Biohazard

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Sabe quando você descobre da pior maneira possível que aquilo que parecia tão controladinho, tão racional, que aquele gelo que você achava que mantinha seu coração a salvo do vulcão emocional derreteu há muito tempo e você não viu?!
Pois é, uma pena! De repente, ele passa num fim de tarde todo arrumado para sair e não é com você. De repente, o cheiro dele vai ficando mais tempo colado na sua lembrança, de repente você espera aquela ligação tão óbvia que poderia ser contada em minutos 5,4,3,2,1... E nada!
É aí que você se dá conta de qua não era a última bolacha do saco... Lá no fundo havia mais uma ou mais algumas.
E você se pega numa crise de ciúmes daquele cara com o qual jurava que não iria se envolver. Nada! Isso é só passatempo... É, amiga! Pois o tempo passou e você nem percebeu o tamanho do alçapão. Aos poucos, foi-se deixando enredar pelo carinho dele, aos poucos foi cedendo, se deixando envolver... Caiu de patinha e nem notou que aquele cara com quem mantinha a tal distância emocional, aos poucos foi se distanciando e agora, já é possível ver sem sombra de dúvida que está longe demais do seu alcance. Saiu do entorno do seu abraço e você nem viu. Tão focada que estava em olhar para o retrovisor, nem percebeu o iceberg se aproximando, e como bom Titanic, naufragou...
Não é meio tarde agora, para ficar com ciumeira boba? Não era você que jurava que jamais voltaria a sentir ciúmes de alguém? Não era você que estava no controle? Claro que não, querida! Nunca esteve! Coração é caixinha de fósforo em meio ao mar agitado das sensações conflituosas. Se soltar o leme, por um segundo que seja, tarde demais...
E você, querida, confiou demais no passado. Achou que as cicatrizes te manteriam a salvo, e que os vírus daquele amor fracassado te imunizariam de novas desilusões... Esqueceu-se do Biohazard, subestimou o risco biológico, o risco de estar vivo, de ser humano. Sucumbiu ao risco eterno de respirar.
Grande erro, deixou-se infectar! Tarde demais pra deixar essa lágrima escorrer. Tarde demais!
Por:Cris Vaccarezza

"Caduquice de gente rica..."

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Outro dia ouvi estarrecida, de minha filha, neta dedicada e parceira nos cuidados com a avó, o relato de que seu professor de biologia, em uma aula sobre cérebro, questionado por um aluno o que era doença de Alzheimer, respondeu secamente que se tratava de "Caduquice de gente rica".
É muito triste ver o despreparo com que a maioria das pessoas trata a Doença de Alzheimer. Mais que triste, chega a ser preocupante, dada à gravidade da doença, a crueldade dos sintomas e o aumento do número de casos entre idosos e também, entre adultos maduros.
Para quem ainda não sabe, a doença de Alzheimer, apesar da extensão de danos que provoca, já deixou de ser denominado de mal de Alzheimer, é classificada como um tipo de demência, mas não é "caduquice". Caduquice é um termo antigo, dado à demência mental que acometia preferencialmente pessoas idosas, também conhecida erroneamente como "esclerose". Segundo o dicionário, caduquice é ainda estado ou ação de quem está caduco, isto é, de quem está com a razão embotada em consequência natural da extrema velhice e não uma doença e seria um estado estacionário. O Alzheimer, por outro lado, é uma doença neurológica degenerativa, que ainda não tem cura, e que evolui para a letalidade em 100% dos casos. Com o tempo, o paciente vai perdendo as faculdades e funções psicomotoras e sociais, até o fim.
A doença de Alzheimer, também não é "de gente rica" apenas. Pelo contrário, muitos pacientes com baixo poder aquisitivo enfrentam os desafios da doença acrescidos desse agravante para fazer frente ao alto custo das medicações e à cronicidade da doença, que carece de cuidados intensivos e diuturnos. Felizmente, o governo já inclui as medicações para a doença no programa de medicações de alto custo e fazem a distribuição gratuita da medicação e o médico responsável poderá orientar a família, após o diagnóstico.
Infelizmente, as pessoas tem o conhecimento superficial de que Alzheimer é ligado apenas à perda de memória recente, mas esses são os primeiros sintomas. Por serem justamente confundidos com caduquice, os sintomas são ignorados e a consulta com o neurologista, adiada, perdendo-se a oportunidade de uma intervenção mais efetiva em uma fase precoce, o que permitiria uma atuação mais eficaz das drogas, permitindo ao paciente uma vida com qualidade por mais tempo.
Nas três fases por que passam os portadores da DA, eles carecerão de afeto e cuidados especiais. Mesmo nas fases iniciais. Perda de memória, desorientação no espaço/tempo, sensação de vazio, alterações de humor, agressividade, intolerância ao barulho, mudanças bruscas de comportamento, confusão mental, são sintomas que podem levá-los à depressão. Nas fases mais avançadas, as perdas podem ser ainda mais graves. Paulatinamente, o paciente vai perdendo as vontades naturais, esquece de comer e se comeu, de tomar banho, de tomar os remédios, de se vestir, e vai evoluindo, ou involuindo até esquecer como andar e falar, na fase final da doença, ficam confinados ao leito, dependentes totais do cuidado externo.
Ter um ente querido com DA, é ter o desafio de amar sem limites, de compreender antes de tudo, que as atitudes impensadas e confusas que certamente virão, são frutos de uma doença cruel, e não do comportamento daquele a quem amamos. É o desafio de estar ao lado, de cuidar incondicionalmente. É um aprendizado duro de como abdicar de si mesmo, em favor daquele que tanto nos amou, embora já não se lembre de nós e a quem tanto amamos.
Nesse momento, é importante que a família esteja reunida em torno do paciente, e que se revezem nos cuidados. Primeiro para que o paciente não se sinta desamparado ou esquecido, e depois, para que nenhum cuidador fique sobrecarregado na tarefa de amparar, pois corre o risco de também adoecer. Vale lembrar que cuidar de portador de DA é tarefa ininterrupta. É como cuidar de um adolescente questionador e rebelde, depois de uma criança agitada, com a diferença de que não se tem a mesma autoridade com um pai ou uma mãe idosos, que se teria com uma criança ou um adolescente. Crianças, normalmente obedecem, idosos com Alzheimer, não. Por fim, na fase final da doença, o cuidado assemelha-se ao que carece um bebê totalmente dependente de atenção e carinho. Tudo isso com o luto associado a cada uma dessas perdas daquele a quem amamos, com a crescente sensação de impotência que nos leva da tristeza ao desespero.
É a experiência inversa à de criar filhos, onde a cada dia, vemos o ser conquistar mais e mais capacidades, habilidades, conhecimentos e independência. Cuidar de um portador de DA, é presenciar a perda paulatina de todas as faculdades de quem amamos. Com o único consolo, por assim dizer, de poder se despedir dele diariamente, repetidas vezes, até o fim.
Essas são as informações de uma leiga. Achados completamente informais, fruto das nossas angústias e experiencias pessoais e do pouco que aprendemos até hoje, desde que minha mãe foi diagnosticada com Alzheimer. Mas do pouco que aprendi, uma coisa fica clara, Doença de Alzheimer está a anos luz de ser uma simples caduquice de gente rica.
Por: Cris Vaccarezza

Tem calma!

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Com o tempo, senhor dos exércitos e da paz, vamos percebendo que é a espera, e não a ansiedade, que traz a resposta a todas as perguntas. Que traz à tona a verdade, que destrói toda a vaidade, junto com cada dia, com cada sol. Mas quanto tempo custa ao tempo, passar? O tempo que for necessário, o tempo entre semear e colher, o tempo de esperar.
Afinal, é a espera que dá vida à semente, e a faz romper o lodo, crescer as raízes, e finalmente vicejar o broto tímido, como um carvalho imponente.
É a espera que rompe as entranhas e põe nos braços da mãe, o filho recém parido, para que esta o amamente. 
É a espera que gesta a vida, e traz de volta ao ancião, a saúde perdida. Ou o leva de partida, rumo a terras desconhecidas, ou não.
É a espera que pouco a pouco descortina o véu do medo, que revela enfim todos os segredos, que põe fim a todo o pranto e resgata toda a alegria, toda a emoção.
É a espera que fecha as feridas, que sana as dores, que regenera. É a espera que nos faz tocar a vida, seguir com a lida, elaborar o pão.
É a espera que constrói o prédio, que faz a ponte, que doura o trigo, que amarela o milho, que desabrocha a flor. É a espera que cura a ressaca e é também a espera que apaga na memória a ausência do amor.
É a espera que dilui as mágoas, que cresce os cabelos, é a espera que acalma as águas, que nos adormece, após os pesadelos.É a espera que semeia a paciência, a indulgência, a compreensão.
A espera é mãe da tolerância, da resiliência, da compaixão.É a espera que dá à lagarta, asas. É a espera que confabula o perdão, é a espera que amaina os instintos, que amplifica a voz da razão.
É a espera que dá ao recém-nascido, a habilidade de andar; a mesma habilidade que mais adiante, já envelhecido, ele irá pouco a pouco abandonar.
A espera é a espiral da vida, o amadurecer, o amanhecer, o caminhar. Traduzido no tic tac insofismável do relógio, nos faz dormir e acordar. Apesar de todos os pesares, a despeito de todas as alegrias, a certeza de um novo dia, é o que nos faz perseverar pela estrada da vida.
E assim, ponte entre o berço e o túmulo, entre o ontem e o amanhã, é somente ela, a espera, que nos acompanha diuturnamente, fiel, impreterivelmente até o final.

Por Cris Vaccarezza

Incontestável

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Antes de qualquer coisa, tinha uma mania horrível. Tinha a imperdoável mania da fazer perguntas. Perguntas difíceis, que desafiavam a placidez das águas do lago, que se aprofundavam, que nem pedra no poço, calavam, fundo. Perguntas que ousavam ficar sem resposta. Mais que isso, perguntas que teimavam em ficar ecoando na cabeça até que se fosse forçado a buscar uma resposta.
Não era de admirar que não tivesse muitos amigos. Percebendo sua terrível habilidade, as pessoas evitavam-na. Ninguém quer turbulência na superfície de suas águas aparentemente plácidas. Pra que pensar, pra que mudar. Quando criança, ouvira que não se deve pensar na vida. Que pensar na vida faz chorar.  Minto, escutara, não ouvira. Se ouvisse, talvez tivesse levado o conselho em consideração e evitasse esses constantes embaraços.
Mas pra ela era tudo tãããão simples, bastava pensar um pouco, mudar pouca coisa, tentar, lutar contra si mesmo. Mas claro que não! Se dá pra culpar os outros, porque assinar uma confissão de culpa? Se dá pra passar a responsabilidade adiante, se empurrando com a barriga também se anda, por que parar, desapear, pensar (isso dói, faz chorar, lembra?) e num esforço homérico, modificar uma atitude? Arriscar a normose engessada? Quebrar a geleira, provocar uma avalanche?
Ela, respeitava isso. Não conseguia entender, mas compreendia que cada um é uno. E se calava. Calada, preferia ficar de fora da turba animada, só observando. Afinal, era animada, mas não tão animada assim, era alegre, mas não tão alegre assim, e era incômoda, com sua terrível mania de contestar o óbvio.
Por Cris Vaccarezza

Você confia demais nas pessoas!

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Tinha um mau habito terrível no trato com os cavalheiros. Aliás, tinha um mal hábito terrível no trato com qualquer pessoa. A ponto de ser chamada de ingênua por toda a gente: "Você confia demais nas pessoas!" diziam, dos mais velhos aos mais moços. Ledo engano. Confiava sim, fazer o que? Era assim, como desviar da essência que a fazia única, como cada um de nós?
Mas havia um método, com os cavalheiros, assim como com todo o resto, tratava-os assim: Ao conhecer alguém, dava-lhe cem por cento dos créditos, cem por cento da atenção, cem por cento de sua confiança, cem por cento de seus ouvidos atentos e de seus olhos abertos. Há melhor maneira de conhecer alguém?
Tudo o que lhe diziam, era automaticamente considerado uma verdade. Aceito sem filtro, e introjetado, como se verdade fosse. Essa pessoa é assim. Segundo ela mesma. Há melhor referência? "Você confia demais nas pessoas!" repetiam. Fazer o que, elas lhe contavam a sua história, falavam, falavem, e ela os ouvia atentamente. Para ela, eram as melhores pessoas do mundo. E as recebia em seu mundo de braços abertos. Amava pessoas. E como são amáveis, as pessoas! Não são?
Pintavam de si os melhores quadros, transmitiam o que de melhor tinham para dar. Havia pessoas com palavras doces feito mel, outras nem tanto, outras que já mostravam desde o início um ríspido tratar, sem palavras rebuscadas, sem o mesmo tato no falar. Ouvia a todas com igual atenção dando a elas todas, o benefício do tempo. Com o passar do tempo, as palavras começavam a distoar de algumas atitudes. E formavam-se algusn tipos em particular. Havia as de fino falar, cujas palavras eram doces, e seus gestos idem, mesmo passando o tempo, e essas eram amadas e seriam amadas para sempre, mesmo que chegasse um momento em que fosse preciso seriamente falar, falariam com o som do amor em suas vozes, pois eram amor e para elas, havia guradao o altar dos sábios, os que sabiam viver, os que usaram o tempo em favor da paz. Havia o grupo dos de rude tratar, mas cujas atitudes revelavam imenso amor e carinho, uma honradez, um caráter, inabaláveis. Amavam, mas não sabiam falar. A esses, reservava o lugar dos cavaleiros. Nobres de espírito, rudes no tratar, usaram seu tempo para a defesa do bem, mas ainda lhe restava aprender a pacificar a alma, aprender o perdão e sábio ficar.
E havia os tristes, cujas palavras doces iam aos poucos, tornando-se amargas pela falta do que subsidia o bem, o amor. Essas, infantis ainda em suas almas, perdiam-se no tempo, atropelavam-se com a dicotomia do que queriam ser e do que realmente eram. Seus discursos lindos, encontravam-se em frangalhos ante o paredão do tempo que exige mais que palavras bonitas, exige atos de fé. Iam esfacelando-se pelo caminho. Perdiam-se na própria inconcistência, subdividiam-se em uma infinidade de categorias inferiores: os invejosos, os interesseiros, os fofoqueiros, os maledicentes, os caluniosos, os vingativos e toda uma gama de seres, a quem reservava o espaço de irmãos.
Não sendo ainda nobre como um cavaleiro ou pacificada como um sábio e sabendo-se imperfeita como eles, reconhecia-os como companheiros de jornada, capengas iguais a ela, que careciam de atenção e zelo. No entanto, assustada com o ferir constante, não lhes confiaria mais a espada desembainhada sobre o seu pescoço. O tempo, e não ela, retirou-lhes os créditos, e agora cabia a eles, galgar novamente os degraus ascententes que lhes levariam de volta ao posto de cavaleiros honrados e quem sabe um dia, de sábios.
Seguiria com eles, esse caminho também era o seu, num confiar desconfiado de todos os dias. Descobria enfim, uma forma democratica e leal de confiar em todos, dando a cada um, a faixa que mereciam em seu coração, e deixand que eles mesmos, ocupassem seus espaços, de acordo, não apenas com as suas palavras, mas com o seu próprio coração. Tempo e atenção, essas são as chaves. Quer conhecer alguém? Dê-lhe tempo e atenção.
Por Cris Vaccarezza

O jardim

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Era domingo de manhã. E só por ser manhã de domingo, já era uma alegria. Mas o cenário se coloria dos tons diversos de verde nas folhas que ondulavam com o vento, vários matizes de rosa, lilás e branco espalhado por pétalas sortidas nas várias flores.
Havia também, sutis nuances vermelhas e alaranjadas nas penas dos pássaros que livres, chegavam e partiam, e a mescla de preto e amarelo de uma borboleta monarca que agitava suas asas de flor em flor, por ali. Estava diante do típico cenário da primavera.
Mesmo com o insistente ruído da cidade, divisava claramente um choro de criança aqui, uma conversa de adultos ali, um bater de tambores acolá, mas procurava focar os ouvidos no gorjear dos passarinhos e no som que o vento fazia, ao passar por entre as folhas ou fazer vibrar harmonicamente, os bambus de um mensageiro dos ventos. O som da paz casava-se perfeitamente, com o som de uma balada antiga, vinda de alguma vitrola em algum lugar perto.
Toda manhã de domingo era assim. Quando o sol saia, sentava-se à sombra da varanda e observava os cãezinhos em sua ode à liberdade, fazerem festa por ali. Tirou uma foto, na esperança de eternizar aquele momento de paz, de compartilhar aquela sensação de leveza e alegria com quem mais vibrasse na mesma sintonia.
De seu cantinho, entretida na leitura, podia ver sem ser vista pelos que passavam. E via pessoas irem e virem no seu passar diário, imersos na rotina. Alguns passavam e sorriam, outros apontavam lá pra dentro, indicando ao filho um passarinho que ciscava ou um beija-flor atraído pela euforia das flores. Tinha a impressão de que as pessoas se sentiriam mais felizes como ela, com a observação daquele cantinho de paz.
Naquele momento, observou um casal que passava, e surpreendeu-se com o comentário da jovem, que à distancia, lhe pareceu feliz, mas depois de ouvi-la, não mais. Depois de olhar de soslaio para o jardim por onde passava, a moça comentou com o companheiro:
-Mas que jardim sujo!
Sujo, pensou. Teria ouvido bem? Sim, ela dissera sujo. Mas em relação a que? Não que lhe importasse a opinião da jovem, mas de qualquer maneira, se pôs a procurar sem encontrar sujeira alguma.
Havia sim, algumas folhas secas espalhadas no gramado. Mas folhas vem e vão, caem. É da natureza. Uma vez desprezadas, no chão, viram adubo para o verde novo. E daí? Quem não tem folhas secas, simplesmente não viveu uma primavera ou um outono sequer. Ficou presa no gelo do inverno.
Havia também dois ou três sacos plásticos de salgadinho, desses que crianças desavisadas, provavelmente descartaram pela rua em frente, e o vento se encarregou de depositar no gramado. Devia ser a isso que a jovem se referia. Levantou-se, e recolheu os sacos plásticos. Nem tinha se dado conta deles.
Por fim, estava agradecida à jovem pelo comentário que lhe fez recolher o que poderia mesmo se tornar um empecilho ao ciclo da natureza. Mas ficou a cismar por ela. Tão jovem... Meu Deus! Por que alguém, diante de um cenário desses, deixou de ver a beleza das flores, o canto dos pássaros, a alegria dos cães, o passar do tempo representado pelas folhas secas, e foi ater-se ao lixo trazido pelo vento?
Concluiu que infelizmente, há pessoas assim. Diante da maior beleza, não é capaz de desfrutá-la, de tão concentrada que está, no lixo que o vento traz para os cantos da vida da gente.
Por Cris Vaccarezza

Falta de juízo

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Tanto tempo tiveste para repensar atitudes...  Por quanto tempo esperei que, tocado pela mão da razão, ou pelos apelos do meu, ou do seu coração, você voltasse pela mesma porta que deixei aberta a seu pedido... Perdoando a sua falta de juízo, a sua imaturidade juvenil. Por tanto tempo fui, absolutamente e irremediavelmente sua?
Por quantas madrugadas, a porta esteve aberta? Dormiu e amanheceu aberta, enquanto meu corpo insone, vigiava a rua à espera de você? Quantas vezes ansiei por sua chegada e exultei de felicidade com sua visita de beija flor, para logo depois, conformar-me em meu silêncio, com a sua partida? "Sou do mundo, Maria!" Você dizia pra mim.
Quantas vezes quis, eu mesma, ser também do mundo assim, e no desespero, cheguei a me entregar à raiva, ao despeito e ao rancor. Mas o tempo é senhor de todas as mágoas, e aos poucos, me fez compreender sua escolha. Você era do mundo. Concordava em silêncio:  És livre! Foi assim que foste feito. É assim que serás! E eu te amava mesmo assim. Perdoa, Pai, é falta de juízo!
Resignada com a minha estrela ruim, por quanto tempo vivi de incerteza, e aceitei dividir seu amor, parcelado por aí, na busca de cada um dos fragmentos em que meu coração se partiu com a sua partida. Quantas vezes dormi em seus braços e acordei sozinha? "Sou do mundo, Maria!" Recordava-me.
Pois bem! Um dia, cansei de tudo isso! Tranquei a porta, fechei a casa, a cara e a janela e me recolhi em longo inverno. Me fiz lagarta, sem temer as bicadas de um ou outro pássaro qualquer. Em meu casulo, aguardei por várias e sucessivas metamorfoses. Certa manhã, emergi. E eis que era primavera outra vez! Eis que outras borboletas habitavam meu jardim, e finalmente, me convidaram para dançar! Aceitei!
Surpreendentemente, a dança começava a cadenciar, alcei alguns vôos e comecei a gostar. Eu que achei que jamais confiaria outra vez. Me distanciava a cada vez da amargura do casulo.
Mas é aí que volta você, com sua malandragem de menino que perdeu o brinquedo preferido. E me segura pelo pé, me traz de volta ao chão e desfia um rosário de prantos. Agora não é mais do mundo, "Meu mundo é você, Maria!"
Por que sofro contigo? Se nem sei mais se o meu mundo é você. Por que partilho sua dor, se a minha, nunca te pertenceu? Deve ser falta de juízo!
Por Cris Vaccarezza

Incompleto

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Não sabia deixar fios soltos, pontos sem nó, linhas sem arremate. Ou era ponto ou fiapo. 
Qualquer incongruência era como um ponto em aberto na agenda, um fio desencapado, a emitir pequenos choquinhos incômodos e constantes. Era um quesito em aberto, algo a fazer, um piscar incessante que dizia: INCOMPLETO, INCOMPLETO...
Incompleto é parcial, nem aqui nem lá. Onde então, infernos?? Incompleto é sinônimo de indefinido.
Odiava indefinições!
Preferia um não do tipo tapa na cara, que um talvez cutucão.
Aliás, odiava que a cutucassem, que a instigassem, que a demovessem de sua "pazmaceira" para deixá-la no meio da caminho entre aqui e lugar algum. Não pode comigo? Me deixa em paz!
Por isso adorava os que podiam consigo. Os que intuitivamente tomavam os caminhos instituais. Pouco siso, muito riso. Tornavam a vida leve, descompromissada.
Poderia ser descompromissada, sem qualquer problema, desde que fosse esse o acordo. Desde que houvesse regras de descomprimisso e ponto final. Mas exigir uma coisa e ofertar outra era a seu ver, deslealdade, ficava confusa.
Odiava confusões. Confusões evitavam que o cérebro entrasse em standby, o standy que a conectava com o universo. Não poderia abrir-se à paz prazerosa, que consideravam ócio, preguiça, se sua mente continuasse gritando, questionando, pedindo respostas. 
Por isso corria pros montes, e se embrenhava no verde. Lá, entre os passarinhos, no silenciar das promessas descumpriras, podia descansar e contemplar o belo. Sem ansiedade, sem cobranças, sem mais...
Por Cris Vaccarezza

Efêmer'idade

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Meu Deus! Uma dor lancinante, uma tontura atroz, a escuridão, o nada... Pensei, a vida é uma fina flor de incerteza mesmo! 
Uma lâmina, um sopro, um fio. Temo-la de forma efêmera, e a qualquer momento, perdemo-la, assim, sem mais...
Sim, a saúde é o bem mais precioso. Mas percebemos isso, tarde demais, pena! Descobrimos tarde demais o quanto somos perfeitos, íntegros, lindos, lúcidos... Percebemos apenas, quando já não o somos.
Percebemos então, que o importante, o urgente, o essencial, não são exatamente as "coisas" que imaginávamos. Não são os carnês a vencer, nem as carnes a endurecer, tampouco são o carro, a casa, a louça que deixamos suja na pia pouco antes de tropeçar na ansiedade, agonizar e cair inertes em função da correria.
Não importa! Nada disso importa agora que já não somos íntegros, perfeitos, saudáveis. E Deus queira, não seja tarde demais!!! Eis o famoso filme da minha vida, uma conjunção de vazios a desfilar diante de meus olhos!
Quem dera ainda haja tempo para abraçar aquele irmão que discorda da gente, quem dera ainda dê tempo de dizer aquele eu te amo praquela pessoa especial, quem dera ainda dê tempo de pedir perdão àquele que me odeia, de afagar os cabelos de meu filho.  Quem dera houvesse tempo para check up tantas vezes adiado, para o panfleto de viagem tantas vezes esquecido sob a pilha de contas a vencer...  
Tomara que dê tempo, nesse breve segundo em que meus olhos pesam demais...
Por Cris Vaccarrezza

E o tijolo da crítica, o que constrói?

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Nada mais gratuito e sem valor que aquilo que é achado. Achado, já se sabe, não é roubado. Mas tampouco é comprado, por tanto, não tem lá muito valor.
Deve ser por isso que os críticos de plantão agora aventuram-se por todos os campos, normalmente desvalorizando e desqualificando aquilo que mal conhecem. A idéia que sequer compraram, e que por tanto, para eles, nada vale. O sonho que não sonharam é por tanto é ridículo, pobre ou inadequado.
Dizem: Ah, quem é essa? Só a vi uma vez, nada sei a seu respeito, não calcei seus sapatos, não segui seus caminhos, mas sua atitude me parece ser menos isso ou aquilo. Aquel'outro, quem é? Nunca o vi mais gordo ou magro, mas acho que seria melhor se adotasse essa ou aquela postura.
Outro dia, ouvi de apresentador de tv uma frase marcante. "Como é fácil a vida do crítico!" Realmente, quem critica, raramente constrói alguma coisa de seu. Raramente constrói algo além de muros de discórdia com as pedras que atira. Mais que isso, suas pedradas preconcebidas podem desacreditar alguém e fatalmente destruir toda uma sementeira de planos, apenas com suas palavras muitas vezes embasadas num mero achismo, numa simples impressão. 
E que impressão negativa um julgamento precipitado pode deixar. Pode adiar um sonho, abortar uma tentativa, a preço de nada, de uma opinião qualquer de alguém que nunca tentou. Acho injusto. E se é para ser justo com tanto achismo ruim, me permitam também criticar.
Longe de mim querer gerar polêmica,  afinal, esta também é apenas a minha opinião. Mas nela, está embutida uma campanha pela busca de espelhos, em vez de janelas. Uma campanha para que achemos menos, conheçamos mais, critiquemos menos, encorajemos mais, julguemos menos, amemos mais. Busquemos mais a trava em nosso olho, que o cisco no do vizinho. A vida é via de não dupla e na volta, pode ser para nós que apontem os dedos do achismo e os olhos da invigilância.
Critica sem conhecimento de causa, não é grafite, é pichação. Como dizia o poeta, mais amor, por favor!
Por Cris Vaccarezza

Status Quo

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Lembro que costumava ler, quando novinha, aqueles livros açucarados, repletos de heroínas falhas e heróis másculos e apaixonados, que nos amariam e compreenderiam apesar de todos os pesares, por toda a vida e além, para sempre. Jamais encontrei algo assim, além da imaginação dos escritores.
O status quo do amor é um amar sem limites, sem retorno, sem correspondência, sem medidas. Um doar permanente de amor.
Isso posto, amor anda a quilômetros do proposto pelo ideal romântico dos folhetins mais apaixonados.
Vê? Eu disse apaixonados, não amorosos. Quando pensamos em um ser amoroso, no mais das vezes, lembramos da nossa mãe, em tese, exemplo de doação, desvelo e amor. Raramente lembramos do ser com quem estamos envolvidos. E paradoxalmente, esperamos desses, atitudes de desvelo, altruísmo e desinteresse. Como, se o fogo que nos consome é paixão, e não amor? Mania boba de confundir amor com paixão.

Há amor. E não é difícil perceber, embora talvez seja difícil econtrá-lo.  O que ocorre, é que amor não se busca, amor desenvolve-se. Amor não vem de fora para dentro, brota e cresce de dentro para fora. Amor é expansão.
Amor pode até ser verdadeiro, sincero, à primeira vista, inabalável, sem fim, mas não necessariamente correspondido. Porque não se é obrigado a amar na mesma medida em que somos amados. Muito pelo contrário. Longe de ser inquisição, ele é abstração. Amor não é substantivo ou pronome possessivo, amar é intransitivo.
Tampouco, somos obrigados a amar na mesma intensidade. Ele ama, nós talvez não. Isso é uma das grandes lacuna da vida. Não amamos por sermos amados.
Aliás, a bem da verdade, grande parte humanidade sequer descobriu ainda o que seja o amor. Acha que amar é estar apaixonado, amar é ser amado, amar é uma sementeira de atenções e cuidados para o porvir...
Não! Amar é doação! Quando você doa algo, não espera realmente que o receptor venha bater á porta da sua casa, estender a mão segurando a sua e te agradecer. Claro que não! Quem doa, doa por que quer, doa por ter algo em abundância, doa por saber que um, dois ou mais sorrisos serão construídos à sua revelia. Talvez ele nem veja os sorrisos florescerem, mas sabe que alguém há de sorrir. Só isso importa.
Amar como amam os cachorros. Aliás, um impropério, uma mulher traída, magoada, referir-se ao suposto culpado por suas dores como: "Aquilo é um cachorro!" Quem lhe dera, teria um companheiro fiel para a vida inteira. Cachorros amam de verdade. Amar como os cachorros seria um refinamento para os humanos, tão cheios de si.
Não ama quem tem posse, quem domina, quem  manipula, quem chantageia o outro. O nome disso é paixão. Paixão é exigente. O amor, indulgente.
Ama quem liberta, quem compreende, quem ampara sem condições, quem protege sem querer dominar, quem perdoa. Perdoa e deixa ir...
Por isso, amor não é só para o contos de fadas. A paixão sim.
A paixão deixa um Locus, um espaço a ser preenchido. A paixão, de tão insensata, para nos enredar em sua dor, usa o pseudônimo de amor.
Não somos ainda capazes de amar, pois amor é raridade, é pureza, é oração.
Amor não é para o cotidiano, ainda.
Amor é para o futuro. Um futuro de melhores pessoas. Um futuro em que seremos menos eu e você e seremos mais nós. Um futuro em que seremos menos apaixonados e mais amorosos.
Amor é para quando sairmos do Status quo amoroso.
Por Cris Vaccarezza

Bento

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Quisera viver de rimas. Quisera poder viver de escrever canções. Mas a vida, essa agulha afiada que nos tece os dias, pôs-lhe enxada às costas e tocou-lhe à lida, de sol a sol. E lá se foi, cantando.
Matraqueava a enxada na terra, sulcando o arredio chão. Ferindo a embrutecida gleba, na esperança vã, de em caindo a chuva, viesse frutificar o trigo, e em dourando o trigo, pudesse fazer o pão. Em troca, proclamava seus versos como que a inspirar o solo a frutificar o grão.
Contudo, eis que a vida, esse amontoar sombrio de sucessivas dores, veio amarrotar o brio de suas ambições e nem gota, nem água, nem grão, nem trigo, nem pão. A ele, só restou canção.
Somente o suor do rosto, era a umidade abundante que viam as calejadas mãos. Só que o suor, salgado, não serve pra regar o chão.  Mas matuto é cabra bom, sertanejo é forte que só,  marchava de sol a sol, em riba do fio de esperança que lhe animava o coração. E sem amuar-se um só minuto, seguia cantando e semeando a fé:
Há de chover no sertão! Um dia chove. E nesse dia, ah! Teremos de tudo o que é bão! Da semente há de brotar a árvore. Da folha, fazer-se flor, da flor, brotará a abelha que nos dará o mel, fruto de seu labor. O cinza há de verter-se verde. O verde há de trazer a sorte, a sorte trará fortuna e a fortuna, trará o amor. Que amor é fruta rara, nessas terras judiadas, na miséria, difícil cultivar o amor. Mulher é flor sensível, carece amor e convívio. Coisa que no meu lutar sem alívio, com certeza, não posso dar. Mas dia virá, meu Deus, em que fina flor terei para meus dias encantar e uma mulher faceira, virá ser minha companheira para todo o sempre, amém!
E o matuto viveu seus dias, de enxada, esperança e poesia, sem jamais prosperar. E eis que a vida, esse sopro imprevisível, que do nada, de repente se esvai, veio um dia sem aviso, ainda moço sua saúde fragilizar.  E morreu feliz da vida, sem ao menos um lamento, na certeza de um dia, retornar:
Finam-se os dias, de míngua e agonia, meu corpo vai enfim, descansar! Mas dia virá, meu Deus, em que tua glória irei alcançar! Sigo com passos incertos, na certeza de que no universo, terra mais fértil haverá!
Foi assim que amou infinitamente, posto que queria viver de fazer poesia, e como só tinha a alma poética, só de poesia viveu. Um dia, cansado, vencido na lida, caducou e morreu. Mas não morreu de poesia, pois de poesia não se morre, eterniza-se.
Do chão rachado onde Bento foi sepultado, da terra seca onde nada nascia; da mais profunda aridez do sertão quase deserto, brotou uma flor vermelha, que o povo chamou de Poema.
Feito inteiro de poesia, semeado na terra fria, brotou e floresceu.
Por Cris Vaccarezza

Doe Palavras

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Se pudesse nesse momento, o que você daria de mais precioso a alguém?
Dinheiro? Dirão, dinheiro não! Ás vezes não temos o suficiente pra nós, que dirá para dar. Comida, perece rapidamente. Flores, murcham. Bichos, morrem, Pedras preciosas podem ser furtadas. Carros enferrujam. Sobras, são indignas. Roupas rasgam. Cobertores esgarçam. Parece muito efêmero. O que de material deres, terá sua utilidade emergencial, mas perecerá com o tempo.
Mas solidariedade jamais se perde. Solidariedade é fonte que jamais seca por mais que dessedente a muitas pessoas. Solidariedade é doar algo de seu, que não lhe custa nada e que jamais lhe fará falta.
Há inúmeras formas de doar solidariedade, sua presença, seu sangue, seu abraço, seu afago, seu apoio, seu calor, seu incentivo, suas palavras...
Está no ar, há algum tempo uma das ideias mais generosas que já vi. O projeto Doe Palavras, era inicialmente, um movimento para levar palavras de incentivo para pacientes com câncer do Instituto Mario Pena, depois foi expandido para outros hospitais no Brasil e no mundo, estando disponível a qualquer um com acesso a internet e uma tela de computador, segundo as instruções no site.
Se você não em dinheiro de sobra, nem comida pronta, nem flores, nem pedras preciosas para dar, lembre-se dessa fortuna solidária que ainda pode dar de si, sem que lhe custe nada. Doe sangue, doe vida. Mas se você tem medo de picada de agulha e nem o desejo de ajudar ao próximo consegue fazê-lo sentar numa cadeira e doar, então doe palavras para quem carece de um afago na alma.
Pense por um instante em quem está nesse momento precisando de força e carinho para seguir adiante. O que você poderia fazer para que se sentissem melhores, mais fortes? Se pudesse estar perto, você lhes daria um abraço? Abrace-os em pensamento, doe suas palavras de incentivo. Para doar palavras é rápido e simples. Entre no site: http://www.doepalavras.com.br/ preencha seu nome, localidade e uma mensagem curta de força e fé.
Não é preciso tirar do que se tem para dar, é preciso recordar de quem não tem.  A medida do doar não é doar a sobra do que se tem, a medida do doar, é doar-se sem medidas.
Tudo o que é verdadeiramente seu, pode ser doado sem que lhe faça falta.
Comece doando palavras. A sensação é indescritível!
Por Cris Vaccarezza
Fonte:http://www.doepalavras.com.br/

Poesias Acidentais

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Não escrevia de próprio punho. Longe disso!
Acidentalmente escrevia de próprio coração.
Por isso, preferia a prosa.
Poesia redigia apenas quando era tomada de solidão.
Ou melhor dizendo, poeticamente transcrevendo,
acometida de inspiração.
É o que diz o poeta,
onde se lê tristeza, lê ele alguma beleza,
traduz em versos, rima e faz canção.
Não conseguia escrever contente,
por isso, (suspeitava-se) escolhia seguir doente,
de solitude e de mansidão, (sozinha por opção).
Era quando a alma doía, que a poesia lhe sorria,
e sedutora estendia a mão: Uma dança, aceita?
Sim, mas é claro! E seguia satisfeita a girar pelo salão.
Enquanto bailava sozinha e a música lhe iludia,
suas mãos transcreviam no papel, a dança da soldão.
Descalça no chão de cascalho, sentia-se num céu imaginário,
a pisar bolhas de sabão, então sua alma crescia,
e de suas mãos, produzia afagos ao coração.
Não ao próprio, raramente o fazemos,
Porém tudo o que dizemos afaga de outros, a emoção.
e seguia pulando as estrofes, compondo letras metódicas
que jamais encaixariam em qualquer outra canção
posto que ninguém mais ouvia a melodia,
apenas a viam no chão de terra batido, sozinha a girar.
E pensavam: Lá vai a louca! A que se pôs com a solidão, a valsar.
Mas quem se importa? Quem carece de resposta?
Seu segredo não sabiam, nem ela havia de lhes contar.
Como sorria sua alma leve, aliviada e cansada.
Extasiada, feliz por ser par da poesia e nela, rodopiar.
Por Cris Vaccarezza

Tácitos

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De repente uma saudade de você me assola. Assim, do nada, me assalta. Que saudade! Mas que saudade mais sem propósito! Tanto tempo depois? E saudade não é mesmo assim, absolutamente sem propósitos?
 Mas é saudade sim. Dos risos que rimos juntos, dos poucos e ricos momentos que passamos na companhia um do outro, das ligações que me faziam rir. Saudades das frases trocadas, das músicas, da sua presença constante em minha vida, dos compromissos que sonhamos. Saudades das viagens que docemente imaginamos e só imaginamos. De tudo aquilo que poderia ter sido e não foi.
Às vezes tenho essas saudades malucas. E me vejo olhando as fotos, lembrando dos momentos e pensando: Estamos perdendo tempo! Estamos perdendo o tempo de estar juntos. Estamos nos perdendo no tempo. 
Daí me dá uma vontade de ligar. Tipo despretensiosamente ligar, apenas ligar, dizer um "olá!" Seguido de um "estava pensando... você alguma vez pensou em voltar pra mim..."
Mas estava só pensando mesmo, e como viaja o meu pensamento. Daí eu lembro que já não deu certo antes. E isso me faz tanto mal, se não deu certo contigo que parecia tanto comigo, com quem daria certo afinal? 
É a lógica, a dura e insofismável lógica. A mesma lógica de tempos atrás, e de lá pra cá, tanta pouca coisa mudou. É a lógica, irmã da logística que empaca na distancia tão pequena e enorme entre nós. Essa mesma lógica que sussurra docemente em meus ouvidos: Esquece isso! Deixa pra lá. Se ele quisesse, talvez ele ligasse... E talvez tenha razão! Afinal é a lógica. 
De repente, me dou conta de que éramos tão parecidos, tão compatíveis, por que será que não deu certo, não é? Talvez exatamente por isso...
Há tanto entre nossos lábios, tantos quilômetros de palavras não ditas, de gestos não feitos, de atitudes não tomadas, somos tão pacientes os dois, tão tácitos, que melhor deixar pra lá. 
Mas só queria que você soubesse dessa saudade subitamente sem sentido.
Por Cris Vaccarezza

Ainda sobre o dia 11...

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Chegou para trabalhar, como de costume, sem sequer sonhar que conspiravam secretamente.
Mas cochicharam, combinaram e entraram repentinamente cantando parabéns, sorrindo, saudando, abençoando, afagando, abraçando! Trazendo mais que presentes preciosos, muito calor humano e alegria.
Quanta emoção! Quando a emoção é tanta, as vezes falta a reação, a atitude, as palavras e mesmo as lágrimas. Mas não faltaram abraços. Isso não falta jamais.
Interessante pensar que já nem era mais seu aniversário. Nem esperava. Mas não se encontraram na quarta, então postergaram o abraço para a quinta. Como dizia o poeta, quem sabe, faz a hora! 
O tempo é relativo, e na sexta, esperava ainda menos, outra homenagem. Afinal, já era sexta, não era quinta,  nem quarta...Mas que nada! Coloriram a semana inteira, subverteram o calendário, invadiram o dia dos namorados, o dia de Santo Antônio e lá estava em pleno dia 13, outro grupo, outra festinha pro dia 11. Cor de rosa, como era a sua vida em seu trabalho. 
"Acho que eles leram você direitinho!", disse uma amiga, vendo as fotos depois. 
Mas fotos são só fragmentos de um segundo. E estando lá, como conter a emoção daquele instante? Como ler o carinho das palavras cuidadosamente escritas na parede branca num tom de vermelho absolutamente emocional? Como olhar aquele bolo lindo, aquele abraço coletivo, aquelas equipes que se confraternizavam, que se uniam e não derreter o coração? Como não se sentir a mais feliz das criaturas? Como agradecer por tudo isso? Impossível! Impossível, como são vocês todos:  Impossíveis! Como contê-los? Como evitar que tomem parte do seu tempo de descanso e de suas economias arquitetando sorrisos assim? Caso a se discutir nas próximas reuniões de equipe! 
O resultado da soma dessas datas festivas, é visível nesse sorriso estampado, mas não poderia ser medido jamais pois seu valor é o das coisas que se eternizam. É imaterial. 
O que vocês deram, nessa semana festiva, foi o melhor de si, a certeza de que abraçar é o mais poderoso dos gestos. Que Deus lhes retribua em bênçãos, a alegria que proporcionaram!
Do bolo, que tinha uma capa fashion de oncinha cor de rosa, com delicioso sabor de chocolate, massa fofinha, recheio duplo de côco e ameixa, evidentemente, nao sobrou muito. Sendo tão saboroso, foi pedaço a pedaço, tendo o destino que merecia e a generosidade de vocês proporcionou; foi sendo dividido, compartilhado, distribuído, como devem ser a nossa vida e o amor.
Pouco a pouco, foi indo a casquinha, a massa, o recheio... O doce foi sendo consumido até que acabou. Mas dele, por ultimo, ficou o mais importante, a essência, o laço.
E observando o que sobrou do bolo, eis a a lição muito importante: No final, quando todo o doce acaba, restam apenas os laços. 
Muito obrigada a todos vocês pela riqueza dos laços!
Por Cris Vaccarrezza

Fênix

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Sim, eu ainda te amo!
E tenho até vergonha disso. Mas que te amo, amo!
Amo tanto, que as vezes até sinto seu abraço imaginário nas noites frias, quase sinto seu cheiro feito de vinho almiscarado entranhado nas narinas.
Mais ao fundo, quase sinto seu cheiro de pele, o cheiro que eu amo ainda mais que seu perfume.
Sim, eu te amo, ainda. E indefinidamente ainda é ainda...
Depois de tanto tempo, depois de tantos rostos que sorriem, ainda é o seu que identifico em meio à multidão.
Te amo! Te amo ainda. Me desespero com essa sua permanência em minha vida, fazendo barreira, montando guarda, bancando o zagueirão. 
É certo que somos amigos, e somos só amigos, tento crer.
É certo que nossa amizade é de ouro, mas é só amizade afinal.
É certo que já quebramos vários galhos um do outro, mas nenhum amor vive de quebrar galhos, mas de plantar árvores.
Nenhum amor vive de podar asas, mas de cultivá-las.
Apesar da consciência de tudo isso, ainda te amo! 
E você sabe como manter esse amor.
Toda vez que seu perfume ameaça apagar, toda vez que meu corpo esfria de seu corpo, toda vez que seu abraço começa a se apagar na memória da minha pele, você reaparece como a fênix maldita, com esses sorriso incrível que tudo perdoa. 
E tudo perdôo. 
E isso sim, é imperdoável!
Por Cris Vaccarezza
14/06/2014

Tiquinho

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Borboleta da risada mais gostosa
Alma inquieta, sabida, "sabosa",
Carinho, zelo, cuidado, presença
Pé de batata,flor de batatinha, essência

Bailarina, cantora, levada da breca
Astronauta, encantada, Emília boneca,
Faz de conta, pó de pirlimpimpim,
Tiquinho bom que saiu de mim

Rosa morena, sonho vivo, dengo meu,
Esplendor de menina, canto que dissipa a dor
Flor da alegria, riso que colore o céu
Coração, cheiro, cor, colo, calor
Amada, muito amada, luz que dissolve o breu

Fada do dente, nariz de pipoca, bebê. bobola, Tatá, Tatí,
Vida nutrida de um amor imenso, eterno
Princesa delicada que me escolheu pra rainha,
Amiga, parceira, filha minha,
Te dedicaria, não apenas um verso,
É seu todo o meu universo, todo o livro do meu existir
Te daria o mundo só pra vê-la assim, todo dia, sorrir...
Por Cris Vaccarezza

Sobre os noivos - Simbiose: Ainda há amor que valha a pena! ( adaptado)

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E eis que a previsão se confirma e meus queridos amigos Michele e Josué vão se casar! Muito feliz com a notícia!! Ainda mais feliz em terem escolhido o texto Simbiose, para descrever o casal. Esse texto foi feito para os dois em um dia dos namorados, anos atrás, pois eles me inspiravam o amor. Então vou republicá-lo na versão adaptada que eles usaram em seu site de casamento.
Amigos, de coração, me sinto honrada em fazer parte desse momento.
Obrigada pelo carinho e que o amor de vocês apenas cresça... Sempre! 


Simbiose: Ainda há amor que valha a pena! ( adaptado)


"... Há muito que esse amor me inspirava a escrever, mas não sabia o que. Eu os acho tão especiais, que o texto precisava ser muito especial. Agora, aproveitando que a data é especial, em função do contexto, mais fácil perdoarem a pobreza da narrativa, perto do valor da história. Afinal, um amor assim, dispensa comentários.
Ele, um sujeito inteligente, esforçado e gentil, que se esmera para estar presente de maneira significativa na vida das pessoas. Valoriza o olho no olho, sabe perdoar. Tem a voz tranquila, na intervenção oportuna. Sabe criticar sem ofender. Sabe alertar, sem invadir. Sabe repensar. Ela, um sorriso lindo, num corpo delgado, emoldurado por um rostinho de boneca. Tem a graça nos movimentos e a leveza nas palavras. Sabe ser doce e dengosinha, mas também sabe se fazer entender quando lhe desagradam. É amiga fiel dos que ama. E os defende como pode, embora respeite, acima de tudo, as suas decisões. Sabe sorrir e iluminar. Sabe fazer de sua presença uma alegria constante, e de sua ausência, uma lacuna notória. Uma lady, essa minha amiga. Já que já os descrevi em separado, permitam-me agora, descrevê-los em conjunto: Simbiose.
No dicionário, simbiose significa relação biológica harmônica entre dois ou mais seres de espécies diferentes, onde ambos são beneficiados e em que ambos precisam um do outro para sobreviver. A simbiose particular desses dois, poderia ser assim descrita, no dicionário: Simbiose: s. f. Def.: Relação biológica harmônica entre seres da mesma espécie, (mais especificamente da mesma espécie de gente elegante, inteligente e discreta, com a qual é sempre harmônico conviver), onde ambos são beneficiados e em que ambos precisam um do outro para sobreviver. Sinônimo: Josué & Michele, cujos caminhos, a vida cruzou; as estradas tornaram paralelos, nas diversas viagens que já fizeram juntos; e a dança uniu definitivamente em simbiose.
Sim, eu sei, é certo que "definitivamente" é tão relativo quanto o próprio tempo, a verdade, o infinito, as escolhas de cada um. E quase tão subjetivo quanto. Imperativo mesmo, é aprender a lidar com as impermanências.
Mas, vamos combinar? Quem lê: "Moreno, me convidou para dançar e durante a noite, ficamos a beijar. Foi assim que Josué, meu beijo pôde roubar. O beijo foi tão gostoso, que precisei reprisar. De tanto reprisar, fui ficando. E ficando, comecei a gostar. Gostei tanto, que começamos a namorar. O namoro foi um processo, que prefiro nem comentar. Mas a história não acaba. Tem muita água para rolar. Quem sabe com esse moreno, ainda acabo por casar...". Dela, a respeito dele, pode pensar em impermanências? Ao contrário, sabe que é uma história de amor que estamos ouvindo contar.
E quem lê:" Com o tempo nota-se que o "outro" é tão parte integrante do "eu" que chega ao ponto de um confundir-se com o outro!!! Sou Josué, mas pode me chamar de Michele Cristina!!", nota-se que mais que de amor, é de uma relação biológica das mais harmônicas, que estamos ouvindo falar. Definitivamente, estamos diante de uma simbiose.
Na simbiose, os seres biologicamente envolvidos, relacionam-se servindo-se e protegendo-se, mutuamente. A tal ponto de confundirem-se, lindamente. No caso deles, mais que as mãos que se confundem unidas; mais que os lábios, que se confundem juntos; mais que os corpos, se confundem entrelaçados; são as almas que co-fundem-se, ao se encontrar.
Confundem-se a tal ponto que a distância entre um e outro quase inexiste, embora preservem os limites da individualidade. É o que se chama tornar-se um. É a sensação mais desejada nesse mundo moderno. O amor qualidade de vida. Um tipo de amor muito raro. Só ocorre, porque os dois são muito caros um para o outro, a ponto de sair de si, transpor o egoísmo e a acomodação e se colocar no lugar do outro. Isso é simbiose, mutualismo, isso é doação.
Graças a Deus, é um amor imune à inveja, pois só sendo ou Josué, ou Michele, para viver esse amor, tão particular. Se mudassem os parceiros, o resultado também seria desigual. Não adianta querer se por em seus lugares. Só eles o são. Mas, como nada é perfeito, talvez não seja imune à maledicência. Nesse mundo, pouca coisa é. Então, meus caros, não se contaminem! Imunizem-se. Guardem seus ouvidos um apenas para o outro. E, mais que nas palavras, que não haja dúvida que não encontre resposta nos olhos de vocês. 
Amem-se, preservem-se e protejam-se mutuamente. Para que esse amor cresça. Apenas cresça ..."

Por Cris Vaccarezza

Dia do abraço

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Feliz dia do abraço, hoje, amanhã e sempre! Que afinal, todos os dias, sejam dia de abraçar!!
22/05 Dia do Abraço
Por Cris Vaccarezza

Poeta

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O bom de ser poeta é ter total descompromisso com a realidade da vida. 
O único compromisso de um poeta, é ser porta aberta à própria dor.

Por Cris Vaccarezza
08/05/2014

E agora, será que vai?

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Sabe aquele tipo de homem que te ama no primeiro encontro de olhos, que se apaixona no primeiro sorriso, que bate palminha pra tudo o que você faz, e que de repente, do nada, tasca um "eu te amo!". E você pensa, já? 

É, esse tipo de homem, o tipo que não confessa de jeito nenhum, mas interiormente se acha: "O cara" Aquele de risinho fácil, que te faz sentir a ultima bolacha do saco, sabe?
Pois é, meu anjo! Ele é uma farsa. Completamente fake. Não que ele esteja mentindo para você. Ele está mentindo pra ele. Ele "sinceramente" acha que é a solução dos seus problemas.
Na verdade, ele não tem a solução dos próprios problemas, quanto mais dos seus. 
Mas é inteligente. Já percebeu que o mundo está lotado de periguetes, e as que não são, estão se sentindo preteridas. Investir nessas, facilita a conquista. Mas essas, querem compromisso. Ele não gosta de periguetes, está de saco cheio de casualidade. Quer algo mais sério. 
Por outro lado, compromisso, compromisso mesmo, ele também não quer. Não sabe, ainda, mas pressente.
Então, se ilude, e pensa que ilude os outros em sua pressa. Não é que ele não queira, ele quer muito ser feliz. E é ai que mora o perigo. 
Amar não é uma busca por ser feliz, é uma busca por fazer o outro feliz. E o desafio é encontrar alguém disposto a fazer feliz em troca. Todo mundo anda tão focado em si mesmo. 
É por isso que não importa se é Nathalia, Jenifer, Andrea, Larissa ou Alessandra a bola da vez, o que importa é a ilusão do "agora vai!", que na verdade não nos leva a lugar algum. O que importa não é se agora vai; é vai pra onde?
Por Cristiane Vaccarezza

Perdição

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Paraíso de luz e calor, de mãos dadas, parecia, parecia.
Apaixonada, triste e só, padecia, padecia.
Amor incansável, incurável, interminável, perecia, perecia...
Paixão de morte, forte, muito forte.
Resignara-se à dor que ainda a destruía.
Confiara, optara, decidira. 
Mais um erro, pré-sabido, conhecido, cometia.
Do veneno, mais um copo, mais um gole, ingeria.
O egoísmo, aquele vampiro, sua carne, enquanto beijava, consumia.
Mordia, e suavemente soprava, dela se alimentava, crescia.
Ela, desnutrida, de altruísmo morria. Morria, pouco a pouco, sabia.
Mas decidida, deixava, permitia.
Na aparente perfeição, quem diria?
Era o próprio inferno que nela ardia.
Amor de perdição, puro, casto.
Amor de doação, amnésico, insensato.
Amor que perdoava, até o esbofetear do escárnio.
Amor que esquecia o rosto, que inchado, doía.
Amor que dava a outra face, incessantemente, todo dia.
Amor que sangrava, amor que ciumava, mas compreendia.
Amor que apaixonava, maltratava, feria.
Amor no paraíso, verdes águas, parecia.
Mas era só o inferno, que o egoísmo alheio promovia.
Até quando amizade, fidelidade em vão, lhe juraria?
Até quando o amor ao outro, sobre o próprio, imperaria?
Até quando a faca, das próprias costas,
ainda com a mão ensanguentada ela mesma arrancaria?
Quantas punhaladas seu amor de perdição suportaria?
Seu amor de doação que ninguém nesse mundo compreendia?
Ah, que saudades, de sua bendita terra, sentia.
Terra onde amavam, terra onde doavam, terra onde repartiam.
Que saudades da gente boa, que deixara em casa, quando pro exílio da carne partira.
Mesmo ferida, lavada de lágrimas, após cada grito de dor, se reerguia,
e em silêncio, uma prece, ainda que imperfeita, proferia:
"Abençoa, Senhor, esse momento, pois é para o meu crescimento, na paz, na tolerância e no amor.
Que eu permaneça de pé, ainda que seja testada a minha fé, da noite ao amanhecer.
Dia virá em que o tempo porá um fim nesse martírio, e deixando este exílio, para casa poderei voltar."
Por Cris Vaccarezza

Caverna submersa

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Estou me machucando seriamente. A cada instante, mais seriamente. Pior, buscando deliberadamente essa dor. 
Mergulhando na mesma poça d'água parada, seguindo o mesmo caminho de pedras pontiagudas tantas vezes trilhado. O mesmo caminho de pedras, as mesmas pontas de pedra afiadas pelo egoísmo, os mesmos pés descalços, já tão calejados caminhando novamente rumo à terra do nunca... Nunca chega, nunca é recíproco, nunca é bom, nunca é o bastante. Uma poça de lama, um poço sem fundo. Um doar sem limites, uma profusão de mentiras e uma reciprocidade pífia...
Um vão mínimo entre duas paredes, um furo na superfície congelada por onde respirar, um flerte com a dor, um quase... Um salto sem pára-quedas do penhasco da ilusão. Nada mais... Sei disso.
Sei também que estou errada. Mas quem disse que o errado não é o caminho mais certo pra libertação, já que o caminho certo nunca lhe conduziu a nada? Não seria o momento de mudar?
Quando a mente é burra, a razão é cega e o coração teimoso, não tem jeito, o destino final é o penhasco ou a parede e o choque, é uma questão de tempo. Quando vejo, lá estou eu de novo na ponta do precipício: Prendendo o fôlego, mergulho nessa banheira confortavelmente cheia de mentirinhas quentes... Me lanço, me solto, me jogo. Fecho os olhos, abro os braços. Estou de peito aberto para o erro. De peito aberto para essa lança afiada que atravessa a minha carne sem dó. 
Dói, e como dói. Mas eu aguento. Eu resisto. A cada estocada, o dano é maior. Mas a força é diretamente proporcional. Siri velho, casca mole, lembra? É preciso muita pedra, muito grão de areia preso nas reentrâncias do casco, para fazê-lo endurecer. A vida exige que siri tenha casco duro, lembra? Tem que tratar de crescer! A cada passo dado, uma pergunta... Por que, meu Deus?! Mas se é pra ir, eu vou! Agora é tarde até para questionamentos. 
Amar, é como mergulhar em uma caverna submersa, sem bússola, sem GPS. Não dá para voltar. O azul inebriante do entorno, o som torturante e doce do mar cantando nos ouvidos, o ar cada vez mais escasso e rarefeito e a água, invadindo tudo. 
Certo ou errado, vou nadando... se tiver fôlego, do outro lado, verei a luz. Se não, morrerei tentando aqui mesmo nesse breu. Sigo tentando. 
Por Cris Vaccarezza
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