As mãos que embalançam o berço? Aliás, que berço?

Muito se fala sobre a importância da educação. Que precisamos investir em escolas, que as crianças precisam estudar, que é baixo o rendimento escolar, que os professores não estão atingindo seu objetivo de educar,etc etc... Mas esquecemos de que essas crianças que cruzam os portões das escolas públicas todos os dias, não são apenas estudantes, são pessoas, seres holísticos, cuja mente atribulada, raramente é uma tábula rasa de Locke, que permite ao professor nela escrever os seus ensinamentos. 
Antes de julgar a baixa aprendizagem, seria bom saber quem são esses brasileirinhos antes de chegar à escola? Eles tem saúde para ir às escolas? Eles têm suas necessidades básicas saciadas? Eles tem fome? Qual o papel da escola na vida deles? 
"Tia, eu prefiro vir pra escola do que ficar em casa vendo meu pai bater na gente..." "Eu venho para escola porque se eu não vinher, minha mãe corta o bolsa família" "eu venho pra escola, mas não entendo nada que a fessora fala..." "Moro longe tia, chego tarde, só dá pra sentar cá no fundo. Daqui não vejo nada do quadro". Por outro lado, as professoras dizem: "esses meninos não se concentram em nada!" Não aprendem nada!" " e o governo quer que aprove..." "Haja burrice!". Fato é que há um conflito instalado. Quem está com a razão? Quem está certo ou errado?
O Brasil é funcionalmente analfabeto. Isso quando não é analfabeto de pai e mãe. Esse analfabetismo endêmico se deve à burrice endêmica da minoria letrada e pensante. Sim, porque o silêncio nos momentos de caos também é uma atitude burra. A atitude deveria vir daqueles que tiveram acesso à educação. Que nunca passaram fome, que nunca foram espancados, abusados ou violentados, a quem nunca faltou saúde ou o mínimo preconizado pela OMS para se ter uma condição de bem estar biopsicosocial. Eu disse o mínimo.
Talvez, já venham com conhecimentos errôneos, aprendidos da base. Talvez não venham sem experiencias prévias e prontos a aprender. Talvez, suas tábulas rasas, as pretensas folhas em branco de suas mentes, onde deveriam ser gravados os conteúdos educacionais, já tenham sido gravadas com experiências nefastas.
Precisamos desemburrecer o Brasil, e não há uma fórmula para a mudança. A única forma de seguir é dando o primeiro passo. E o primeiro passo é a investigação. Que há planos, já sabemos. Que há leis, também. Promessas, sempre houve, e ação, cadê? Cadê a avaliação dos planos feitos?Precisamos sair dos recordes de analfabetismo, precisamos dizimar o analfabetismo funcional, precisamos ensinar os jovens a pensar. Nossas crianças que aprendem a ler e escrever, se tornam jovens incapazes de interpretar um texto simples. Como esperar que um dia tenham discernimento para escolher governante?  Muito se fala a respeito da valorização do professor, da importância da educação na escola. E a educação no lar? Como manter na escola, um ambiente social, um indivíduo que não aprendeu a respeitar por exemplo o direito dos outros, a coletividade? Como lidar na escola, com um indivíduo sem noções de hierarquia, respeito aos mais velhos e à autoridade de que é investido o professor naquele momento? Como manter na escola, crianças cujos pais nem sabem que tem só parte da visão de um olho, que não enxergam o quadro, quanto mais, o que está escrito nele? Crianças cujos pais nem sabem que tem um deficit de audição, que não conseguem ouvir o que o professor diz? Como educar uma criança que vai pra escola e tem que dividir a atenção entre o que diz o professor, e o barulho dos colegas e do seu próprio estômago vazio? A questão da educação é mais profunda. Vai além dos muros da escola, nasce em casa, no seio da família. Na mesa da família, que não se reúne mais, na mesa da família que está vazia de comida e repleta de fome, nos quartos das famílias, repletas de meninos paridos de qualquer jeito. Não porque foram desejados, mas porque foram concebidos e gerados pois seu nascimento representa um acréscimo na bolsa família. Não podemos parir bolsas família. Afinal que família? A educação não começa na escola. A educação começa em casa, com pai e mãe. Aliás, que pai? Aliás, quem é o pai? E que mãe? Aquela que tem que trabalhar pra sustentar o vício do pai? Ou o próprio vício? Aquela que tem apenas 13 anos e uma cabeça repleta de sonhos? Aquela que tem que estudar também? Ou aquela que tem que trabalhar em subempregos subumanos porque não tem qualificação para conseguir coisa melhor... E se não tem educação pra si, como esperar que tenham educação pra dar? Como dar daquilo que não se recebeu? O problema talvez seja muito mais ético que isoladamente educacional. Assim como a chave para a saúde está na prevenção, a chave para a educação talvez não esteja no método, mas na formação dos pilares educadores. E esses pilares, são predecessores aos professores que já recebem a bomba chiando. Esses pilares são os pais. "A mão que embala o berço é a mão que rege o mundo." Essa frase, atribuída a Abraham Lincoln, é a chave de toda a reflexão. São os pais, que educam, são eles que passam todos os valores às crianças. Inclusive o papel importante que tem a escola. São eles que delegam ao professor, a tarefa de ensinar os conteúdos aos seus filhos. O problema é que atualmente os pais não embalam mais o berço. São os avós, auxiliados pelos tios, pelos irmãos mais velhos, ou até as tias da creche e as professoras da escola, que tem a imprescindível tarefa de educar. A imprescindível tarefa de dar limites, de EDUCAR. E educar é informar àquele ser todo ego, todo id, todo vontades, que o mundo não é o quintal de sua casa, que ele precisa aprender a obedecer a regras, se quiser viver em sociedade. Que ele precisa ter limites. E como dar limites aos filhos dos outros? Que tarefa árdua? É uma relação de causa e efeito. A raiz do problema, talvez nem esteja nos bancos vazios das escolas, mas nos berços, por vezes inexistentes. Para edificações sólidas, há que se ter bases incorruptíveis. Conserte o autor e estaremos edificando a obra. Então eu volto à pergunta original, o berço. Quem são as mãos que ensinam a caminhar? Quem são as mãos que encaminham na vida? Quem são as mãos que embalançam s berço? O berço esplêndido, no qual permanecemos eternamente deitados? 17/11/2013

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