A menina que mandava flores para sí mesma.


Sim, ela cometera esse pecado. Sim, ela mentira. Ou omitira, talvez. Preferira dizer que fantasiara. O concreto do dia a dia era muito duro para aquela menina. Então ela o floria.
Ela era muito diferente, sabe excluída? Mais que um peixe fora d'agua, se sentia um dinossauro congelado numa geleira qualquer, assistindo petrificado o mundo que fervilhava em torno de si.
Ainda assim, sorria. Ainda assim caminhava enquanto muitos teriam desistido. A bem da verdade, pensou em desistir. Mas não teve tempo de achar a saída.
E continuou, conservando uma réstia de lucidez, onde a maioria teria enlouquecido.
Muito embora todos a achassem desprezível. Muito embora so enxergassem a casca. Muito embora ninguém suspeitasse da tortura que escondia. Muito embora ninguém a visse com as cores que ela enxergava; Ainda assim, mesmo assim, ela achava, no fundo de sua alma, que tinha algum valor.
E quando tudo em volta de si, desabava. Quando seu mundo estava prestes a ruir, ligava para uma floricultura e enviava um cartão e rosas vermelhas para si.
Nos dizeres do cartão, alguém sempre imaginário. A mensagem subliminar era sempre a mesma: Olha, você existe!
Nas palavras de incentivo, uma doçura que procurava e jamais encontrara. Nas rosas, o afago da compreensão de que carecia.
Quando chegavam, que alegria! Eram flores para ela. Quem mandara? A única pessoa no mundo que conhecia suas dores a ponto de saber o quanto ela as merecia.
Por Cris Vaccarezza

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