...Tempo...

Meu pai sempre disse, e até hoje diz, uma frase que me vem à mente sempre que ouço alguém dizer (ou digo), "estou sem tempo": Tempo é uma questão de preferência!
É sim! Tempo é uma questão de escolhas. Em nossa rotina diária, além das atividades que exercitamos quase que mecanicamente, há aquelas que surgem de repente. E que às vezes se agigantam demandando atenção urgente. Dá para não ter tempo para uma questão assim? Não. Ainda que na agenda não haja tempo disponível, paramos tudo para resolver aquilo que nos aflige. E isso acontece, simplesmente porque, se não paramos para priorizar aquele assunto, as consequências serão graves, as perdas inevitáveis, ou a conquista daquilo que nos interessa, pode ficar ameaçada. Então encontramos tempo.
Há também, as coisas que queremos muito fazer, com as quais sonhamos e planejamos, ou as que nos dão prazer. Para essas, não importa o sacrifício, sempre se arruma um tempo. Através de uma verdadeira engenharia temporal, desconstruímos agendas, adiamos compromissos, negociamos atrasos, rearrumamos tudo, mas encontramos tempo para aquilo que nos interessa fazer. Para aquilo que preferimos fazer. 
Ao contrario, para aquelas coisas que nos desagradam, que exigem tomadas de atitude difícil, que exigem esforço sem representar grandes ganhos, nunca há tempo. Deixemos para amanha. Pior, deixemos que o tempo se encarregue de encontrar a resposta. Não nos interessa pensar a respeito. Não queremos pagar o ônus emocional, ou simplesmente, é um assunto que não nos interessa. 
Há ainda, aqueles casos em que apesar se não termos prazer em realizar determinada função, temos que encontrar tempo para ela, por obrigação. Nesse caso, a escolha é justamente seguir por falta de opção. Prazer, nenhum, e um tempo a elas emprestado de má vontade. Vamos empurrando com a barriga, até que algo nos permita tirar aquilo da lista das necessidades e o tempo para executa-las, passe a não existir. Um abandono.
A grosso modo, de maneira ilustrativa e evitando a generalização, creio que nossas escolhas ocorram mais ou menos assim: "Não tenho tempo para ir à academia!". Melhor seria dizer, não me interessa ir à academia. Ficar malhado tem um custo que a minha comodidade não está disposta a pagar. Mas basta aparecer aquele motivo interessante, personificado num corpo sarado que nos faça um convite certo, a companhia ideal e a academia passa a ser instantaneamente, uma extensão da nossa própria casa: Não abro mão da minha ginástica! Adoro estar em forma! Malhar, pra mim, é como respirar.
Mas vai que a coisa engrena, começa um namoro e na semana seguinte, a distinta ou o distinto, passeando pelos corredores da livraria, esbarra com uma beldade intelectual que lhe interessa imediatamente, eis que subitamente, a academia passa a ser algo pouco interessante, visto que o padrão sarado não seria uma prioridade para o interesse do momento. Se houver um contato e o interesse for mútuo, na semana seguinte, haverá mais idas a livrarias, bibliotecas, cinemas, concertos e bales, que à academia.
Tempo é sim uma questão de preferência. Preferi fazer isso e deixar de fazer aquilo porque isso me trará um retorno e aquilo não, ou não tão rápido. Claro que existem exceções, como em tudo. Há as urgências, nas quais querendo ou não, temos que arrumar tempo. São demandas procrastinadas, de escolhas que não priorizamos, ou são demandas alheias que exigem moralmente, uma solução imediata. Imprevistos, urgências acontecem. No entanto, ocorrem por breve período e muito raramente, afinal, exceto os bombeiros, ninguém vive de apagar incêndios. É impossível estar rotineiramente de urgência em urgência. Isso gera um estresse monumental.
Em resumo, traduzindo para bom português, normalmente, quando dizemos "estou sem tempo para nada", queremos dizer na verdade, estou sem tempo para isso; isso não me interessa no momento. E se esse "isso" para a qual não temos tempo, for alguém. Estamos obviamente, embora inconscientemente, comparando esse alguém a nada. "Não tenho tempo para nada" você é nada, por tanto, não tenho tempo para você.
Se você está sentindo que isso anda acontecendo contigo, sei não... Talvez seja hora de arrumar um tempinho na agenda e rever os seus conceitos.
Por Cris Vaccarezza

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