O rei do Lulu

Em tempos de Lulu, quem tem muitas qualificações, é rei... Ou não! Vale a pena ser um cara estourado nessas redes sociais?
Tenho observado com atenção o novo burburinho do momento, o Lulu. Trata-se de um aplicativo para smartphones em que as mulheres tem a opção de qualificar positiva ou negativamente os rapazes de sua rede social, avaliando o desempenho do mancebo em aspectos como aparência, compromisso, desempenho sexual, entre outros. Note bem, eu disse qualificá-los, sem necessariamente ter que ser quantificado por isso, já que tudo isso, é feito anonimamente. Elas tem também a opção de descrevê-los através de adjetivos, denominados pelo aplicativo, de hashtags. Podem ser usadas descrições do tipo: #mãosfortes, #semprecheiroso, ou pejorativas como #filhodamamãe ou #fazoserviçoesome. 
Evidentemente, um aplicativo assim, rapidamente "bombaria" entre os jovens e adolescentes. Mas surpreendentemente, tem feito sucesso também, nas outras faixas etárias e entre as mulheres mais maduras. E as críticas à iniciativa, não tardaram a aparecer: Um absurdo! Uma invasão de privacidade! Uma vingança escandalosa!
Eu particularmente, acho um exagero. Dos críticos, é claro! Deixa falar! Creio que finalmente, as mulheres, sempre tão desunidas, tomaram pé da situação e resolveram trocar informações. Trocar figurinha. 
Um absurdo? Por que? Os homens sempre fizeram isso, de forma escancarada ou à boca pequena, as mulheres, peguetes, ficantes, sempre foram assunto nas rodas de amigos, ou nas sociais, nas baladas: "Fulana, já peguei!" "Ciclana, é uma periguete!" "Ah, ali eu já fui. Não vá não, que é pra casar." Doçuras do gênero... E ninguém nunca apedrejou as rodas de amigos. Sempre existiram os famosos clubes do bolinha, onde mulher só entra como assunto. Pior ainda, sempre houve a violência de divulgar a intimidade, fotos  e vídeos de suas parceiras na internet, após o fim do relacionamento. Isso não é ser vingativo? Por que agora, as críticas ao Lulú?
Hipocrisia claro, somada a um medo de exposição. Afinal, aos homens, a sociedade tudo permite. Eles sempre puderam, em nome do ego ou do status social, difamar as ficantes, ou ex-namoradas, depois de iludí-las, de pegar geral, sumir, e contar isso em mesa de bar, pros amigos e pra quem mais quiser ouvir. Afinal, "de que adianta pegar, se não puder contar, não é?". 
O silêncio sempre beneficia ao mais forte, e frequentemente, ao que está errado. Mas a sociedade é machista. Para os homens, mais vale a quantidade que a qualidade do serviço, quanto mais casos, melhor. Para as mulheres, ocorre o contrário. Como é que mulheres poderiam contar que já pegaram e o que acharam, se não anonimamente? Pois é, agora podem. Qualificar o quantificado, esclarecer que nem sempre o tanto é tão bom... A grande sacada, é que agora isso é aberto, num aplicativo, para quem quiser acessar.
É, elas conseguiram! Pioraram as coisas! Jogaram a "caquinha" alheia num daqueles cata-ventos eólicos. Caiu na net! Agora, está menos desigual, o cafa pode aprontar o que ele quiser, depois, ganha nota baixa no Lulu. Se se sentir ofendido, ele pode reclamar, exigir a remoção do perfil, ou pode ainda ler e usar as informações para mudar algo (esperança vã...).
Talvez ainda faltem nas hashtags, opções como #casadoesafado, #homemplacebo, #culturalmentevazio, #propagandaenganosa, #muitobarulhopornada ou um elogioso #ficaadica, #superrecomendo, #inteligente, #generoso, #criativo, #proativo, etc, no entanto, a princípio, o Lulú é uma iniciativa válida. 
Daqui a pouco, algum revanchista, aborrecido com a má fama de cafa recém adquirida, vai criar um outro aplicativo que permita igualmente, qualificar mulheres. É sempre assim, os homens inventam a moda, as mulheres reagem a ela, absorvendo-a e piorando. Quando eles percebem o estrago, correm atrás do prejuízo. E o mundo vem mudando desde sempre. Foi assim com o trabalho, o dinheiro, o álcool, o cigarro, com a liberdade sexual, e agora, com a liberdade de qualificar aqueles com quem se relacionou. Tempos modernos... Você pode aprontar, mas isso não vai mais ficar escondido sob a capa da hipocrisia social. Agora, vestidas de anonimato, as mulheres popularizaram o clube da Luluzinha, nos mesmos moldes do antigo clube do bolinha, só que pior, globalizado, pra quantas Luluzinhas quiserem participar. Pode entrar e qualificar à vontade. Só não vale mentir. Mas com a liberdade de que alguns homens fazem uso de maneira errada, creio que as mulheres nem vão precisar se dar ao trabalho, só dizer a verdade, já é o suficiente para inadvertidamente, detonar muita gente.
(Por Cris Vaccarrrezza)

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