Heartless


Tive pena dela! Que sentimento horrível! Mas foi o que eu senti! Tadinha! Caiu na minha direitinho! Logo ela, minha ultima esperança na dignidade e inteligência feminina?
Sempre fui bom nisso. Muito bom mesmo. Beleza, não tenho muita, mas sei exatamente o que dizer para agradar a uma mulher. Meu pai me dizia: Meu filho, quem não é o maior, tem que ser o melhor. Não sei se sou o melhor. Deve haver melhores. Ou piores, capazes se baixezas mais torpes. Capazes de usar o amor como escudo, ou como espada desembainhada, ferindo à torta e à direita por aí... Eu, só usava os elogios, a atenção e a bajulação. Elas acreditavam, fazer o que?
Comecei com as menos bonitas. Não há mulher feia. Há mulher mal olhada. Regada, toda planta floresce. Difícil era vê-las depois murchar e morrer à míngua  quando a rega acabava. Quando findava a primavera e eu já havia colhido as flores e os frutos, se é que me entendem. Mas outra planta logo aparecia e eu me distraia outra vez.
Bem, sou homem. Essa é a minha natureza. Caçar. E quando a presa é boa na fuga, a cacada se torna ainda mais emocionante. Vanessa era uma presa quase impossível pra mim, não era como as menos belas. Ao contrario, Vanessa era linda! Por dentro e por fora. Inteligente, sensual, sensível, generosa, fisicamente bem apanhada. Quase irretocável. Só tinha um único defeito: Vanessa não sabia que era linda. Se soubesse o quanto era especial, teria escapado de mim. Ou talvez, tivesse pelo menos prolongado a cacada a ponto de fazer valer a pena pra mim; teria me deixado esperando até que fosse mais que especial. Até que fosse única. Se ela soubesse, poderia ter nos feito muito felizes. Talvez por longo tempo. Pra sempre é sonho cor de rosa de adolescente. Vanessa tinha todas as chances.
E o mais grave é que eu disse isso, sinceramente a ela. Com ela era diferente. Com ela podia dar certo. Pra isso, tudo o que ela tinha que fazer, era não se entregar. Deixar que eu a caçasse todos os dias. Permanecer inatingível, em seu posto de musa, linda e irretocável.
Mas sua autoestima... Ah, sua autoestima achou que eu era o cara. Que merecia sua atenção, que merecia que ela se entregasse, e foi ai que acabou o encanto. Cedo demais... Tarde demais! Agora, aqui, lado a lado, acabou o calor... E Vanessa, que tinha tudo para ser a mulher da minha vida, virou apenas mais uma.
Vanessa, que era especial, passou a ser só mais um corpo, igual a tantos outros belos corpos que passaram por aqui. Daqui a alguns dias, eu já sabia, estaria chorando sozinha, junto ao telefone, ao se tocar que palavras só são especiais, se vindas de alguém especial. Eu não sou especial. Ainda não. Nunca houve uma única mulher que me desvirginasse da malandragem. Vanessa, quase... É mesmo uma pena!
Viro para o lado e fito o rosto lindo que me sorri esperançosa. Não comigo, baby! Passo a mão delicadamente em seus cabelos, dou-lhe o ultimo beijo que receberá de mim. Aquele tipico selinho longo de ponto final. Aquele que todo mundo sabe, significa "tchau", aquele que todo mundo dá quando tem que ir embora; e falo com a voz aveludada pra deixar boa impressão: -E ai, amor, vamos? Tá na hora.
Por: Cris V.

0 comentários :

Related Posts Plugin for WordPress, Blogger...