Delicada

Na verdade, secretamente, ria da pretensão deles, ao orgulhosos, estufarem o peito e dizer, com voz guturalmente forçada: "não era para você se apaixonar..."
Sentiam-se especiais. Achavam que era por eles, que se apaixonara. Não era!
Apaixonara-se pelo apaixonar-se, pela endorfina da paixão  Pelo frisson de sentir-se apaixonada. Pelas borboletas em seu estômago. Não por eles.
Não percebiam então, que de reles paixão, não duravam um mês sequer? Já já, se reapaixonava, por outro. Ainda mais impossível, mais improvável, ou distante que o anterior.
Não realizava, nenhum. Mantinha a todos como virtualidade, borboleteando como mariposas cegas, em torno da luz. Quando cansavam, iam embora. Asinhas chamuscadas, orgulho ferido. Não conseguiam nada... Aí, se fazia de coitada, suspirava um "ai de mim! Sempre só e abandonada!" Mas continuava fazendo apenas o que queria: Se apaixonando.
Quem olhasse de relance, acharia que havia algo errado com ela. Até comentavam à boca pequena: "Olha só ela... tão mulher, tão independente, e tão só..." Ledo engano. Ainda que inconscientemente, era justamente o que ela queria, o calor do fogo, sem ter que se queimar.
Assim, exercitando tanto o apaixonar-se, ia pouco a pouco, se conhecendo e se apaixonando por si mesma.

Por Cris Vaccarezza

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