O silêncio dos inocentes e a farra dos lobos em pele de cordeiro

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Em busca de viver de acordo com a normalidade vigente, seguimos como plácido rebanho de ovelhas. É aí que o silêncio dos inocentes alimenta os lobos. Principalmente os lobos em pele de cordeiro. 
"O pior cego é aquele que não quer ver."
"A decepção dói mais pois sempre vem de alguém de quem não esperávamos."



Algumas dessas frases chavões que ouvimos por ai, parecem não fazer o menor sentido. Mas não é verdade, descobri que os chavões ainda abrem sim algumas portas. Especialmente na mente dos que tem a coragem de destrancar pesadas portas e arejar velhos quartos repletos de teias de aranha mentais e pensamentos empoeirados. Ideias, repetidas exaustivamente, tornam-se pétreas. Quase férreas. 
Os lobos, travestidos de cordeiros, aqueles que em vez de caçar, em vez de assumir seu ego predador, preferem se valer da turba plácida do rebanho, para disfarçadamente, devorar as ovelhas. Esse tipo de lobo, se aproveita do silêncio imposto pela rotina do rebanho, para semear ervas daninhas. Sempre que pode, deixa uma mentira hipnótica adocicada para um carneirinho comer, deixa uma frase venenosa sobre um amigo para outro carneirinho, planta uma ação distorcida para outra ovelhinha mais adiante e vai semeando... Plantando dúvida e discórdia entre o rebanho. Criando desunião e finalmente, o caos. 
Assim, rompe o laço, quebra a corrente e de repente, algum membro mais fraco, desgarrado, é considerado inútil e fica pra trás. O rebanho lhe vira as costas. 
Por sua conta e risco, numa floresta cheia de lobos, um cordeiro sozinho é presa fácil. Isso, quando não se torna, vítima do lobo infiltrado no próprio rebanho. 
Um único lobo no rebanho, é o suficiente, assim como uma única fruta podre, põe toda a cesta de frutas a perder. Paradoxalmente, um único carneiro alerta, salva todo o rebanho da marcha pro abismo.
Basta que um dos carneiros se dê conta do engano e denunciando, comece a balir. Basta que um deles dê o alerta, para que todo o rebanho desperte do transe da mentira hipnótica, docemente repetida aos ouvidos e elimine a influência negativa. 
Então será o tempo de lamentar as perdas no rebanho e de perceber o quanto a falta de um líder que desse o alarme, custou a todo o grupo. Então talvez já seja tarde demais. 
Essencial é, conforme recomendava o Nazareno, saber separar joio de trigo. Mais que plantar a boa semente, vigiar a plantação. Evitar que os lobos semêem as sementes do mal. Sempre haverá lobos em meio ao rebanho. Se semearem o mal, devemos arrancar da plantação as mudas ruins, antes que cresçam e se tornem árvore frondosa de frutos podres, cuja sombra, nubla os olhos e faz crescer a discórdia até que vire pedra em nossos corações. 
Não há erva mais daninha que a mentira, não há erro maior que a ilusão, não há roubo maior que aquele que é feito à luz do dia, sob a sua supervisão, com a sua permissão. Com o consentimento do nosso silêncio servindo de amém. Não há engano maior que acariciar um lobo que parece ser apenas um inocente carneiro.
Por Cris Vaccarezza

As mãos que embalançam o berço? Aliás, que berço?

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Muito se fala sobre a importância da educação. Que precisamos investir em escolas, que as crianças precisam estudar, que é baixo o rendimento escolar, que os professores não estão atingindo seu objetivo de educar,etc etc... Mas esquecemos de que essas crianças que cruzam os portões das escolas públicas todos os dias, não são apenas estudantes, são pessoas, seres holísticos, cuja mente atribulada, raramente é uma tábula rasa de Locke, que permite ao professor nela escrever os seus ensinamentos. 
Antes de julgar a baixa aprendizagem, seria bom saber quem são esses brasileirinhos antes de chegar à escola? Eles tem saúde para ir às escolas? Eles têm suas necessidades básicas saciadas? Eles tem fome? Qual o papel da escola na vida deles? 
"Tia, eu prefiro vir pra escola do que ficar em casa vendo meu pai bater na gente..." "Eu venho para escola porque se eu não vinher, minha mãe corta o bolsa família" "eu venho pra escola, mas não entendo nada que a fessora fala..." "Moro longe tia, chego tarde, só dá pra sentar cá no fundo. Daqui não vejo nada do quadro". Por outro lado, as professoras dizem: "esses meninos não se concentram em nada!" Não aprendem nada!" " e o governo quer que aprove..." "Haja burrice!". Fato é que há um conflito instalado. Quem está com a razão? Quem está certo ou errado?
O Brasil é funcionalmente analfabeto. Isso quando não é analfabeto de pai e mãe. Esse analfabetismo endêmico se deve à burrice endêmica da minoria letrada e pensante. Sim, porque o silêncio nos momentos de caos também é uma atitude burra. A atitude deveria vir daqueles que tiveram acesso à educação. Que nunca passaram fome, que nunca foram espancados, abusados ou violentados, a quem nunca faltou saúde ou o mínimo preconizado pela OMS para se ter uma condição de bem estar biopsicosocial. Eu disse o mínimo.
Talvez, já venham com conhecimentos errôneos, aprendidos da base. Talvez não venham sem experiencias prévias e prontos a aprender. Talvez, suas tábulas rasas, as pretensas folhas em branco de suas mentes, onde deveriam ser gravados os conteúdos educacionais, já tenham sido gravadas com experiências nefastas.
Precisamos desemburrecer o Brasil, e não há uma fórmula para a mudança. A única forma de seguir é dando o primeiro passo. E o primeiro passo é a investigação. Que há planos, já sabemos. Que há leis, também. Promessas, sempre houve, e ação, cadê? Cadê a avaliação dos planos feitos?Precisamos sair dos recordes de analfabetismo, precisamos dizimar o analfabetismo funcional, precisamos ensinar os jovens a pensar. Nossas crianças que aprendem a ler e escrever, se tornam jovens incapazes de interpretar um texto simples. Como esperar que um dia tenham discernimento para escolher governante?  Muito se fala a respeito da valorização do professor, da importância da educação na escola. E a educação no lar? Como manter na escola, um ambiente social, um indivíduo que não aprendeu a respeitar por exemplo o direito dos outros, a coletividade? Como lidar na escola, com um indivíduo sem noções de hierarquia, respeito aos mais velhos e à autoridade de que é investido o professor naquele momento? Como manter na escola, crianças cujos pais nem sabem que tem só parte da visão de um olho, que não enxergam o quadro, quanto mais, o que está escrito nele? Crianças cujos pais nem sabem que tem um deficit de audição, que não conseguem ouvir o que o professor diz? Como educar uma criança que vai pra escola e tem que dividir a atenção entre o que diz o professor, e o barulho dos colegas e do seu próprio estômago vazio? A questão da educação é mais profunda. Vai além dos muros da escola, nasce em casa, no seio da família. Na mesa da família, que não se reúne mais, na mesa da família que está vazia de comida e repleta de fome, nos quartos das famílias, repletas de meninos paridos de qualquer jeito. Não porque foram desejados, mas porque foram concebidos e gerados pois seu nascimento representa um acréscimo na bolsa família. Não podemos parir bolsas família. Afinal que família? A educação não começa na escola. A educação começa em casa, com pai e mãe. Aliás, que pai? Aliás, quem é o pai? E que mãe? Aquela que tem que trabalhar pra sustentar o vício do pai? Ou o próprio vício? Aquela que tem apenas 13 anos e uma cabeça repleta de sonhos? Aquela que tem que estudar também? Ou aquela que tem que trabalhar em subempregos subumanos porque não tem qualificação para conseguir coisa melhor... E se não tem educação pra si, como esperar que tenham educação pra dar? Como dar daquilo que não se recebeu? O problema talvez seja muito mais ético que isoladamente educacional. Assim como a chave para a saúde está na prevenção, a chave para a educação talvez não esteja no método, mas na formação dos pilares educadores. E esses pilares, são predecessores aos professores que já recebem a bomba chiando. Esses pilares são os pais. "A mão que embala o berço é a mão que rege o mundo." Essa frase, atribuída a Abraham Lincoln, é a chave de toda a reflexão. São os pais, que educam, são eles que passam todos os valores às crianças. Inclusive o papel importante que tem a escola. São eles que delegam ao professor, a tarefa de ensinar os conteúdos aos seus filhos. O problema é que atualmente os pais não embalam mais o berço. São os avós, auxiliados pelos tios, pelos irmãos mais velhos, ou até as tias da creche e as professoras da escola, que tem a imprescindível tarefa de educar. A imprescindível tarefa de dar limites, de EDUCAR. E educar é informar àquele ser todo ego, todo id, todo vontades, que o mundo não é o quintal de sua casa, que ele precisa aprender a obedecer a regras, se quiser viver em sociedade. Que ele precisa ter limites. E como dar limites aos filhos dos outros? Que tarefa árdua? É uma relação de causa e efeito. A raiz do problema, talvez nem esteja nos bancos vazios das escolas, mas nos berços, por vezes inexistentes. Para edificações sólidas, há que se ter bases incorruptíveis. Conserte o autor e estaremos edificando a obra. Então eu volto à pergunta original, o berço. Quem são as mãos que ensinam a caminhar? Quem são as mãos que encaminham na vida? Quem são as mãos que embalançam s berço? O berço esplêndido, no qual permanecemos eternamente deitados? 17/11/2013

No freezer...

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Era assim que ela se sentia.
Ele era o cara que como dizia a terapeuta, conseguia mobiliza-la. Só ele a aquecia. Só com ele revirava os olhinhos e entregava a alma. Sabia que era um cafa, e pior, um cafa do tempo das cavernas. Politicamente incorreto, avesso aos padrões metrossexuais da sociedade atual. Ao contrario de vários amigos que conhecera nesse tempo de solteirice, e cujos argumentos não a convenciam de modo algum, ele era um "macho alfa". 
Consciente de seu dedinho podre, ela tentava, sinceramente tentava, interessar-se por eles. Mas nada! 
Por dentro era gelada como uma torta de limão. Doce na superfície, azeda na essência. Azeda por não ter percebidos seus sabores, diversos do gosto da maioria. Gostava do que detestavam. 
Gostava de ler, gostava de ouvir música que lhe falassem à alma, gostava de clássicos, de vestir casual, de simplicidade, de generosidade, de autenticidade. Detestava desonestidade e demagogia, adorava ação coerente com o discurso. 
Era sim, exigente demais, um alien.
Mais que isso, sabia que no fundo de tudo isso, havia um desejo de encontrar não o novo, mas o perdido. Uma comparação velada... Sabia que convidava com a boca, mas se postava na porta do coração, com uma espada. Só faltava gritar: xô! 
Cansada dos outros e da própria teimosia, resolvera manter-se isolada e em paz. Cautelosamente, escalara a geladeira e se refugiara lá, no congelador, no ponto mais alto da duplex. 
No freezer, aguardando que algum vulcão (talvez o único que lhe mobilizava) enviasse larvas em chamas, que alcançassem seu recanto, aquecendo sua alma, sem lhe violentar o coração.
(Por Cris Vaccarezza)

...Tempo...

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Meu pai sempre disse, e até hoje diz, uma frase que me vem à mente sempre que ouço alguém dizer (ou digo), "estou sem tempo": Tempo é uma questão de preferência!
É sim! Tempo é uma questão de escolhas. Em nossa rotina diária, além das atividades que exercitamos quase que mecanicamente, há aquelas que surgem de repente. E que às vezes se agigantam demandando atenção urgente. Dá para não ter tempo para uma questão assim? Não. Ainda que na agenda não haja tempo disponível, paramos tudo para resolver aquilo que nos aflige. E isso acontece, simplesmente porque, se não paramos para priorizar aquele assunto, as consequências serão graves, as perdas inevitáveis, ou a conquista daquilo que nos interessa, pode ficar ameaçada. Então encontramos tempo.
Há também, as coisas que queremos muito fazer, com as quais sonhamos e planejamos, ou as que nos dão prazer. Para essas, não importa o sacrifício, sempre se arruma um tempo. Através de uma verdadeira engenharia temporal, desconstruímos agendas, adiamos compromissos, negociamos atrasos, rearrumamos tudo, mas encontramos tempo para aquilo que nos interessa fazer. Para aquilo que preferimos fazer. 
Ao contrario, para aquelas coisas que nos desagradam, que exigem tomadas de atitude difícil, que exigem esforço sem representar grandes ganhos, nunca há tempo. Deixemos para amanha. Pior, deixemos que o tempo se encarregue de encontrar a resposta. Não nos interessa pensar a respeito. Não queremos pagar o ônus emocional, ou simplesmente, é um assunto que não nos interessa. 
Há ainda, aqueles casos em que apesar se não termos prazer em realizar determinada função, temos que encontrar tempo para ela, por obrigação. Nesse caso, a escolha é justamente seguir por falta de opção. Prazer, nenhum, e um tempo a elas emprestado de má vontade. Vamos empurrando com a barriga, até que algo nos permita tirar aquilo da lista das necessidades e o tempo para executa-las, passe a não existir. Um abandono.
A grosso modo, de maneira ilustrativa e evitando a generalização, creio que nossas escolhas ocorram mais ou menos assim: "Não tenho tempo para ir à academia!". Melhor seria dizer, não me interessa ir à academia. Ficar malhado tem um custo que a minha comodidade não está disposta a pagar. Mas basta aparecer aquele motivo interessante, personificado num corpo sarado que nos faça um convite certo, a companhia ideal e a academia passa a ser instantaneamente, uma extensão da nossa própria casa: Não abro mão da minha ginástica! Adoro estar em forma! Malhar, pra mim, é como respirar.
Mas vai que a coisa engrena, começa um namoro e na semana seguinte, a distinta ou o distinto, passeando pelos corredores da livraria, esbarra com uma beldade intelectual que lhe interessa imediatamente, eis que subitamente, a academia passa a ser algo pouco interessante, visto que o padrão sarado não seria uma prioridade para o interesse do momento. Se houver um contato e o interesse for mútuo, na semana seguinte, haverá mais idas a livrarias, bibliotecas, cinemas, concertos e bales, que à academia.
Tempo é sim uma questão de preferência. Preferi fazer isso e deixar de fazer aquilo porque isso me trará um retorno e aquilo não, ou não tão rápido. Claro que existem exceções, como em tudo. Há as urgências, nas quais querendo ou não, temos que arrumar tempo. São demandas procrastinadas, de escolhas que não priorizamos, ou são demandas alheias que exigem moralmente, uma solução imediata. Imprevistos, urgências acontecem. No entanto, ocorrem por breve período e muito raramente, afinal, exceto os bombeiros, ninguém vive de apagar incêndios. É impossível estar rotineiramente de urgência em urgência. Isso gera um estresse monumental.
Em resumo, traduzindo para bom português, normalmente, quando dizemos "estou sem tempo para nada", queremos dizer na verdade, estou sem tempo para isso; isso não me interessa no momento. E se esse "isso" para a qual não temos tempo, for alguém. Estamos obviamente, embora inconscientemente, comparando esse alguém a nada. "Não tenho tempo para nada" você é nada, por tanto, não tenho tempo para você.
Se você está sentindo que isso anda acontecendo contigo, sei não... Talvez seja hora de arrumar um tempinho na agenda e rever os seus conceitos.
Por Cris Vaccarezza

Os "diferentes" tempos da ditadura

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Politicamente incorreta, começo a escrever sobre um tema que certamente vai gerar críticas: A "direitofobia". 
Mas o objetivo é questionar, até que ponto estamos sendo manipulados? Se estimular reflexões e conseguir quebrar um pedacinho do gelo que nos mantém estáticos, o objetivo terá sido alcançado. 
Desde que o golpe dos militares trouxe a ditadura para as ruas do Brasil, com a repressão aos dissidentes, com as torturas aos "comunistas", com a sombra asfixiante da censura e mais uma série de atrocidades civis, que parece que nos tornamos fóbicos a quase tudo o que possa de longe parecer, conduzir ou sinalizar para um regime ditatorial, que NA ÉPOCA, era representado pela direita.
Tudo bem, gato escaldado, tem sim, muito medo de água fria. Fomos às ruas, lutamos pelo diretas já, pelo nosso evidente e inegável direito de votar e escolher. Até ai, tudo correto. 
O problema é que o ser humano tende a acostumar-se a um estado de normalidade. E inteligentemente, alguém passou a estudar o comportamento das massas. Começou a raciocinar um golpe democraticamente aberto, escancaradamente democrático e claramente preparado para subliminarmente, nos convencer a marchar. Não mais coagidos pelo medo da repressão, da ditadura, da censura. Coagidos agora, pela fobia de seu retorno.
Não! Pelamor de Deus! TUDO, menos a ditadura dos militares de volta!
Me lembra mais uma vez a alegoria da caverna de Platão. Me parece que estamos presos por vontade em uma caverna (de nomose e ignorância) donde só podemos enxergar as sombras de quem passa fora dessa caverna. Projetadas na parede da caverna, na penumbra, essas sombras nos parecem assustadoras e nos impedem de sair da caverna e buscar a luz da verdade e do conhecimento.
O que não percebemos, é que por medo de voltar a ser vítimas da ditadura da direita, vivemos numa outra ditadura mais sutil,mas não menos perigosa. A ditadura da esquerda, agora rebatizada de "exquerda", para que pareça que é obra "de direita" também. Seus soldados, não são mais os uniformizados militares. Os soldados de seu exército, são os pobres miseráveis que sempre existiram e continuam existindo, armados com os títulos de eleitor, e governados pela ameaça de perder as suas bolsas-família, gás, escola, etc, etc.
O que não percebemos, é que a censura está nas ruas, de maneira evidente. Quiseram cercear o direito da maioria de ir e vir, de se manifestar, de discordar, de protestar. Quiseram calar a voz que começa a se levantar. Que sempre começa a se elevar quando tudo tende a chegar a um limite. Mas num período em que Amarildos somem da unidade de polícia pacificadora; em que jornalistas e idosos são alvejados por balas de borracha, vocês estão com medo de que?
Ah é, tem aquela ameaça de que a direita estava leiloando o Brasil, acabando com o poder estatal. Até isso foi modernizado. Nada comparado a essa horda de corrupção juridicamente embasada, que assola o pais. Estamos num mar de lama mais profundo que o pré-sal e o governo continua nos anestesiando, investindo na política do pão e circo para calar a multidão de miseráveis que lhes serve de exército e para anestesiar os que talvez tivessem algum poder para modificar as coisas. 
O jargão é o mesmo pseudoassistencialista de sempre: "Nós nos preocupamos com você!" "Como nunca antes, na história desse país!". Para esconder a podridão das suas negociatas, disfarçadamente, inserem cultura recheada de marketing para ganhar com a engenharia mercadologica atual. Me explico: Citando apenas um exemplo do que é rotineiramente feito, recentemente, o governo lançou o vale cultura. Òhhhh! Que interessante! O governo quer que o país se torne mais intelectualizado! (Aplausos!) 
Mas mais intelectualizado, fazendo o que? Investindo esses R$ 50,00 do vale em: A) Cinema? B)Teatro? C) Livros? D) Espetáculos musicais de bom nível? E( de errado mesmo)Tv por assinatura? Qual das alternativas lhe parece mais palpável? A mim, parece que à tv por assinatura. A quem interessa isso? Quem é o proprietário de uma das maiores empresas de telefonia, internet e tv por assinatura do pais? Oi??? Não sabe? Seria bom pesquisar.
Bem, é claro que as pessoas ainda podem escolher outras opções culturais, principalmente o cinema. Mas que filmes seriam esses? Será que as pessoas optariam por um cult, com o nível intelectual que hoje temos? Será que optariam por livros em um pais que não lê? Percebe? É uma ditadura? Claro que não! Somos (aparentemente)livres! Opções há! Mas as opções são todas incorretas. Todas, menos uma. A mais óbvia. 
Vivemos a ditadura da obviedade. Está tão óbvia, que sequer enxergamos, tão focados que estamos em nossos tablets, smartphones e mp3 players. Assim fica fácil! Nos tornamos, por vontade própria, reféns dos inocentes úteis do exército do poder. Violência? Pra que, não é?
Por fim, vemos os poderosos utilizarem a justiça, a mesma justiça que condena um pai de família que roubou uma galinha pra alimentar a família faminta à prisão, libertar da cadeia, políticos e lobistas que enfiaram a mão em nossos bolsos com gosto.
Pra mim, quem lesa, rouba, desfalca ou engana, age com a mesma falta de caráter. E mereceria, em tese, punição. O que me irrita é a falta de coerência com que as coisas são normalmente tratadas no Brasil.
Da mesma maneira, o objetivo aqui, não é defender os erros da ditadura militar, mas alertar para o erro que nós mesmos estamos cometendo, em nome de um medo que é fictício, de um fantasma que foi criado apenas para nos manter sob o cerco da ignorância, por aqueles que antes criticavam os "de direita" e agora pioraram a tortura, os impostos, a corrupção, a manipulação e o controle sob nossas vidas. Agora, sem censura, abertamente. Nas nossas caras!
Creio que somente o exercício do pensar, do questionar, do discordar, pode acordar o gigante que após breve tomada de consciência, parece ter sido dopado outra vez. O caminho, não é pelos extremos. Se caminharmos só para a direita ou só para a esquerda, andaremos em círculos, como há anos. O caminho é o equilíbrio. Que nos permite colocar os pés tanto na direita, quanto na esquerda, quando necessário. Mais que isso, é o caminho do meio, o do equilíbrio, que nos permite andar pra frente.
Por Cris Vaccarezza

Dos riscos, das perdas, e dos danos...

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Nos perdemos. Nós nos perdemos um do outro, assim, de repente, como se perde a mala ou a viagem. Nos perdemos com se perde o ônibus ou o avião, e permanece-se ali na estação, vendo bonde e esperança irem embora, junto com os planos todos que foram feitos na véspera. Vendo todos os castelos de sonhos, erguidos em doces nuvens de algodão, dissolvendo ante o calor da realidade. Perdemos o bonde. 
E ficamos agora, diante do inevitável avaliar, meditar, culpar-se e questionar-se, onde foi que eu errei afinal? Teria eu sido negligente? Ausente? Inconstante? Teríamos simplesmente percebido que o destino onde queríamos chegar juntos, era distante demais? Sim, nós perdemos o bonde.  
Teríamos nós, concluído, ainda que silenciosamente, que erramos na escolha ou no destino? Ou que não estávamos tão interessados assim em partir, quanto os amigos Vanessa, Maria, Jorge, Paula ou Luiz pensavam? E que nos faziam atores felizes de histórias rosadas com final feliz. Como bem falaram eles, como bem disseram... Em vão! Éramos nós mesmos os personagens daquelas histórias? Talvez não. Quem saberá? Jamais se saberá, afinal, perdemos o bonde. 
O fato é que diante da certeza da perda, da constatação, do pesar, de ter chegado (atrasado) à estação, quando o trem já partiu, constatamos que a viagem talvez nem valesse tanto a pena assim. Talvez nem fosse pra ir. Que nos importa? Perdemos o bonde. 
É! Talvez seja melhor assim... A vida sabe o que faz. Se foi ela que nos uniu, também tratou de separar. Deixa ir, deixa estar! Afinal, o trem que partiu, um dia, necessariamente terá que voltar. E se for do regalo da vida, por alguma reviravolta, alheia à nossa vontade, estaremos aqui na estação, aguardando, quando ele chegar. Deixa que vá!
Perdemos o bonde. A esperança, talvez não!
Por Cris Vaccarezza 

Como um cavalo, trabalhou...

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Dez e meia da manha, o sol já ia alto, o asfalto fervia, o trânsito infernal de sempre no meio da metrópole. Um ir e vir de gente, um zigue-zaguear de carros apressados, um zunir de motos pelos corredores e um buzinaço de endoidecer monge budista. Nada diferente de um dia "normal". Nada que fosse digno de chamar a atenção dos estranhos. De repente, ao passar pela avenida apinhada, uma ilha, um vazio. 
Eis que ali, no canto da via, jazia um equino jogado. Era magro, muito magro, branco de tão pálido, bege de tão sujo e imóvel, parecia nem respirar. Ao seu lado, agora suspenso, o grilhão de toda uma vida, a carroça. O que mais chamava atenção no bizarro do quadro, era  o contraste entre a pesada ferramenta de trabalho, até há pouco a ele atrelada, e o estado esquálido do pobre animal: Trabalhara até a morte. Finalmente, aquele pobre animal conhecia o sabor da liberdade. Somente agora, estava livre dos arreios e chibatas, e descansava ali, no chão, entregue, às moscas e à comiseração pública. Que lástima!
Lastimava ainda mais a falta de divindade daquele ser humano, tão humano, tão racional, que levou o irracional àquele estado. Que imensa necessidade tinha, para permitir tamanha atrocidade? Não teria aquele animal demonstrado qualquer sinal de fadiga antes de desabar morto no meio da avenida? Ou seriam eles mais duas vítimas do inevitável, da desigualdade, da cegueira social, das bolsas-isso-e-aquilo, que supostamente livram da miséria? Que livramento de miséria teria poupado a vida daquele pobre cavalo? Talvez a educação! Quem sabe se aquele desesperado, ao invés de bater com a chibata num lombo magro, tivesse aprendido a ler e escrever, o final dessa história tivesse outro fim. Será? Será mesmo meu Deus, que estamos no caminho certo? Aquele animal não fora vítima do egoísmo. Fora vítima do "que jeito?"! Enquanto nossos pratos recheados, nossas camas quentinhas, nossas casas perfeitas nos aguardam, para muitos, só resta o "que jeito?".
E o corpo permanecia ali, num canto da avenida. Tão benevolente fora o bicho, que cairá morto num canto, sem atrapalhar o transito. Morreu como vivera, sem chamar a atenção para seu drama. Sem reclamar.
Ao seu redor, quatro ou cinco animais, dos racionais, provavelmente curiosos. E finalmente, agachado junto ao bicho, um Zé... Ou João, Carlos ou Pedro. Um apóstolo qualquer, testemunha final da agonia de seu companheiro de trabalho, que tristemente acompanhava o pouco que tinha, tornar-se ainda menor, diante daquela perda. Um necessitado, que ora lamentava, provavelmente preocupado com quem iria carregar aquela carroça de volta pra casa. Mais que isso, como render o dia de trabalho perdido.
E agora? Quem garantiria o pão dos meninos mais novos, quem garantiria o fumo da mulher, que por sua vez, fornecia o leite do mais novo? E quem garantiria o trocado extorquido pro crack do mais velho? Quem garantiria o trago de cachaça que lhe permitia engolir toda aquela dor, deitar e dormir até o próximo sol? Conformado, como todo brasileiro, começou a arrastar a carroça para longe, antes que fosse multado ou penalizado por aquela morte. Um ultimo olhar praquele que fora seu sustento e partiu cabisbaixo de volta pra casa. Sem remorsos. Tinha que tocar em frente. Que tempo tem de ter remorsos, um homem como ele? Que jeito?
É, Zé! Pelo jeito, tem jeito não...
Por Cris Vaccarezza


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