Autômatos


Trabalhamos muito. Trabalhamos dia e noite, em prol da família  mas marido e mulher praticamente nem se falam. Nem mais um boa noite se ouve antes de cada um virar para o lado e sonhar com seus próprios anseios.
Dormindo em camas box, com travesseiros de pluma, cada um sonha com o amante, com aquilo que lhes apaixona, ou o amor idealizado que queriam ter. Já não conversam. Ele sai muito cedo, ela trabalha até tarde... E quando se encontram, na cama, o encontro é apenas carnal, as almas estão longe. Ele, querendo gozar para relaxar, ela, tentando relaxar para gozar... Mas quem disse? Às vezes tem que abstrair, pensar na lista do supermercado, na vacina atrasada do cachorro, na rotina diária do seu trabalho, para esperar aquele ser, que ela nem conhece mais, RELAXAR! Ufa! Até que enfim...
Nem se precisa dizer mais nada, agora é seguir a rotina... Amanhã, é acordar e ir levando, esperando que ele já chegue relaxado dessa vez.
Discutir relação, dizer o que lhe dá prazer, é algo chato, que não vai resultar em nada, ela finge que fala, ele finge que escuta,no íntimo, o homem acha a mulher complicada, a mulher acha o homem insensível, e no meio, fala-se algo sobre os filhos, e tudo bem...
Os filhos então, esses são uns poços de neurose, acordam cada vez mais cedo para a rotina da escola que os escravisa agora de segunda a sábado, já não fazem amigos, têm orkut, tem encontros virtuais. Já não vivem a infância.
Já nem jogam videogame, os jogos exigem persistência e isso os jovens de hoje já não tem, nem tempo, nem paciencia, escrevem tudo abreviado, numa sede desenfreada do falar, do dizer, do tclr...
Para fazer o que andamos fazendo, não precisamos ser humanos. Os computadores, se programados, poderiam executar muito bem essas funções. Onde estão a alegria, o prazer, o amor, a ternura, a amizade, a compreensão?
Paremos um pouco de fumar nossos narguiles, de tomar nossos whiskys, de malhar nossas três horas diárias, de teclar compulsivamente em nossos computadores, de ler mensagens de power point e rir, e chorar diante a tela fria do computador...
Vamos parar de tomar anestesia e deixar que nos arranquem os dentes, nos arranquem a vida, nos arranquem a alma pela boca, enquanto engolimos um gole de cerveja. Estamos nos matando!
Criticamos aquele que em um ato desesperado, tira a própria vida... mas não percebemos que estamos fazendo a mesma coisa, só que mais lentamente, mais burramente, em doses homeopáticas...
Vamos pensar um pouco em nossas vidas, vamos olhar para nossos filhos, ver como estão crescidos, nos orgulhar ou não do que fizemos por eles, e mais, dos que fizemos COM eles... Quando foi que você viu seu filho sorrir pela última vez? E então, ele sorria para você, ou DE você? Quando foi a última vez que você virou criança e brincou com ele daquilo que ele gosta, um jogo, um livro, pular amarelinha, esconde esconde...
Quando foi que você deu ao seu filho um presente de verdade? Não os carrinhos ou videogames, mas as histórias da sua infância, as experiencias que você viveu na idade dele...
Quando foi a última vez que você parou para ouvir a voz de seu filho? Não como aquela interrupção impertinente quando você está trabalhando, mas como um convite para amar? E dançar? quando foi a última vez que você dançou?
Quando foi a última vez que você amou, quando foi a última vez que você fez um elogio, um carinho, uma declaração de amor? Quando foi a última vez que você se apaixonou? E o último beijo, quando foi?
Pensemos... estamos morrendo em vida... há muito tempo não fazemos nada disso com emoção. E o que é a vida senão a soma de emoções, o que é a vida senão for vivida intensamente?
Afinal quem tem certeza de que teremos outra chance de fazer tudo isso amanhã? Faça hoje! Faça agora!
Por Cris Vaccarezza

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