No trapézio sem rede

Tão paradoxal quanto intensa, a sensação de se apaixonar...
Lentamente, rapidamente; cautelosa ou enlouquecidamente; sabiamente, irresponsavelmente, reversível ou irremediavelmente, apaixonar.
Sensação similar, devem ter os que se arriscam na ponta de um penhasco para se lançar ao sabor do vento, da sorte, num parapente, numa asa delta, num ultra-leve. Ou um trapezista do alto da torre do trapézio, na dúvida entre essa vinda e aquela volta do balanço. Na dúvida entre agarrar-se ou não aos braços que balançam estendidos. Aquele segundo decisivo onde você se percebe no alto e só há dois caminhos, desistir ou se atirar. Ver a vida lá de cima, deixar o resto do mundo cá embaixo, calcular o risco, imaginar a dor de estatelar-se na queda...
Mas aquela adrenalina... Ah, aquela adrenalina de coração na boca, aquele pulsar acelerado,descompassado, aquele sangue correndo nas veias e gritando: Estás vivo! Estamos vivos! Estou vivo! O prazer de respirar, não mais a brisa leve do rasteiro, o vento impulsivo da montanha, que areja a alma e despenteia os cabelos...
A ousadia de deixar que o outro toque sua pele, seu corpo, sua alma, seu coração. O medo do guardado, pouco a pouco revelado... A duvida do permitir-se ou não. A troca mútua de confiança, o tempo passado a dois, a força das palavras, dos silêncios, dos olhares, das inúmeras sensações.
E que sensação deliciosamente dúbia, essa de apaixonar-se e reapaixonar-se... Pelo outro, por si mesmo, pela vida em seus saltos sem rede de proteção...
Creio que ao decidir lançar-se, todos pensam: Que seja enfim... E que todas as reticências sejam lidas como suspiros... Como pontos de continuação.
Por Cris Vaccarezza

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