Blindado


"— Uma mulher como você? Tenho certeza que recebe muitos convites para sair.
— O que não quer dizer que eu os aceite.
— Fica bancando a difícil?
— Não. Só não gosto de magoar ninguém.
— Quer dizer que você arrasa corações?
— Não, não arraso corações — respondeu baixinho. — O meu coração é que foi arrasado."
— Nicholas Sparks.

Blindara o coração. Era fato! E blindara tão bem blindado, que sequer percebia que o tinha feito.
Blindara do afeto, das novas paixões. Blindara com o mais pesado chumbo, com o mais impenetrável aço. Blindara com força, blindara com fé.
Permitia flertes, vez ou outra, de quem não tinha mais poderes para lhe fazer mal. Permitia a chegada daqueles, cuja saída, provocaria os curto circuitos de uma leve paixonite. Não a tempestade ácida de um amor perdido. Amar de novo, não queria. Não sabia se poderia, ou se resistiria às intempéries de uma perda inesperada.
As balas da paixão não a feriam, ricocheteavam. Seu coração por defesa se fizera de titanium. Fora pego desprevenido quando bem jovem. Usaram e abusaram de sua boa fé. Agora livre, distante, sentia-se imune a qualquer cavalheiro que pleiteasse invadir seu castelo de sonhos, afogá-la de falsos amores e enfim fincar-lhe uma estaca na alma, uma espada no coração.
Madura, passado a limpo, cair nas armadilhas do amor? Não mais! Montara guarda do lado de fora e decidira: "Mantenha distancia! Daqui não passa ninguém!"
Mas eis que depois de tanto tempo, aquele paladino ameaçava por tudo a perder. Não parecia se intimidar com as suas caras feias. Com carinho e bons argumentos, derrubava um a um, os obstáculos que ela espalhava pelo caminho. "Mas o que quer esse estranho?" 
Não parece carregar uma espada. Empunhava apenas uma rosa. Sem escudos, sem cavalo, sem armaduras, vinha de peito aberto. Pedia uma escada rolante e a oportunidade de, chegando ao alto da torre, entregar-lhe a rosa. 
Vacilava... Deixar vir a rosa? Ouvir ou não? Duvidava... Seus olhos eram bons, suas palavras eram belas, seu sorriso encantador... Deveria deixar que escalasse a escada de aço? Ainda não sabia. Sabia apenas que ele chegara onde muitos falharam. Tinha a impressão (por enquanto era só impressão, que ficasse bem claro) de que aquele, se dera ao trabalho de observar a muralha e pensar em uma maneira de vencê-la. Via a fortaleza como era, uma proteção, não um empecilho. Talvez tivesse achado o ponto fraco no blindado. O pequeno furo que põe o dique abaixo. A pedrinha que faltava na muralha, o detalhe. 
E é o detalhe, amigo, que faz toda a diferença.
Por Cris Vaccarezza 

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