Efêmer'idade

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Meu Deus! Uma dor lancinante, uma tontura atroz, a escuridão, o nada... Pensei, a vida é uma fina flor de incerteza mesmo! 
Uma lâmina, um sopro, um fio. Temo-la de forma efêmera, e a qualquer momento, perdemo-la, assim, sem mais...
Sim, a saúde é o bem mais precioso. Mas percebemos isso, tarde demais, pena! Descobrimos tarde demais o quanto somos perfeitos, íntegros, lindos, lúcidos... Percebemos apenas, quando já não o somos.
Percebemos então, que o importante, o urgente, o essencial, não são exatamente as "coisas" que imaginávamos. Não são os carnês a vencer, nem as carnes a endurecer, tampouco são o carro, a casa, a louça que deixamos suja na pia pouco antes de tropeçar na ansiedade, agonizar e cair inertes em função da correria.
Não importa! Nada disso importa agora que já não somos íntegros, perfeitos, saudáveis. E Deus queira, não seja tarde demais!!! Eis o famoso filme da minha vida, uma conjunção de vazios a desfilar diante de meus olhos!
Quem dera ainda haja tempo para abraçar aquele irmão que discorda da gente, quem dera ainda dê tempo de dizer aquele eu te amo praquela pessoa especial, quem dera ainda dê tempo de pedir perdão àquele que me odeia, de afagar os cabelos de meu filho.  Quem dera houvesse tempo para check up tantas vezes adiado, para o panfleto de viagem tantas vezes esquecido sob a pilha de contas a vencer...  
Tomara que dê tempo, nesse breve segundo em que meus olhos pesam demais...
Por Cris Vaccarrezza

E o tijolo da crítica, o que constrói?

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Nada mais gratuito e sem valor que aquilo que é achado. Achado, já se sabe, não é roubado. Mas tampouco é comprado, por tanto, não tem lá muito valor.
Deve ser por isso que os críticos de plantão agora aventuram-se por todos os campos, normalmente desvalorizando e desqualificando aquilo que mal conhecem. A idéia que sequer compraram, e que por tanto, para eles, nada vale. O sonho que não sonharam é por tanto é ridículo, pobre ou inadequado.
Dizem: Ah, quem é essa? Só a vi uma vez, nada sei a seu respeito, não calcei seus sapatos, não segui seus caminhos, mas sua atitude me parece ser menos isso ou aquilo. Aquel'outro, quem é? Nunca o vi mais gordo ou magro, mas acho que seria melhor se adotasse essa ou aquela postura.
Outro dia, ouvi de apresentador de tv uma frase marcante. "Como é fácil a vida do crítico!" Realmente, quem critica, raramente constrói alguma coisa de seu. Raramente constrói algo além de muros de discórdia com as pedras que atira. Mais que isso, suas pedradas preconcebidas podem desacreditar alguém e fatalmente destruir toda uma sementeira de planos, apenas com suas palavras muitas vezes embasadas num mero achismo, numa simples impressão. 
E que impressão negativa um julgamento precipitado pode deixar. Pode adiar um sonho, abortar uma tentativa, a preço de nada, de uma opinião qualquer de alguém que nunca tentou. Acho injusto. E se é para ser justo com tanto achismo ruim, me permitam também criticar.
Longe de mim querer gerar polêmica,  afinal, esta também é apenas a minha opinião. Mas nela, está embutida uma campanha pela busca de espelhos, em vez de janelas. Uma campanha para que achemos menos, conheçamos mais, critiquemos menos, encorajemos mais, julguemos menos, amemos mais. Busquemos mais a trava em nosso olho, que o cisco no do vizinho. A vida é via de não dupla e na volta, pode ser para nós que apontem os dedos do achismo e os olhos da invigilância.
Critica sem conhecimento de causa, não é grafite, é pichação. Como dizia o poeta, mais amor, por favor!
Por Cris Vaccarezza

Status Quo

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Lembro que costumava ler, quando novinha, aqueles livros açucarados, repletos de heroínas falhas e heróis másculos e apaixonados, que nos amariam e compreenderiam apesar de todos os pesares, por toda a vida e além, para sempre. Jamais encontrei algo assim, além da imaginação dos escritores.
O status quo do amor é um amar sem limites, sem retorno, sem correspondência, sem medidas. Um doar permanente de amor.
Isso posto, amor anda a quilômetros do proposto pelo ideal romântico dos folhetins mais apaixonados.
Vê? Eu disse apaixonados, não amorosos. Quando pensamos em um ser amoroso, no mais das vezes, lembramos da nossa mãe, em tese, exemplo de doação, desvelo e amor. Raramente lembramos do ser com quem estamos envolvidos. E paradoxalmente, esperamos desses, atitudes de desvelo, altruísmo e desinteresse. Como, se o fogo que nos consome é paixão, e não amor? Mania boba de confundir amor com paixão.

Há amor. E não é difícil perceber, embora talvez seja difícil econtrá-lo.  O que ocorre, é que amor não se busca, amor desenvolve-se. Amor não vem de fora para dentro, brota e cresce de dentro para fora. Amor é expansão.
Amor pode até ser verdadeiro, sincero, à primeira vista, inabalável, sem fim, mas não necessariamente correspondido. Porque não se é obrigado a amar na mesma medida em que somos amados. Muito pelo contrário. Longe de ser inquisição, ele é abstração. Amor não é substantivo ou pronome possessivo, amar é intransitivo.
Tampouco, somos obrigados a amar na mesma intensidade. Ele ama, nós talvez não. Isso é uma das grandes lacuna da vida. Não amamos por sermos amados.
Aliás, a bem da verdade, grande parte humanidade sequer descobriu ainda o que seja o amor. Acha que amar é estar apaixonado, amar é ser amado, amar é uma sementeira de atenções e cuidados para o porvir...
Não! Amar é doação! Quando você doa algo, não espera realmente que o receptor venha bater á porta da sua casa, estender a mão segurando a sua e te agradecer. Claro que não! Quem doa, doa por que quer, doa por ter algo em abundância, doa por saber que um, dois ou mais sorrisos serão construídos à sua revelia. Talvez ele nem veja os sorrisos florescerem, mas sabe que alguém há de sorrir. Só isso importa.
Amar como amam os cachorros. Aliás, um impropério, uma mulher traída, magoada, referir-se ao suposto culpado por suas dores como: "Aquilo é um cachorro!" Quem lhe dera, teria um companheiro fiel para a vida inteira. Cachorros amam de verdade. Amar como os cachorros seria um refinamento para os humanos, tão cheios de si.
Não ama quem tem posse, quem domina, quem  manipula, quem chantageia o outro. O nome disso é paixão. Paixão é exigente. O amor, indulgente.
Ama quem liberta, quem compreende, quem ampara sem condições, quem protege sem querer dominar, quem perdoa. Perdoa e deixa ir...
Por isso, amor não é só para o contos de fadas. A paixão sim.
A paixão deixa um Locus, um espaço a ser preenchido. A paixão, de tão insensata, para nos enredar em sua dor, usa o pseudônimo de amor.
Não somos ainda capazes de amar, pois amor é raridade, é pureza, é oração.
Amor não é para o cotidiano, ainda.
Amor é para o futuro. Um futuro de melhores pessoas. Um futuro em que seremos menos eu e você e seremos mais nós. Um futuro em que seremos menos apaixonados e mais amorosos.
Amor é para quando sairmos do Status quo amoroso.
Por Cris Vaccarezza
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