A casual revolução da maçã

Quem foi que instituiu a rapidinha? Quem foi que inventou o rapidinho? O apressadinho, o dá ou desce, o sai da frente que atrás vem gente? Quem foi que impôs como regra de conquista a efemeridade?
Acabou virando decreto que um casal se conhece e tem que rolar beijo no primeiro encontro, e tem que rolar amasso no segundo e tem que rolar química de cara e tem que rolar sexo no quarto, na sala, no elevador, na varanda, no motel, na balada.... Tem que rolar! Quem disse???
Estamos gerando um exército de solteirões ávidos por fortes emoções! Uma bando de zumbis que saem pras baladas, embalados pelo último hit dançante do momento em busca de devorar... de devora-se. E devoram-se velozmente, ferozmente. E quando acaba, acaba a química, desfaz-se a mágica. A carruagem vira abóbora, a Cinderela volta a ser mais uma gata borralheira e o príncipe, bem, esse nunca chegou de fato a deixar de ser sapo.
Cadê a graça? Cadê o frisson de se apaixonar? De se ver conquistado? De se sentir fascinado, de conhecer o outro e se deixar desvendar pouco a pouco? Cadê o passo a passo, o pouco a pouco? Cadê o romantismo? Será que embriagou-se na última balada e embriagado, tropeçou na escada e torceu o pescoço? Morreu?
Cadê a troca de olhares que vai pouco a pouco desvendando o outro? Cadê a troca de carinhos, de mãos, de abraços. Cadê a troca de afeto? Troca-se o que nesses relacionamentos instantâneos, além de fluidos corporais? Cadê as flores, cadê o diálogo? Será que dos amores de ontem, os contemporâneos forma reduzidos a apenas amantes?
Estamos formando um batalhão de carentes, anestesiados pelas várias doses de uma bebida qualquer. Altamente sexualizados, estressados, brutalmente acéfalos, em busca de uma válvula de escape que alivie a tensão? Virtualmente conectados, apaixonados e repentinamente percebidos como perfeitos desconhecidos. Desconhecidos até de nós mesmos. Nós não nos conhecemos! E Despertamos assustados em camas alheias, com os mais completos estranhos, em nome do prazer(?).
E há prazer? Estudos insinuam que não. Que o prazer real, reside na intimidade. O resto é um fingir sem freio. Fingir ser, fingir poder, estar bem na foto. Fingir satisfazer. Fingir satisfazer-se...Enfim! Em um mundo onde compra-se sexo em cápsulas e amor em comprimidos coloridos, porque não inventar o elixir do prazer instantâneo? E ele está aí, pelas noitadas...
E eu me pergunto apenas se foi a pílula anticoncepcional, que como a maçã, acabou com a pecha de ter inventado o pecado; ou se foi o corre corre cotidiano quem decretou que tem que ser agora, que tem que ser rapidinho, que tem que ser breve?
Um brinde àqueles que sabem o verdadeiro prazer escondido no esperar acontecer naturalmente.
(Por Cris Vaccarezza)

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