Patricinha, a princesa digital

Ana Patricia era, desde sempre, inegável e irremediavelmente, uma nerd. Daquele tipo viciado em tecnologia. Consumia velozmente toda e qualquer novidade disponível no mercado.
Desde pequena fora assim. Lembrava de seu primeiro amor: Um Gênius, brinquedo de estratégia, baseado em seqüências de luzes e sons, que hj pareceria pré histórico. Depois veio um pequeno órgão eletrônico, um mini sintetizador, e então, descobriu os joguinhos eletrônicos manuais.
Na adolescência, não saia à rua. Era do tipo meio pálido no verão, costumava passar as tardes entre joysticks e cartuchos. O que você imaginar de vídeo Games, ela já teve. Do velho Odissey e Atari, até os modernos X BOX.
Acompanhou a evolução do computador, do primeiro pc 500 aos menores netbooks, e a internet, lhe trouxe alguns namorados, os primeiros romances, algumas descobertas e adjunto, algumas cicatrizes. Acho que foi aí que Ana Patricia optou pela virtualidade. Se o mundo real já não lhe atraia, agora, ferida, era quase uma ermita. Refugiara-se na segurança do universo digital paralelo. Só saia de lá, para o trabalho, evidentemente ligado à informática; e os livros. Ah, os livros! Que cheiro bom tem um livro, estalando de novo, ou velhinho, um clássico meio mofado, mas e daí? Esse era um bom motivo para que ela, branquelinha, apanhasse sol.
O tempo que trouxe os avanços, também trouxe algumas rugas e cabelos brancos. E eis Ana Patricia, aos 35 solteira, independente, e ao contrario das poucas amigas, completamente alheia às mulheres que se estapeavam lá fora, em busca de um homem. Tinha outros interesses. Principalmente, eram outros, os jogos que lhe interessavam. Os jogos em que podia vencer.
Quando lançaram o iPhone, foi a gloria! A modernet chegou ao paraiso, já que poderia viver conectada 24hs por dia, em qualquer lugar. Isso é que era inclusão digital! Seus jogos tomavam grande parte de seu dia, tantos comandos, tanto a atualizar em cada um, que raramente levantava os olhos da telinha, para o mundo real. Até os livros estavam ali, ao alcance de um par de dedos.
Foi num desses jogos de estratégia, King's Empire, que depois de dias construindo uma base solida, capaz de guerrear, um esperto lança-lhe um ataque letal! Pânico! Sozinha não daria conta. Recorreu ao clã, conselho de lideres que se ajudam nesses jogos de estratégia, e eis que um dos príncipes de um reino aliado saiu em sua defesa. Enviou tropas, que se juntaram às suas, e juntos, deram cabo do inimigo. E se tornaram amigos.
David era um garoto de 23 anos, e pelo perfil do Facebook, ela desconfiou que era casado. Mas ele parecia ter se empolgado com a defesa. E tratava a princesa do reino vizinho como sua protegida, chamando-a de meu amor. Nenhum ataque vai derrotá-la, prometo! Foi assim que a dupla empreendeu um império lendário, conquistando todos os reinos possíveis em seu território. Ela era mesmo uma grande estrategista.
Infelizmente, a coisa começou a sair da virtualidade, e com o tempo, não bastou vê-lá pelo perfil do face, ele queria seu telefone, queria discutir as estratégias de ataque pessoalmente, e o pior, havia uma rainha ao seu lado, na vida real. Provavelmente, dormindo, enquanto ele se derretia de amores pela princesa aliada.
Ana era sempre evasiva, sempre trazia para o campo da racionalidade e da amizade, a relação dos dois. Era tão bom ter um amigo, ainda mais, um aliado como aquele. Não queria perdê-lo. Até o dia em que ele a pôs contra a parede. Ela tinha que decidir. Ou namorava com ele, ou perderia o aliado nas batalhas. Tinham um impasse. Ele rompia o acordo. Ela não queria se tornar uma amante.
Foi nesse dia, que ele perdeu a amiga, a aliada, o reino e o jogo. Ela invadiu seu reino com todas as tropas, e o derrotou. Afinal, ela era uma princesa, mas isso era um jogo, não um conto de fadas.
Por Cris Vaccarezza

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