Tácitos

De repente uma saudade de você me assola. Assim, do nada, me assalta. Que saudade! Mas que saudade mais sem propósito! Tanto tempo depois? E saudade não é mesmo assim, absolutamente sem propósitos?
 Mas é saudade sim. Dos risos que rimos juntos, dos poucos e ricos momentos que passamos na companhia um do outro, das ligações que me faziam rir. Saudades das frases trocadas, das músicas, da sua presença constante em minha vida, dos compromissos que sonhamos. Saudades das viagens que docemente imaginamos e só imaginamos. De tudo aquilo que poderia ter sido e não foi.
Às vezes tenho essas saudades malucas. E me vejo olhando as fotos, lembrando dos momentos e pensando: Estamos perdendo tempo! Estamos perdendo o tempo de estar juntos. Estamos nos perdendo no tempo. 
Daí me dá uma vontade de ligar. Tipo despretensiosamente ligar, apenas ligar, dizer um "olá!" Seguido de um "estava pensando... você alguma vez pensou em voltar pra mim..."
Mas estava só pensando mesmo, e como viaja o meu pensamento. Daí eu lembro que já não deu certo antes. E isso me faz tanto mal, se não deu certo contigo que parecia tanto comigo, com quem daria certo afinal? 
É a lógica, a dura e insofismável lógica. A mesma lógica de tempos atrás, e de lá pra cá, tanta pouca coisa mudou. É a lógica, irmã da logística que empaca na distancia tão pequena e enorme entre nós. Essa mesma lógica que sussurra docemente em meus ouvidos: Esquece isso! Deixa pra lá. Se ele quisesse, talvez ele ligasse... E talvez tenha razão! Afinal é a lógica. 
De repente, me dou conta de que éramos tão parecidos, tão compatíveis, por que será que não deu certo, não é? Talvez exatamente por isso...
Há tanto entre nossos lábios, tantos quilômetros de palavras não ditas, de gestos não feitos, de atitudes não tomadas, somos tão pacientes os dois, tão tácitos, que melhor deixar pra lá. 
Mas só queria que você soubesse dessa saudade subitamente sem sentido.
Por Cris Vaccarezza

1 comentários :

Lu Dantas disse...

Gostei de texto!

Certa vez escrevi sobre a saudade. Era algo assim..ela se aporta como se estivesse à deriva num horizonte vasto ou à beira-mar. Vem do nada. Sem aviso. Num ritmo lento. Devagar. Ainda irrelevante. Dominável. Aos poucos, vai se impondo, vibrando, crescendo, remoendo por dentro. Passa a voar por aí. Parece dona de si, mas vira mesmo a dona de todos nós...rs

Abs

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