Você confia demais nas pessoas!


Tinha um mau habito terrível no trato com os cavalheiros. Aliás, tinha um mal hábito terrível no trato com qualquer pessoa. A ponto de ser chamada de ingênua por toda a gente: "Você confia demais nas pessoas!" diziam, dos mais velhos aos mais moços. Ledo engano. Confiava sim, fazer o que? Era assim, como desviar da essência que a fazia única, como cada um de nós?
Mas havia um método, com os cavalheiros, assim como com todo o resto, tratava-os assim: Ao conhecer alguém, dava-lhe cem por cento dos créditos, cem por cento da atenção, cem por cento de sua confiança, cem por cento de seus ouvidos atentos e de seus olhos abertos. Há melhor maneira de conhecer alguém?
Tudo o que lhe diziam, era automaticamente considerado uma verdade. Aceito sem filtro, e introjetado, como se verdade fosse. Essa pessoa é assim. Segundo ela mesma. Há melhor referência? "Você confia demais nas pessoas!" repetiam. Fazer o que, elas lhe contavam a sua história, falavam, falavem, e ela os ouvia atentamente. Para ela, eram as melhores pessoas do mundo. E as recebia em seu mundo de braços abertos. Amava pessoas. E como são amáveis, as pessoas! Não são?
Pintavam de si os melhores quadros, transmitiam o que de melhor tinham para dar. Havia pessoas com palavras doces feito mel, outras nem tanto, outras que já mostravam desde o início um ríspido tratar, sem palavras rebuscadas, sem o mesmo tato no falar. Ouvia a todas com igual atenção dando a elas todas, o benefício do tempo. Com o passar do tempo, as palavras começavam a distoar de algumas atitudes. E formavam-se algusn tipos em particular. Havia as de fino falar, cujas palavras eram doces, e seus gestos idem, mesmo passando o tempo, e essas eram amadas e seriam amadas para sempre, mesmo que chegasse um momento em que fosse preciso seriamente falar, falariam com o som do amor em suas vozes, pois eram amor e para elas, havia guradao o altar dos sábios, os que sabiam viver, os que usaram o tempo em favor da paz. Havia o grupo dos de rude tratar, mas cujas atitudes revelavam imenso amor e carinho, uma honradez, um caráter, inabaláveis. Amavam, mas não sabiam falar. A esses, reservava o lugar dos cavaleiros. Nobres de espírito, rudes no tratar, usaram seu tempo para a defesa do bem, mas ainda lhe restava aprender a pacificar a alma, aprender o perdão e sábio ficar.
E havia os tristes, cujas palavras doces iam aos poucos, tornando-se amargas pela falta do que subsidia o bem, o amor. Essas, infantis ainda em suas almas, perdiam-se no tempo, atropelavam-se com a dicotomia do que queriam ser e do que realmente eram. Seus discursos lindos, encontravam-se em frangalhos ante o paredão do tempo que exige mais que palavras bonitas, exige atos de fé. Iam esfacelando-se pelo caminho. Perdiam-se na própria inconcistência, subdividiam-se em uma infinidade de categorias inferiores: os invejosos, os interesseiros, os fofoqueiros, os maledicentes, os caluniosos, os vingativos e toda uma gama de seres, a quem reservava o espaço de irmãos.
Não sendo ainda nobre como um cavaleiro ou pacificada como um sábio e sabendo-se imperfeita como eles, reconhecia-os como companheiros de jornada, capengas iguais a ela, que careciam de atenção e zelo. No entanto, assustada com o ferir constante, não lhes confiaria mais a espada desembainhada sobre o seu pescoço. O tempo, e não ela, retirou-lhes os créditos, e agora cabia a eles, galgar novamente os degraus ascententes que lhes levariam de volta ao posto de cavaleiros honrados e quem sabe um dia, de sábios.
Seguiria com eles, esse caminho também era o seu, num confiar desconfiado de todos os dias. Descobria enfim, uma forma democratica e leal de confiar em todos, dando a cada um, a faixa que mereciam em seu coração, e deixand que eles mesmos, ocupassem seus espaços, de acordo, não apenas com as suas palavras, mas com o seu próprio coração. Tempo e atenção, essas são as chaves. Quer conhecer alguém? Dê-lhe tempo e atenção.
Por Cris Vaccarezza

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