Por instinto

Lembrou de relance, da infância, nas viagens pelas matas do sertão, com o pai. Do nada, desse ou daquele terreiro, partia um cão perdigueiro, Fila brasileiro ou mesmo, um garboso vira-latas.
E partia desembestado, no encalço do carro que se aproximava. Colava na lateral a toda carreira. Vinha latindo, babando. Dividindo o ar entre o desespero da busca ao veiculo que passava correndo, e os latidos, apelos apaixonados para que parassem o carro.
Não alcançando seu objetivo, uma hora cansavam e ficavam à distancia, arfando e latindo. Abanando a cauda, com um olhar comprido e apaixonado misto de abandono e incompetência.
Lembrava que olhava para trás e os contemplava em meio à poeira que subia atras do carro. Dava pena. Tanto esforço perdido.
Um dia, chegando próximo a um pátio, de novo em velocidade, e vindo correndo um cãozinho, pediu ao pai que simplesmente parasse o carro para ver o que acontecia.
Não pode crer no olhar de frustração do cão, que vendo parar o veiculo, latiu mais algumas vezes, como se reclamasse da desordem dos fatos, rodeou o carro e entrou em casa, de lá espreitando, decepcionado.
Seu pai, velho de guerra nessas aventuras da vida, lhe disse em consolo: Os mais velhos sempre dizem, cachorro corre atras de carro... corre, corre, corre. Mas se o carro para, não sabem o que fazer com ele.
Ficou a pensar, assim são os homens e os seus almejos.
Por Cris Vaccarezza

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