Em modo avião

Quem diria que, sempre tão prolixa, sempre tão falante, tão cheia de contatos; naquele dia, se sentaria no escuro, sozinha na varanda, olhos distantemente marejados, ao som de Barry White, Marvin Gaye...
Mania de fazer péssimas escolhas... Péssimo dia para ouvir Marvin Gaye! - Não misture com vinho! - Gritava o inconsciente, tenso. Subitamente, mais consciente que ela.
Fora isso, o mais absoluto silêncio. Celular no modo avião, como ela, nas nuvens. A casa em silêncio, os cachorros em silêncio. Até o vizinho barulhento, no mais absoluto silêncio. Ouvia-se grilos em plena cidade...
Não tinha dúvidas. Não tinha palavras. Crises de abstinência, nela tinham esse efeito colateral: A deixavam muda. Estava sofrendo justamente, da falta do que a consumia.
Mas a manhã haveria de chegar...
Estava certa de que passaria por mais uma metamorfose, e que dentro em pouco, sairia do casulo reinventada, com novas cores e ideias mirabolantes. Mas no momento, não.
No momento, queria apenas ouvir Barry White até que aquele dia interminável, quem sabe, por ventura, finalmente, chegasse ao fim!
Por Cris Vaccarezza

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