Falta de juízo


Tanto tempo tiveste para repensar atitudes...  Por quanto tempo esperei que, tocado pela mão da razão, ou pelos apelos do meu, ou do seu coração, você voltasse pela mesma porta que deixei aberta a seu pedido... Perdoando a sua falta de juízo, a sua imaturidade juvenil. Por tanto tempo fui, absolutamente e irremediavelmente sua?
Por quantas madrugadas, a porta esteve aberta? Dormiu e amanheceu aberta, enquanto meu corpo insone, vigiava a rua à espera de você? Quantas vezes ansiei por sua chegada e exultei de felicidade com sua visita de beija flor, para logo depois, conformar-me em meu silêncio, com a sua partida? "Sou do mundo, Maria!" Você dizia pra mim.
Quantas vezes quis, eu mesma, ser também do mundo assim, e no desespero, cheguei a me entregar à raiva, ao despeito e ao rancor. Mas o tempo é senhor de todas as mágoas, e aos poucos, me fez compreender sua escolha. Você era do mundo. Concordava em silêncio:  És livre! Foi assim que foste feito. É assim que serás! E eu te amava mesmo assim. Perdoa, Pai, é falta de juízo!
Resignada com a minha estrela ruim, por quanto tempo vivi de incerteza, e aceitei dividir seu amor, parcelado por aí, na busca de cada um dos fragmentos em que meu coração se partiu com a sua partida. Quantas vezes dormi em seus braços e acordei sozinha? "Sou do mundo, Maria!" Recordava-me.
Pois bem! Um dia, cansei de tudo isso! Tranquei a porta, fechei a casa, a cara e a janela e me recolhi em longo inverno. Me fiz lagarta, sem temer as bicadas de um ou outro pássaro qualquer. Em meu casulo, aguardei por várias e sucessivas metamorfoses. Certa manhã, emergi. E eis que era primavera outra vez! Eis que outras borboletas habitavam meu jardim, e finalmente, me convidaram para dançar! Aceitei!
Surpreendentemente, a dança começava a cadenciar, alcei alguns vôos e comecei a gostar. Eu que achei que jamais confiaria outra vez. Me distanciava a cada vez da amargura do casulo.
Mas é aí que volta você, com sua malandragem de menino que perdeu o brinquedo preferido. E me segura pelo pé, me traz de volta ao chão e desfia um rosário de prantos. Agora não é mais do mundo, "Meu mundo é você, Maria!"
Por que sofro contigo? Se nem sei mais se o meu mundo é você. Por que partilho sua dor, se a minha, nunca te pertenceu? Deve ser falta de juízo!
Por Cris Vaccarezza

2 comentários :

Lu Dantas disse...

Pode ser falta de juízo? Pode ser excesso de amor? Pode ser a vida sem pudor? Pode ser o que for.

Acredito que o mais importante disso foi ver que o tempo é sempre o melhor remédio. E que, certamente, se olhar para dentro de si saberá exatamente o que esse sentimento que voltou quer dizer. Compaixão ou paixão? Vai saber..ninguém sabe! Só você!

Grande abraço

www.lucadantas.blogspot.com.br

poesias acidentaids disse...

Oi Lu! Obrigada por sua visita! Compaixão ou paixão? Talvez só o tempo tenha essa resposta! Abraço carinhoso!

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