Elabore seu luto! Não reanime!

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Estou de luto!
Meu amor morreu!
Morreu asfixiado pelas frases não ditas.
Morreu pela falta de cuidados diários.
Morreu de descaso.
De inanição.
Morreu de desgosto. Morreu!
Foi assassinado pelas olhadelas pro lado.
Pelas farras cotidianas.
Pela mentira, aquela assassina silenciosa.
Pelo egoísmo, pelo comodismo.
Mas morreu também por culpa minha,
por minha submissão, pelo excesso de zelo.
Morreu pela baixa autoestima.
Morreu! Acidentou-se anos atrás.
Foi acometido pela cegueira mútua,
e caiu no abismo do silêncio.
Estava em coma.
Sobreviveu, apesar da morte racional.
Somente hoje, morreu de fato.
Somente hoje foi expedido o atestado de óbito:
Falência múltipla dos órgãos vitais.
Pois finalmente, o meu coração parou de bater.
Aos pés do leito, por prevenção, um bilhete:
FAVOR NÃO REANIMAR!
ACREDITO EM REENCARNAÇÃO
QUE EU RENASÇA BEM LONGE DAQUI
Assinado:O AMOR

Por Cris Vaccarezza

Equívoco

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Ah, por favor, me perdoe! Eu achei que era amor! Quando você disse "eu te amo", eu achei que era amor mesmo, AMOR assim em maiúsculas. 
Achei que ser especial significava ser especial para você. E não apenas ser especial naquele momento. Achei que suas palavras eram promessas de coração, não apenas papo de menino para pegar passarinho... Não achei que era apenas um passarinho frágil e bobo em suas mãos! Achei que era recíproco... Reciprocidade, você sabe o que significa? 
Penso diferente. Afinal, quem é frágil e bobo? O passarinho que, cativado em sua paz, se deixa aprisionar? Ou o menino que, equivocado, usa e abusa da confiança? Paradoxal...Creio que a fé seja virtude. Nunca acreditei que virtude fosse pecado. Para mim, passarinhos confiarão sempre. O que se fará com a fé do passarinho, vai para a conta do menino. 
Não vejo graça em ter um passarinho cativo. Prefiro vê-los livres, para quem sabe, quando queiram, pousar e cantar. Crer, é o meu mal...
Errei, é verdade. Mea culpa! Me perdoe o equívoco. Eu achei que era amor.
Não era amor. Era um erro de semântica, era apenas paixão. E paixão, quando travestida de amor, não constrói nada. Exceto gaiolas para aprisionar passarinhos frágeis e bobos. 
Paixão, assim como carnaval, como chuva de verão, simplesmente um dia acaba... Acabou!
Por Cris Vaccarezza 

Desapego

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Amanhecia mais um dia vazio, com os mesmos sintomas: Olhos cheios de lágrimas indecisas entre rolar ou não; o peito oprimido por uma lâmina fincada apenas no sentimento.
O estômago, permanentemente cheio de dor de uma dor imaterial. Apetite nenhum. Vez em quando, um sacudir negativamente a cabeça, como que tentasse espantar lembranças doces e venenosas. Uma tragédia anunciada, apenas postergada, apenas procrastinada.
Até que enfim, a desilusão bate à porta, cobrando o alto preço das ilusões vencidas, das promessas não pagas. É preciso abrir! Por que demorou tanto?
Eis que enfim, vejo meu rosto envelhecido em frente ao espelho, de tanto esperar por nada. Os olhos fundos das noites perdidas num aguardar em silêncio.
A mão que agora se estende em direção à fechadura, tampouco é a mão que vi balançando no ar em um vago adeus, quando você partiu. Naquele tempo, cria que a força desse amor te traria de volta. Mas não! A vida te tragou para os seus seios fartos. E você, se deixou levar.
Como culpa-lo? Se foram essas mesmas mãos, outrora jovens, que se abriram e te deixaram voar pela certeza de saber-te livre? Mas na esperança que o amor o fizesse ficar. Agora cansadas, envelhecidas, giram a maçaneta e deixam entrar as cobranças do tempo. Se há lagrimas, que comecem a rolar. Se há inapetência, que os quilos sigam porta a fora, junto com os sonhos. Já prolonguei demais meu outono.
Em verdade, foram muitas as estações travestidas de outono. Em meu mimetismo, praticamente gastei a vida, colando as folhas uma a uma, para que ficassem, Mas elas se foram. Um dia estiveram no alto das copas, agora recobrem o chão esperando a neve. É um ciclo. Em breve, brotarão da terra em verde novo, quando a primavera chegar. Tudo se renova.
Mas já que o inverno chegou, deixe os credores gelados da desilusão entrar. Que tomem um café comigo! Que se sintam em casa e me façam companhia no inverno de minha vida, que se inicia agora. Deixa que fiquem. Aqueçamo-nos!
Tudo passa... Assim como já houve sol, assim como um dia fez calor (custe o tempo que custar, lá na frente), há de vir uma primavera. Então, saciados, os credores partirão e meu coração, estará finalmente em paz.

Por Cris Vaccarezza

Sobre Shreks e Fionas

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Tenho percebido que depois que Shrek fez sucesso nos cinemas, muitas mulheres se arvoram a ser Fionas para fantasiar a vivência de um grande amor. Enquanto muitos homens justificam sua grosseria se autodenominando Shreks.
Resta saber se compreenderam os valores que os personagens tentaram retratar. O verdadeiro Shrek é o sentimento disfarçado de ogro. É a expressão da simplicidade. Para ele, a roupagem externa pouco importa. Á sua maneira, Shrek é gentil, amoroso, corajoso, generoso, altruísta. Fiona é uma mulher linda que abriu mão do fútil, do superficial, de sua imagem perfeita. Abriu mão de ser princesa, do príncipe encantado, para viver o grande amor que lhe completa. Shrek a completa por que a ama. Em minha opinião, outro detalhe importante, Fiona e Shrek estavam sozinhos quando se conheceram. Creio também que antes de qualquer coisa, é preciso estar sozinho(a) para encontrar alguém.
Usar o personagem para justificar a própria grosseria e egoísmo, e se intitular O Shrek, tipo: "Sou isso aí mesmo e quem não gostar que se exploda!" ou "Eu sou que nem o Shrek!" "Sou assim e não vou mudar por ninguém!" é covardia. Pior que isso, é ver mulheres que acham que ser tratadas como pano de chão, a base de patadas e grosserias é lindo, apaixonante e desejável.
Enfim, até para os contos de fadas, há que se ter bom senso. É bom não confundir o amor de Shrek e Fiona com sérios problemas de autoestima e fascinação por cafajestes. Para ter um grande amor, é preciso se achar digno de cuidar de um grande amor, e digno de receber um grande amor!
Para terminar, como dizia Vinícius:
"Para viver um grande amor, preciso
É muita concentração e muito siso
Muita seriedade e pouco riso
Para viver um grande amor
Para viver um grande amor, mister
É ser um homem de uma só mulher
Pois ser de muitas - poxa! - é pra quem quer
Nem tem nenhum valor
Para viver um grande amor, primeiro
É preciso sagrar-se cavalheiro
E ser de sua dama por inteiro
Seja lá como for
Há de fazer do corpo uma morada
Onde clausure-se a mulher amada
E postar-se de fora com uma espada
Para viver um grande amor."
Acho que os verdadeiros Shrek e Fiona, devem ter lido Vinícius de Moraes. Os fakes apenas pensam que leram, ou nem isso!
Por Cris Vaccarezza
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