Tem calma!

Com o tempo, senhor dos exércitos e da paz, vamos percebendo que é a espera, e não a ansiedade, que traz a resposta a todas as perguntas. Que traz à tona a verdade, que destrói toda a vaidade, junto com cada dia, com cada sol. Mas quanto tempo custa ao tempo, passar? O tempo que for necessário, o tempo entre semear e colher, o tempo de esperar.
Afinal, é a espera que dá vida à semente, e a faz romper o lodo, crescer as raízes, e finalmente vicejar o broto tímido, como um carvalho imponente.
É a espera que rompe as entranhas e põe nos braços da mãe, o filho recém parido, para que esta o amamente. 
É a espera que gesta a vida, e traz de volta ao ancião, a saúde perdida. Ou o leva de partida, rumo a terras desconhecidas, ou não.
É a espera que pouco a pouco descortina o véu do medo, que revela enfim todos os segredos, que põe fim a todo o pranto e resgata toda a alegria, toda a emoção.
É a espera que fecha as feridas, que sana as dores, que regenera. É a espera que nos faz tocar a vida, seguir com a lida, elaborar o pão.
É a espera que constrói o prédio, que faz a ponte, que doura o trigo, que amarela o milho, que desabrocha a flor. É a espera que cura a ressaca e é também a espera que apaga na memória a ausência do amor.
É a espera que dilui as mágoas, que cresce os cabelos, é a espera que acalma as águas, que nos adormece, após os pesadelos.É a espera que semeia a paciência, a indulgência, a compreensão.
A espera é mãe da tolerância, da resiliência, da compaixão.É a espera que dá à lagarta, asas. É a espera que confabula o perdão, é a espera que amaina os instintos, que amplifica a voz da razão.
É a espera que dá ao recém-nascido, a habilidade de andar; a mesma habilidade que mais adiante, já envelhecido, ele irá pouco a pouco abandonar.
A espera é a espiral da vida, o amadurecer, o amanhecer, o caminhar. Traduzido no tic tac insofismável do relógio, nos faz dormir e acordar. Apesar de todos os pesares, a despeito de todas as alegrias, a certeza de um novo dia, é o que nos faz perseverar pela estrada da vida.
E assim, ponte entre o berço e o túmulo, entre o ontem e o amanhã, é somente ela, a espera, que nos acompanha diuturnamente, fiel, impreterivelmente até o final.

Por Cris Vaccarezza

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