Caverna submersa

Estou me machucando seriamente. A cada instante, mais seriamente. Pior, buscando deliberadamente essa dor. 
Mergulhando na mesma poça d'água parada, seguindo o mesmo caminho de pedras pontiagudas tantas vezes trilhado. O mesmo caminho de pedras, as mesmas pontas de pedra afiadas pelo egoísmo, os mesmos pés descalços, já tão calejados caminhando novamente rumo à terra do nunca... Nunca chega, nunca é recíproco, nunca é bom, nunca é o bastante. Uma poça de lama, um poço sem fundo. Um doar sem limites, uma profusão de mentiras e uma reciprocidade pífia...
Um vão mínimo entre duas paredes, um furo na superfície congelada por onde respirar, um flerte com a dor, um quase... Um salto sem pára-quedas do penhasco da ilusão. Nada mais... Sei disso.
Sei também que estou errada. Mas quem disse que o errado não é o caminho mais certo pra libertação, já que o caminho certo nunca lhe conduziu a nada? Não seria o momento de mudar?
Quando a mente é burra, a razão é cega e o coração teimoso, não tem jeito, o destino final é o penhasco ou a parede e o choque, é uma questão de tempo. Quando vejo, lá estou eu de novo na ponta do precipício: Prendendo o fôlego, mergulho nessa banheira confortavelmente cheia de mentirinhas quentes... Me lanço, me solto, me jogo. Fecho os olhos, abro os braços. Estou de peito aberto para o erro. De peito aberto para essa lança afiada que atravessa a minha carne sem dó. 
Dói, e como dói. Mas eu aguento. Eu resisto. A cada estocada, o dano é maior. Mas a força é diretamente proporcional. Siri velho, casca mole, lembra? É preciso muita pedra, muito grão de areia preso nas reentrâncias do casco, para fazê-lo endurecer. A vida exige que siri tenha casco duro, lembra? Tem que tratar de crescer! A cada passo dado, uma pergunta... Por que, meu Deus?! Mas se é pra ir, eu vou! Agora é tarde até para questionamentos. 
Amar, é como mergulhar em uma caverna submersa, sem bússola, sem GPS. Não dá para voltar. O azul inebriante do entorno, o som torturante e doce do mar cantando nos ouvidos, o ar cada vez mais escasso e rarefeito e a água, invadindo tudo. 
Certo ou errado, vou nadando... se tiver fôlego, do outro lado, verei a luz. Se não, morrerei tentando aqui mesmo nesse breu. Sigo tentando. 
Por Cris Vaccarezza

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