoas. Um amor do tipo que a gente torce pra que o casal fique junto. Recentemente, recebi um comentário nesse post, que questionava o que seria um amor de novela.
Na hora, entendi o que o autor do comentário queria dizer, Já não se fazem mais novelas como antigamente. Antes, novela era um folhetim, um romance, um programinha leve, para alienados, como eu, tentarem relaxar da correria diária. Era um momento em que a família se reunia junta à mesa para assistir à TV e comentar a respeito do capítulo. Era uma história de mocinho e bandido, onde o bem sempre vencia no final. Onde o galã, conquistava a mocinha e viviam felizes para sempre. Era um faz de contas moderno. Historinha água com açúcar para aliviar as tensões após o noticiário, sempre tenso. Era.
Ao comentar um amor de novela, esqueci que os valores mudaram muito. Antiquada que sou, esqueci que já não se faze mais mocinhas, galãs e bandidos como antigamente. Hoje, a novela das oito (deixemos de lado as outras), mostra uma mocinha com valores distorcidos, que levanta a bandeira da vingança a todo preço. Mesmo a custa do seu pretenso amor de novela. Vemos uma novela onde o ódio supera o amor. É uma pena que o amor de Nina e Jorginho, que parecia ser infinitamente puro, pois começou na infância, não tenha sido forte para vencer o ódio. Quase permitindo que o público torcesse por Jorginho e Débora. Quando isso ocorre, acho que o autor se perdeu de alguma maneira, pois para mim, todo pano de fundo de uma novela, deve ser sempre um caso de amor, não de vingança ou ódio.
Novela onde a mocinha, por ser incapaz de perdoar, praticamente se iguala à vilã defende valores morais que não tem. Por outro lado, em determinados momentos, Carminha foi mais capaz de perdoar, que a própria Nina, poupando-lhe a vida, no último momento. Já Nina, se aproxima da vilania, quando usa de tortura contra Carminha, a troco de nada. Qual o objetivo da mocinha afinal? Se o objetivo torpe é fazer justiça com as próprias mãos, provando a traição da vilã; "limpar a honra" do pai morto, livrando o marido traído do julgo da vilã, não haveria a menor necessidade de tortura. Ela tem fotos, bastava entregá-las ao marido traído. Ou melhor, enviá-las, com uma carta sugerindo um simples teste de DNA. Os dois filhos são prova cabal da traição. Desnecessárias as cenas de domínio, de submissão. Não revelam nada além de vingança barata, equalização de caráter ruim, o ódio levado às ultimas consequências.
A menos que haja uma grande verdade escondida ou uma grande reviravolta em favor do bem, acho que em algum lugar, o autor se perdeu em sua argumentação. Não é assim que o bem suplanta o mal. Não é assim que se constrói um final feliz. Ninguém pode ser feliz finalmente a partir do ódio, ou da vingança contra alguém.
Outro bom exemplo de final que ninguém entendeu, foi o da última novela das oito, Fina Estampa. Um final sem sentido, onde a vilã some e reaparece, e sai de cena como vitoriosa. As novelas estão se tornando reais demais. Vemos isso todos os dias no noticiários. Esperávamos que, ao menos na novela, a assassina fosse presa.
Nas duas novelas, a ideia inicial era muito boa. Os atores são excelentes. Mas o autor se perdeu no final. A bandeira da vingança, do ódio, da justiça com as próprias, ainda bem, não arregimenta muitos defensores. O bem tem que vencer no final. E o bem é superior ao mal, justamente por ser capaz de perdoar, de passar por cima, de relevar. Por conservar seus valores positivos nas difíceis horas.
Mudando o foco para personagens coadjuvantes, e aqui me criticarão mais uma vez, tenho que dizer a verdade: Sou fã de Alexia. A única das três envolvidas com o trígamo, que foi capaz de parar de reclamar, perceber a real situação e partir para a negociação. Sim, ela é a mais sensata. Sempre foi. As outras ficam num papel pseudo moralista, mas aceitam a corte e a traição. a única diferença é que são egoístas e teimam em se iludir que ele será só delas, como posse. Não faz parte do caráter dele, genuinamente infiel. Alexia sabe que ele jamais será fiel. Mas deseja que ele seja ao menos leal. Que seja tudo feito às claras então, sem hipocrisia. Isso existe, tem nome, e é uma tendência cada vez mais atual, até pela questão numérica. Temos muito mais mulheres, que homens. O nome disso é poliamor.
Por outro lado, as novelas tem tido sim, um papel educativo, de evidenciar à sociedade o que ocorre e fica escondido embaixo do tapete. Sim, vivemos em uma sociedade corrupta, que paga e recebe propina, onde adolescentes usam drogas, reúnem-se em gangues e roubam, fumam, bebem cedo demais. Onde descobrem a sexualidade igualmente cedo, e sem o devido preparo. Tá faltando educação em casa, na família, pelos pais e isso não é papel da escola. Sexo é assunto de família. Pois amor é assunto de família, e os dois assuntos deveriam ser tratados juntos. Então, quando uma novela mostra uma adolescente que engravidou, em minha opinião não está dando mal exemplo, está mostrando mazelas que ocorrem diariamente na sociedade. E é muito mais evidente na população carente, onde tudo falta, que nas classes sociais mais abastadas.
Esses são apenas alguns dos assuntos espinhosos que as novelas abordam e de uma maneira correta ou não, levantam a discussão.  Há quem concorde, há quem discorde. Mas numa coisa acredito que todos irão concordar. Não há argumento que defenda a vingança, o rancor, a mágoa, a falta do perdão; a apologia ao ódio acima do amor. Isso, em minha opinião é um retrocesso desnecessário.
Por Cris Vaccarezza

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