Repetente


Um dia falaram de figurinhas repetidas que não completam álbum. De reprise, filme queimado que já conheciam o final. Falaram tanta besteira...
Achavam, naquela época, que já tinham fechado um ciclo, e precisavam seguir em frente. Relacionamento encerrado. Graduados, já.
Achavam que a vida era um mar de oportunidades. Tanto peixe grande num oceano de gente nova, e eles presos numa rede, contando piabas?
Vistas de dentro de um relacionamento longo, as pessoas de fora eram tão mais perfeitas, tão mais desejáveis... E os defeitos dos dois, insuportáveis.
Achavam que estavam perdendo tempo um com o outro.
E de repente, se deram conta de que o tempo passou. Anos. Mas eles, nunca passaram. Apesar da distância dos corpos, as almas nunca se apartaram de vez. O melhor cheiro do mundo, ainda era o cheiro dela na fronha. O melhor travesseiro dela, seus braços, seu peito, ouvindo seu coração, descompassado. Só lá, conseguia dormir em paz.
Descobriram que quando se abraçavam, ainda sentiam-se em casa. A casa barulhenta de tempos atrás. Quando juntos, acordavam e dormiam, quando juntos, partilhavam a mesa do café da manhã e o espelho na correria do sair. Descobriu que era ainda em seus olhos que ela espelhava sua alma. Ele descobriu, que eram as mãos dela, que via segurando as suas se e quando envelhecesse. Descobriram que as polêmicas de um, só tinham graça se tivessem as opiniões pirraçantemente erradas do outro, para rebater.
- Será que foi por isso nunca deu certo com ninguém? -Ela perguntou. -Talvez, só dê certo (de novo) com você. Outro dia, lera Carpinejar, que perguntava "por que você não arruma namorado?" Estava intrigada e transferia agora a pergunta para ele: -Por que você não arrumou uma namorada? -Pelo mesmo motivo que você não arruma namorado! - Ele respondeu. Simplesmente a verdade.
Casos, paqueras, namoricos, ficantes e paixonites não contavam. Foram só os outros. Namorado mesmo. Namorada mesmo, nenhum! Nada de nAMORar. Tantos tubarões, robalos, salmões e namorados se mostraram não mais que piabas quando vistos de perto, sem as lentes da ilusão.
E ai se perguntavam: De novo? Os mesmos? Iguais? E se deram conta de que não eram iguais. Mudaram, embora conservassem o que ainda os prendia. Mudaram no que era desprezível. Talvez agora, despojados do supérfluo, tenham aprendido o que era essencial: A falta que faz a intimidade num amor de verdade. Todo o resto, é orgulho e vaidade.
Por Cris Vaccarezza

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