Ensaios sobre a traição

Então, se pegava pensando: Quem traiu, a quem traiu? E com quem traiu?
Quando ocorre uma infidelidade, ou melhor, quando essa infidelidade vem a publico, mobiliza um turbilhão de emoções nos envolvidos. Culpa, ira, medo, orgulho, inveja, indiferença, tristeza, são alguns desses sentimentos que ficam no ar, em uma situação dessa. Raramente, a pessoa traída, terá cabeça fria para pensar, a razão é posta de lado, e ela apenas sente-se traída.
No entanto, algumas questões merecem atenção, quanto à infidelidade.
Esse texto não defende a infidelidade, defende a lealdade e a liberdade, como alicerces para um relacionamento sadio.
Em primeiro lugar, a infidelidade só ocorre em culturas que exigem fidelidade. Parece obvio, mas não é. Existem culturas em que a fidelidade não é imposta. Note que utilizamos as palavras exigem e impostas. Quem exige e quem impõe? A sociedade. Que sociedade? A mesma sociedade hipócrita que tolera a infidelidade masculina e condena a feminina. O que é fidelidade afinal?
Toda vez que o assunto é fidelidade, me lembro da famosa passagem evangélica de Jesus, com a mulher "que foi dita" em adultério, jogada aos seus pés, a ponto de ser apedrejada. Nesse momento, a sociedade pede a ele que a condene, mas ele inteligentemente avalia a turba de homens infiéis e adúlteros que ali se encontram, todos dispostos a julgar e condenar a mulher, sem avaliar as próprias faltas, e dá a sentença: "Quem não tiver pecado, que atire a primeira pedra". É possível adulterar sem par?
A fidelidade entre duas pessoas, deve ser um valor conquistado pelo casal. O meio para conquistá-lo é o amor, não a exigência. A fidelidade pode e deve ser discutida e negociada pelo casal. Mas ninguém fala a respeito. Deixa-se ficar subentendido que, uma vez casado, deve-se ser fiel. Nem sempre.
Antes de se casar, um casal deve ser livremente um do outro. Complexo? Nem tanto. As pessoas devem ser livres para optar por estarem juntas por vontade própria, não por imposição de quem quer que seja.
Antes de sermos fieis ao outro, devemos ser fieis aos nossos princípios. Sermos livres para escolher estar ou não juntos, desejar apenas ao outro. Assim, onde está a tentação
Quem trai, não trai apenas ao outro, trai primeiramente a si. Trai aquilo que afirmou (sem tenta convicção) amar e aceitar, por toda uma vida.
E sem querer violentar a opinião alheia, e sem trair as minhas próprias convicções, me despeço, pedindo mais que fidelidade, lealdade aos casais. Pois em minha opinião, fidelidade é desejável, mas lealdade, é fundamental.
Por Cris Vaccarezza

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