Unanimidade

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Olha, se quer saber, eu cansei desse papo de tem que ser todo mundo alto, tem que ser todo mundo magro, tem que ser todo mundo fit, tem que ser todo mundo zen, tem que ser todo mundo light, todo mundo tem que usar droga, todo mundo tem ostentar. 
Tem que ser todo mundo branco, todo mundo de direita, todo mundo de esquerda, todo mundo de olho azul, todo mundo bronzeado, todo mundo cabeludo, todo mundo loiro, todo mundo tem que gostar de uva, todo mundo tem que ser lindo, e morar em Paris, todo mundo tem que... Chega!!
Não sou todo mundo! Ninguém é todo mundo! Cada um é apenas o que é! Claro! Ninguém é uma sentença, tudo pode mudar. O que me incomoda é a exigência de ter que mudar pra ser igual a todo mundo!
O que todo mundo esquece é que, embora globalizado, o mundo é uma sopa de carinhas heterogêneas. Cabeças, corpos, etnias, biologias, ideologias, corações e histórias absolutamente diversos.
Não dá pra generalizar! Toda generalização é burra! Aliás, o que parece é que grande parte do "todo mundo" está àvido para se tornar, massa de manobra, bucha de canhão, rótulo, homogeneidade! 
Vamos lá, pessoal! Vamos respeitar as diferenças! Vamos tentar ser diferentes só para contrariar! Vamos tentar existir enquanto digital independente, enquanto ser humano único! Reivindique seu direito de existir! Não aceite ser mais um! E se quiser mudar algo em você, que seja por vontade própria, jamais por imposição de uma massa cada vez mais homogeneamente acéfala!
E pra finalizar, como eu disse no princípio, isso tudo é se quiser saber. Gostaria de informar que todo mundo NÃO tem que concordar comigo. Essa é apenas a minha opinião,  você também não precisa concordar comigo! Divirja! Divergir é bom! Seja você! Seja único!
Por Cris Vaccarezza
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Você me procurou naquela tarde abafada, tornando o ar quente, ainda mais rarefeito. O susto daquela mensagem inusitada em plena três da tarde de uma segunda feira, primeiro do ano me fez faltar o ar. O coração brecou no peito por alguns segundos. Os olhos incrédulos piscaram algumas vezes como a conferir se era mesmo seu, o nome que entrava como notificação, ao lado de um "Olá, feliz ano novo!" no canto da tela.
E era você! Depois de tanto tempo, de tanto amor desperdiçado, de tanto silêncio fio desencapado, de tanta saudade amargurada só, você volta, do nada, travestido de manhã de reveillon em meio a uma ressaca guerra!
Mas por que logo hoje? Por que agora, depois de tanto tempo? Ora, contemporizei, deixa de bobegens menina, é só uma mensagem de feliz ano novo. O cara não te pediu em casamento... Mas a sutil memória dos seus sussurros em meu ouvido me dizia que não pararia por alí.
Não vou responder. Vai sim, eu te conheço! Não, não vou! Não sou a mesma mulher que ele conheceu. Tenho muito m ais cicatrizes, muito mais feridas, muito mais pontas, arestas, quinas e desilusões. Tinha mágoas mesmo. Magoas, dele inclusive. Magoas da sua ausência. Medos, medos muitos.
Mas mais que isso, ainda tinha depois de tanto tempo, a lembranca nítida das suas mãos nas minhas, dos seus olhos nos meus e dos inumeros sorrisos que me arrancou. E isso, mais q todas as cicatrizes, feridas e mãgoas, era a parte que em mim, doia mais,

Equilíbrio

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O sentido da vida é o equilíbrio entre ter e ser.

É preferível ser desorganizado com as coisas, que com as ideias. De que adianta perder horas organizando meticulosamente coisas que um dia ficarão aqui, enquanto o lixo mental de mágoas guardadas, se espalha por toda a alma? De que adianta, ter impecável o jardim, enquanto os maus sentimentos crescem no peito, qual ervas daninhas? De que adianta ter sempre um lanche a dar, um prato novo a oferecer a uma visita, e não ter uma palavra de incentivo para alimentar um espírito caido? De que adianta saber receber em sua casa, e não saber acolher em um abraço?
É preferível deixar as coisas espalhadas, mas os pensamentos reunidos em prece por alguém. É melhor ter os cabelos desarrumados e as roupas desalinhadas, mas sentimentos voltados para o bem comum. 
O que verdadeiramente  interessa, são as coisas duradouras, não as efêmeras.
É preferível cuidar da mente que do corpo. O corpo é uma veste que edifica a alma, não o inverso. 
O corpo é do mundo, mas a alma é de Deus.
Por Cris Vaccarezza

Casa de praia

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Tem coisa pra dar mais trabalho que casa de praia? Tem coisa mais fora de moda?Aquela casas que você só vai uma vez ao ano? Que precisa de atenção à cada ano? Pois bem, sou do tempo em que meu pai reservava um tempo de sua agenda corrida, para preparar a velha casa de praia a cada ano para mais um veraneio. Mandava para lá pedreiro, eletricista, encanador e o que mais fosse preciso importar para deixá-la nos trinques. 
Lembro que fui criada ali. Tenho orgulho de dizer q cresci na praia deserta do Baixio de Esplanada, com sua simplicidade singela e lúdica de vila de pescador. 
Naquele tempo, os homens preocupavam-se com a reforma da velha casa, com a preparação do conforto da família e arquitetavam as férias, tiravam um mês longe do trabalho e desciam para a praia, de mala e cuia com a família embaixo do braço. Hoje as coisas mudaram. Ninguém mais quer ter esse trabalho. Pra que perder tempo reformando casa velha se sempre se pode ir parar em um hotel novo, numa praia nova, numa morada de aluguel? Pra que carregar a mulher velha pra casa velha, se sempre se pode alugar algo novo?
Amores de aluguel são como imóveis de temporada, reserva-se, goza-se e parte-se, sem qualquer compromisso de compra, ou de volta ao destino visitado. Não importa se a estadia foi boa ou não, se voltarmos àquele destino ou não. Trata-se apenas de um imóvel de aluguel.
E se por acaso gostarmos muito, e de repente decidimos voltar, podemos nos hospedar no imóvel em frente, sem ofensas. Apenas negócios, apenas experimentando. Com tantas opções no mercado, podemos ficar em qualquer outro imóvel, inclusive no mesmo outra vez. Mas não necessariamente. E que o proprietário não se sinta na obrigação de um compromisso. Imóvel de temporada, lembra? Nada de compromissos.
Nesse tipo de contrato, não me importa se a casa está alienada, se esta hipotecada, ou se vai a leilão. Não me importa se a dona está doente, se está para ser invadida por sem terras. Desde que na data acordada, esteja ela lá, de portas abertas, acolhedora e quente, não me importa seu antes, muito menos o seu depois.
Não quero saber o que será feito do lixo que eu deixar. Se for abaixo, demolida por uma bola de ferro gigante, ou dinamitada no dia seguinte, que me importa? 
Contrato de temporada, lembra? Não vim até aqui para ler Esopo na varanda da casa. Tampouco vim para recitar as doces falas de Julieta da sacada de sua janela, em busca de um passante Romeu! Aqui é Macbeth! É ser ou não ser, eis a questão! Aliás, trata-se de estar ou não estar! Ser ou não ser, é existencialista demais. Somos superficiais, lembra? Cimento, bloco, locus, carne!
Mostre-me os dentes! Quero sorrisos enquanto estiver aqui! Es de aluguel! Uma morada prostituta pos moderna. Um lugar a ser preenchido, esse é seu fim!! É espaço! Espaço prescinde preenchimentos, aluguel prescinde função, rotatividade. Pureza nenhuma!
Essa é a natureza humana! Usar e descartar. No mundo pos moderno, somos descartáveis como a tela de um frio laptop.
Pode-se sim! Pode-se tudo em nome da praticidade. Mas não espere que os filhos práticos de hoje em
dia, vão se ver no compromisso de cuidar dos velhos de amanhã. É tudo descartável, lembra? Tudo de mentirinha! Tudo de temporada. Não espere contratos de longo prazo de quem está acostumado a temporadas! Quando a sua temporada acabar, só outra!! Sem vínculos!! Contratos sem renovação!
Já não se fazem mais casas de praia de família, como antigamente. Aliás, já não se faz família como antigamente! Saudades do antigamente...

Bloqueada

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Estava ferida de morte.
Talvez, não tão de morte,
posto que, por pura sorte,
punhalada de amor não mata,
Só dilacera, só fere e maltrata.
Mas estava ferida de fato.
Ferida no mais intimo regato
no veio d'água mais pura
de seu desatento coração.
Ah, coração sem malícia,
coração sem milícia
coração que julga ser bom
a todos que dela se acercam.
Estava ferida na fé
Ferida enquanto mulher
pela desventura baldia
de um que um cafajeste qualquer
que não tinha se não maldade
enquanto a destilava sensualidade
exalava frivolidade
e distava em integridade
dos valores que dizia defender.
Um homem que nem sequer suspeitava,
das dores que carregava
no peito sofrido, aquela mulher
E que mais uma vez voltava
do limbo em que se encontrava
para roubar-lhe os sonhos
fincar-lhe a faca na carne
e partir como bom ladrão.
Inda se ela aprendesse,
inda se se lembrasse,
do estrago que aquele traste
fizera há tempos em seu coração...
Ah, mas parecia demente,
de amor fazia-se toda crente
e perdoar, era seu habitual
Agora, estropiada e ferida,
largada de toda a vida,
ressentia-se da própria sorte
por ser ferida de morte
da flecha fria e torta,
do cupido a quem acolhera.
Cupido burro e caolho,
cupido maneta e bandido
que de anjo nada tinha,
e que de tão perigoso e maligno,
só podia mesmo era ter
parte era com o inimigo!
Por amargas que as lágrimas fossem
por geladas que escorressem na cara ensopada
eram elas que sempre ficavam
e quando todos partiam, as lágrimas a acompanhavam
de volta para o catre frio
E por mais que a tristeza a assaltasse,
ódio, raiva, rancor, que era bom, não sentia
a tudo perdoava, pois de orgulho carecia
De falta de amor próprio padecia,
e aos poucos morria, uma célula por dia,
aquela reles pagã
chorava, sofria e lamentava
pois sabia ser ela mesma,
a autora de sua febre terçã
Banzo é maleita de gente sem siso
quem mandou perder o juízo
em nome de um amor que jamais foi seu,
queria ter a seu lado,
um homem que emocionalmente aleijado,
não atinava no que era bom ou ruim
que era narciso de fato,
era um menino malvado
era nada mais, nada menos,
que um mentiroso enfim.
Por Cris Vaccarezza 26/08/2015
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Não sou mais uma! Sem querer desmerecer as outras, não sou uma outra qualquer! Melhor dizendo, não sou pro seu bico, não sou mulher pra você!
Não osu mulher pra esse tipo de homem que só te procura quando troca de carro. Que te procura quando está interessado em aparecer


O que leva alguém a bloquear você?

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Obviamente o desejo de arrancar você de seu convívio social. Que motivo teria você dado? Só cabe a você e o seu contato saber. Se o bloquei ocorreu após uma briga, após uma acalorada discussão, pode ser que o motivo seja a raiva, o ódio a destemperança. No entanto, a raiva não leva ninguém a nada e uma conversa tranquila, acalmados os ânimos, talvez fosse a melhor solução.
Se alguém te ofendeu, te magoou, te destratou e em seguida te bloqueou, não lamente. Por certo, foi a vida te livrando do convívio com alguém que verdadeiramente nunca viu algo de voloroso em você. Talvez o perdão silencioso e a distância, fossem a melhor saída.
Se o bloqueio ocorreu por conta de assédio, se essa pessoa perseguia, ligava, enviava mensagens invasivas e excessivas, insistia e invadia o seu espaço. O motivo talvez tenha sido falta de bom senso, necessidade de privacidade. Ainda assim, uma conversa talvez fosse a melhor solução.
Mas se o bloquei ocorreu após uma noite de amor, minha cara, então nem importa o motivo, você cruzou com um cafajeste da pior espécie. Um cara inseguro, infiel e narcisista, que não dá conta da própira sexualidade, quanto mais da sua. Não se sinta nem por um segundo diminuída em sua beleza, em seu amor própio, em sua auto estima. Ele é que jamais mereceu você.
Num caso desse, simplesmente ignore as possibilidades anteriores. Não pense em perdoar, em conversar, em procurar. Elimine essa praga da sua vida, dos seus contatos e da sua rede social. Retrbua o bloqueio. exclua o numero dele, cancele a amizade e esqueça que esse energúmeno um dia sequer cruzou um olhar com você.

Ao que se ausenta por vontade

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 Do pouco que me lembro daquelas noites de bebedeira, era que bebia na intenção dele.
Bebia para ter coragem de dizer-lhe tudo o que me envenenava a alma e me entalava na garganta.
Bebia para ter coragem de dizer-lhe o quanto o meu amor platônico, insano, pueril, poderia fazer-lhe homem, sensato, viril. Bastava que ele assim o desejasse e estaria a seus pés. Bebia para gritar que amava-o! E bebia também para esquecer.
Mas na insegurança do meu trepidar de dedos na tela fria do smartphone, buscava tropegamente seu rosto entre as tantas fotos disponíveis, tagarelas, oferecidas e presentes, eu queria o ausente, eu queria o distante. E ao encontrá-lo, mudo como sempre, fitava seus olhinhos de menino, e me perdia no urucum de sua tez morena, e imaginava o roçar suave de sua barba por fazer a eriçar meus pelos e arranhar minha pele; e imaginava seus beijos roubados outra vez. Tão efemeramente outra vez...
Me perdia olhando sua foto e quando finalmente resolvia escrever algo, já não havia sentido algum nas palavras, nem forças para pronunciá-las, quiçá para escrevê-las.
Bebera para ter coragem de dizer-lhe tudo, e ainda assim, tudo permanecia a me envenenar a alma e as palavras, entaladas na garganta.
E eu me recolhia ébria, triste e voluntariamente só. Ó triste sina essa de amar o impossível, o abstrato, o que se abstrai... Bebia para ter coragem, mas mesmo bêbada e lúcida, jamais a tive.
Por Cris Vaccarezza
16 de Julho de 2015 10:11


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Hoje é dia 23/06, na Bahia, espoucam fogos por todo o,vasto ceu. E eu estou so. sem a minhz amiga Ana. Obviane,enw

Combinado

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Vamos combinar assim? Eu não sou sua, você não é meu. Sem posses. Mas ficamos juntos sempre que pudermos ficar. Por que é bom ficar com você e você gosta de ficar comigo.  Não temos rótulos, nem compromissos. O único compromisso é se curtir, se fazer feliz.
Fica combinado que se puder, é sim! Se não puder é não! Não, e não talvez. Sem espaços para dúvidas. Eu vou, e vou mesmo. Não vou, busque outra ocupação. E vice versa. Sem mentiras, nem enrolação.
Acho essa uma alternativa sadia para dois adultos, não acha? Já estamos grandinhos pra brincar de esconde esconde. Não caberíamos na maioria dos subterfúgios onde as crianças cabem. E sempre alguém haveria de gritar: "Que bobo! Sai daí que eu tô te vendo!" Melhor fazer tudo às claras.
Também fica combinado certa freqüência para que saibamos quem e quando procurar. Algo em torno de a cada quinze dias. Eu venho, você vai. Nos encontramos em alguma praia ou fazenda. Qualquer lugar de aluguel que comporte um amor improvisado como o nosso.
Ligações, torpedos, e e-mails, nos intervalos, são permitidos e desejados, mas não são condição sine-qua-non. Não deixaremos de nos saber amados quando em silêncio.  A mesma regra de aplica a flores e bombons.
Fica combinado que entre nós só haverá carinho, risos, ternura, parceria e cumplicidade. Nada de cobranças ou ciúmes desnecessários. Seremos um do outro de vez em quando. E nesses momentos, nosso único objetivo, será fazer feliz.
Combinemos que fica permitido beijos ilimitados, mão na mão, olho no olho, corpos colados, silêncio compartilhado na hora de dormir. Ah e cafuné! Cafuné é bom demais! Assim como massagem tântrica, óleo aromático, luz de velas, shiatsu, lingeries, fantasias, e muita intimidade em nossas aventuras horizontais; ou eventualmente verticais. Mas a proteção é fundamental no nosso caso. Vamos proteger-nos mutuamente de futuros possíveis danos. Não queremos consequências, só fazer feliz. Tudo combinado, tudo consentido. De comum acordo.
Também é fundamental protegermos os outros. Por isso é necessário que estejamos solteiros para sermos leais. Ferir compromissos não está em nossos planos. Queremos amar, não criar ódios. Queremos alegria, jamais provocar dores, derramar lágrimas, nem nossas, nem de ninguém.
E assim, diante da fragilidade das relações ora estipuladas no mundo lá fora. Já que fidelidade é cada dia mais utópica, desejo de envolvimento se confunde com carência e amar é quase uma ofensa. Dentro das condições que o mercado nos impõe, que sejamos leais. E felizes!
Deve haver algum romantismo, oculto nessa nova forma de se relacionar. Sempre há. A gente é que talvez ainda não tenha descoberto qual é. Mas fica por fim combinado que descobriremos juntos. E se não tiver romantismo algum, faremos o nosso, conforme o combinado.
Por Cris Vaccarezza
Publicado originalmente em: 21 de mar de 2012 às 19:48

Conforme a música

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Na dança de salão, o cavlheiro convida a dançar. Cabe à dama aceitar ou não. Se aceito o convite, não importa qual a melodia, os corpos ziguzaguearão unidos pelo salão e ela será obrigatóriamente, conduzida por ele até o final da música. Então, poderá optar por continuar dançando, ou sentar-se e aguardar até que o próximo cavalheiro a convide. Via de regra, cada convite é uma oportunidade de sair da cadeira, e mover-se.
Na vida também pe assim. Ela nos conduz, como um cavalheiro na dança de salão. Nela, somos todos damas. E o salão é o cenário da sua própria existência, o cavalheiro é por vezes gentil e cortez, e por vezes hostil e violento, e uma vez aceito o convite da existência, cabe à dama, simplemente dançar conforme a música.
Dançae entregue aos mil rodopios da vida, sem enausera, Eis o desafio. E de cabeça errguida, de preferência, sorrindo, para que suas dores do calo que aperta o dedinho, ou seus tropeços, antes àquele passo novo, difícil e inusitado, não descore a felicidade dos que estão em torno de nós no salão. Não importa se a vida deu-lhe uma bicuda na canela, ou pisou impiedosamente na sua unha encravada, vai doer, mas sorria!
Afinal é uma festa. A vida é uma festa. E numa festa, ninguém está nem aí para os seus problemas. Eles simplesmente estão ali, observando. Aparentemente entretidos nas conversas paralelas e na harmonia com que dançam e sorriem os que dançam. Aparentemente felizes. Mas vão te criticar se tiverem que parar seu entretenimento para vê-la cair de cara no chão. Vão te criticar, impiedosamente e muitos rirão de você. Sem se incomodar se a vida, esse cavalheiro por vezes nada sutil, teve o cuidado de tratá-la bem ou não. Rirão pois sabem que todos ririam se estivessem em seu lugar, então impiedosos, antecipam o escárnio alheio.
Então trate de sorrir e valsar ou fox-trotear pelo salão. Seja um Bolero ou uma Rumba, trate de dançar! Mesmo que a orquestra esteja tocando o mais triste dos tangos de Gardel. Mesmo que a vida te convide a dançar a marcha fúnebre, comporte-se como se estivesse ouvindo uma salsa. E de preferência, para não correr o risco de desagradar, dance mambo, sem descer do salto ou esquecer o sorriso! Você até tem direito de chorar escondido. Mas de borrar a maquiagem? Jamais!

Academia de letras

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Certas horas em que tinha ganas de sair correndo até que gastasse as últimas calorias da gordice de mais cedo. Mas a vontade evaporava no ar, feito éter. Pensava em ir para a academia e ficar com o corpo da moda. Mas nem eram as dores do dia seguinte, nem o repetir incansável dos movimentos rotineiros. Era a certeza de que tem que ser todo dia. Todo dia, se não não dá certo. E as horas perdidas, loge de minhas reflexões? E as pulsões incontidas, que fazer com elas? E as ideias que brotam por livre vontade, toda vez que uma emoção transborda a linha do horizonte? Que fazer com elas no vai e vem dos pesos da academia?
Que fazer com a certeza do se não não dá certo. Com a vontade de deleitar-se na rede, com um capucino e um bom livro? Que fazer com o prazer do ócio criativo? Não era possível! Não nascera para musa, era por certo algum tipo de arquétipo caído do olimpo por mera decadência. Algum tipo de vênus às avessas, com seus peitos caídos e sua barriga flácida que caía sobre o cós da bermuda. A mesma bermuda que lhe deixava os movimentos livres para cuidar do que precisava cuidado, mas não lhe favorecia em nada a silhueta. Pelo contrário. Roubava-lhe impiedosamente a já castigada beleza de mortal arquetípica caída do olimpo por pura incompetência. Incompetência de ser bela! Ah, que unânime desafio, que terrível ferida narcísica para todas as mulheres. O sonho do ideal inatingível, a depressão frente ao espelho cruel e à dura realidade. Não era linda! Não era e não seria jamais! Gostasse dela quem quisesse, vendo-a assim em borralhos, com a cara pintada pelas manchas da idade, com os cabelos brancos pela rapidez do crescimento e repletos de pontas duplas pela raridade do cuidado.
Afinal foi por isso que desertara desse inatingível ideal de beleza. Desertara desde cedo. As belas tinham os brilhos labiais de moranguinho, tinham direito a depilar as pernas e sobrancelhas, ela, nada além das axilas. Era impossível, com as ferramentas que tinha à disposição e com sua pequena habilidade para o auto cuidado, concorrer à altura com as meninas belas de sua idade, que tinham o bônus dos salões de beleza como aliado dos cabelos lisos e sedosos. A ela restavam os bobs. Dormir de bob era um martírio. Mas valia o sacrifício para chegar menos amarfalhada à escola na segunda feira. Segunda feira ao menos, seria bonita. Ao menos menos feia. Ao menos na segunda feira! Mas parece que Deus frustrava seus desejos, e ao atravessar o enorme portão que protegia a casa da rua, eis que um vento, um sereno, uma gota d'agua qualquer, desfazia em instantes os cachos que a noite se encarregara de tecer, e o encanto se quebrava. Era de novo a lagarta, a vespa, a feia. O exato oposto da sereia que gostaria de ser. E pra completar seu tédio, justo naquele momento de aflição, o menino mais bonito resolveu olhar para ela. Olhou e sorriu. Mas não era para ela que sorria, era dela, isso sim. Isso era assim todo dia. E todo dia não dava certo. Passou a temer todo dia. e odiava rotinas.
Era por isso que certas horas, tinha ganas de sair correndo até que gastasse a última caloria da gordice de mais cedo, talvez essa fosse uma excelente terapia para seu ego. Mas sentava-se em frente ao computador e o tempo passava. Começava a ler e escrever e o sol corria de leste a Oeste no horizonte. E ela deixava apara a manhã seguinte.

Reforma política? Reforma tributária? Reforma íntima!!

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No que você está pensando? Instigava a página em branco do status da rede social. E o cursor piscando, meio que ansiava por uma resposta. Mas o que escrever diante da pátria desunida, diante de uma cada vez mais clara rachadura social? 
Absurdos digitados em caixa alta nos status por toda a rede. Ofensas, gritos de ordem, verdes distorcidas e conflitantes. Todos contra tudo e contra todos. Revolta geral. 
Estavam todos revoltados, ela inclusive. Agressivos, trocavam farpas e acusações entre si, como se fosse sua a culpa. Já tinha lido muitas ofensas de amigo contra amigo motivadas por essa sensação de "não dá mais!" Como julgar A ou B, se também fazia parte do coro dos descontentes? 
O que você está pensando? Atiçava a página. 
O que estava pensando era forte demais para ser dito assim, sem filtro. Era preciso buscar as palavras certas (ou as menos equivocadas) para tentar não melindrar ninguém e provocar um abalo ainda maior.
Diante da tela da tv, colorida cada vez mais por uma onda verde e amarelo, e da repercussão de alguns comentários posteriores a ela, não podia, não conseguia permanecer calada. 
Havia um descontentamento crescente em todos os cantos do país. Da casa mais humilde, cujas bolsas foram cortadas, foram cerceados os direitos trabalhistas garantidos em campanha, ou cujo benefício da luz elétrica ou da cinquentinha recém adquiridos passou a ter um custo tão maior que inviabilizava o uso do bem; até as varandas gourmets da zelites como diziam alguns, dos paneleiros profissionais que trabalham honestamente de segunda a sábado, geram emprego, pagam impostos, que não corrompem nem furtam e passaram a ser hostilizados por isso. 
De norte a sul do país, crescia o coro dos descontentes, era quase que uníssono o clamor por mudanças. Todos queriam mudar a situação, outros queriam mudar o governo, uns poucos equivocados, aceitavam até mudar o regime de governo, tamanho o desespero que o arrocho dos cintos promovia. 
O único senso comum, era de que precisava haver alguma mudança. O governo dizia que a mudança viria com os pacotes, a militância, que a mudança já estava aí, não conseguem ver? A zelites queriam menos impostos, mais oportunidades, menos corrupção, mais crescimento. Enquanto as gestantes, gemendo com as dores de um parto iminente na porta da maternidade lotada, queriam apenas mudança de status para mães. E as mães dos jovens assassinados pela violência, pelas drogas e suas conseqüências, queriam uma mudança na segurança, na justiça, queriam que seu filho morto mudasse... E o filho, com o corpo do pai nos braços, só queria que tivesse remédio no posto para salvar a vida do pai. Quem dera tivesse estudado um pouco mais... Sim, precisamos de mudanças.
A despeito da realidade clara, do sentimento maior de desamparo, de desgoverno. A despeito de o povo brasileiro, seja ele da zelite ou das bolsas, desenharem seu descontentamento pelas ruas em verde e amarelo, e de se darem as mãos sem bandeira de partido, sem máscaras, sem violência, munidos apenas das cores do seu país e de um sentimento de revolta, algumas pessoas seguem na contra mão, fomentando a discórdia em uma onda separatista que não reflete a realidade. Agora são brancos contra negros, agora são ricos contra pobres, agora são coxinhas contra enroladinhos, são esquerdistas contra direitistas, MAV contra revoltados, bolivarianos contra alienados, psdbistas contra petistas, azuis contra vermelhos, sulistas contra nordestinos... Num rotular sem medida que me lembra Maquiavel em sua filosofia de "dividir para dominar". Não somos rótulos!
Não! Somos uma nação. 
É um povo inteiro, que não aguenta mais permanecer calado. E de lado a lado reivindica seu direito a defender suas ideias, pacificamente. É um direito garantido pela democracia! Graças a Deus! Mas esse discurso batido já não nos convence mais. Precisamos de ação. A revolta chega a níveis elevados. Pessoas não dialogam mais, gritam suas verdades na cara umas das outras. "Eu penso assim, se você não concorda, é meu inimigo!" Faz parte do "outro lado". Precisa ser combatido. Não! Somos todos brasileiros, somos todos irmãos! Mais que isso, somos nós todos que pagamos a conta pesada dos impostos que vão desaparecer no buraco negro das cuecas alheias, sejam elas azuis ou vermelhas. Não é contra a ideologia do outro que temos que combater o bom combate. Não é contra a diferença de cor, de credo, de religião, ideologia ou classe social. Não, senhores ministros, deputados! Não, senhora presidentA! Não precisamos de reforma tributária que não reduz em nada a injustiça social, não precisamos de reforma política que não desfaça a ideia de que política é uma carreira curta e muito promissora; não precisamos de uma reforma educacional que não valorize os seres humanos nela envolvidos, e transforme crianças em números positivos para aumentar os índices estéreis de crescimento do país. Não precisamos de uma reforma da saúde que importe médicos de países vizinhos a preço de banana para prescrever medicação errada e solicitar exame que não existe. Nem de uma reforma agrária feita por vândalos que invadem um campo de pesquisa e devastam o que não lhes pertence. Não precisamos reformar mais nada além das nossas próprias consciências! 
Façamos uma avaliação apartidária, uma avaliação sincera do nosso próprio modo de agir. Cada um de nós, elites, minorias étnicas, maiorias políticas, autoridades, magistrados, legisladores, legislados, população, menos favorecidos, intelectuais, MAV, Mst, brasileiros, todos! Chega, né?
Não precisamos de mais blá, blá, bla! Nem de mais mimimi, não precisamos de pacote nada, de emenda coisa nenhuma, de reforma isso ou aquilo! Tudo o que precisamos é reforma íntima! 
Se o Brasil começou errado lá pelos degredados, golpistas e vulgívagas egressos de Portugal, se a corrupção está no sangue, se essa é a dura realidade, cabe a nós mudar. Mostrar que nem todo brasileiro é corrupto ou corruptível. Extinguir o jeitinho brasileiro. A começar por nós mesmos. 
Estamos com o foco errado. Não se trata mais do que o Brasil pode fazer por mim. Trata-se do que eu posso fazer pelo Brasil. Não os governantes, não os políticos, não o congresso. Esses já fazem por si. É o que cada um de nós pode fazer pelo próximo, e o próximo é o nosso país.
Não é hora de dividir, é hora de somar. Não é hora de agredir, é hora de abraçar. Somos diferentes, e daí? É um país de proporções continentais, mas somos um país! Sejamos honestos, gentis, generosos! Somos nação, somos gente! Vamos nos comportar melhor! Vamos fazer a nossa parte. 
Quem sabe de vergonha, convencemos alguém a mudar, quem sabe um dia a mudança chega às altas esferas, já que de lá pra cá não têm chegado muita coisa boa.
Façamos um pacto pela decência! Façamos um pacote de união. Façamos a nossa parte. Só é sonho se sonharmos sós. Só é utopia, se ninguém tentar!
Vamos! Mas vamos todos juntos. Sim, é nisso que estava pensando!
Por Cris Vaccarezza

Juramento de quem mesmo?

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Eu fico indignada com a situação da saúde nesse país. Procura-se uma vaga para atendimento, só no início do mês para marcar, entra-se em contato no primeiro dia do mês, só no dia 30. Não, eu não estou falando da fila do SUS (direito de todos, dever do Estado), estou falando do atendimento por convênio, que se oferece como um dos melhores, que credencia médicos e outros profissionais de saúde e os oferece como troféus em seus Guias médicos, e saem por aí, a captar milhões de associados que pagam para sair da inexorável e infindável fila do SUS. Fazem isso, em geral, com a promessa de atendimento de qualidade, vasta rede credenciada, a preços razoáveis. Bem, razoável é uma definição ampla. Mas pela saúde fazemos tudo não é? 
Então assinamos contrato, cumprimos carência, e quando vamos exigir o nosso direito, evasivas. Só há evasivas! Volte outro dia, marque na próxima semana, já tentou o médico tal? Isso, quando o tal médico que está registrado no convênio como especialista naquela área, efetivamente atende ao paciente. A primeira pergunta das atendentes é: Paciente novo? Não estamos mais atendendo a pacientes novos, ou não estamos mais atendendo para consulta. Apenas para cirurgia! Onde já se viu, cirurgia sem consulta prévia? No Brasil! No Brasil, de tudo há! Quando o médico efetivamente atende pelo convênio, vaga só para o meio do mês que vem! Mas tem que marcar, e conseguir marcar, bem, aí só no início do mês seguinte! Nada feito, não há vagas!!
Que país é esse? Eu me pergunto! Eu, que não participei de licitação fraudulenta, que não faço parte do "Petrolão", que não enfiei a mão no bolso de ninguém, e vivo do que produzo, que trabalho e cumpro horários e que quando atendo alguém, busco ter em mente que à minha frente, está um ser humano que sofre e necessita de atendimento, e não um punhado de dinheiro!! Eu me pergunto, até quando???
"Ora bolas, meu caro paciente, seu convênio paga pouco", disse o doutor! Concordo! Então não aceite ter o seu nome citado entre o rol dos que atendem, se você efetivamente não atende pela droga do convênio! Isso obrigaria a uma revisão na tabela, o credenciamento de novos profissionais que queiram ou precisem atender. Sim! Por que nesse país, tudo é muito mais na base da necessidade, do que da vontade. Faço porque preciso, e não porque quero ou porque gosto.
Já a sumidade do convênio, deveria ter a honestidade de não fazer propaganda enganosa, postergando indefinidamente a necessidade alheia, em busca de uma vaga fictícia. Iludindo com promessas de atendimento por médicos que efetivamente jamais atenderão ao usuário do convênio. A menos que este tenha a sorte ou a clarividência de adivinhar o dia coreto de marcação da consulta, ou vença uma verdadeira maratona para ser um dos primeiros a marcar. Desculpem, meus caros, não tenho o dom da clarividência, ou já teria previsto os números da Mega-Sena e ido morar em outro país que se respeite. Bem como não sou atleta, ou seria ao menos respeitada por meu talento. Sou uma brasileira. Mais um cidadão comum, que trabalha e paga impostos e que não quer ter nenhum direito a mais, além dos garantidos a qualquer outro brasileiro que pague as suas obrigações em dias, no caso, o boleto do convênio!
Mas há uma lógica perversa por trás desse processo, o objetivo subliminar de tudo isso, é que você se canse de mendigar os seus direitos, e faça a famosa pergunta à atendente: Minha filha, pra quando é que você tem vaga particular? Só um momento, senhora! Hum deixe ver, particular temos para amanhã, senhora!! Quanto é a consulta? Pode marcar! Vou fazer esse sacrifício em nome da saúde! Bom para o doutor, que diz que atende pelo convênio, mas nunca disponibiliza vaga ao usuário; bom para o convênio que não tem que pagar pelo atendimento, e ganha sem ter que gastar, e por aí vai... 
E é disso que o sistema do egoísmo se alimenta, da necessidade, do desespero, da urgência alheias. O objetivo é um só, ganhar, ganhar, ganhar... Que importa se o bebê sente dor? Que importa se a mulher vai parir na porta do hospital? Que importa se o idoso vai morrer na maca da ambulância sem os primeiros socorros? Que me importa? Importa o meu lucro! É por isso que trabalho. É só por isso! Porque não é a saúde da sua mãe!! Por que não é a saúde do seu filho!! Só por isso! 
Nada contra quem trabalha e ganha honestamente, mas tudo contra parecer o que não se é! Não atende? Não aceite novos associados. Só atende particular? Ótimo! Acho até um status: Dr. Fulano só atende particular! Parabéns! Estudou, se esforçou, é competente, mérito seu!! Mas deixe isso claro, inclusive para o convênio! Tire o seu nome da lista! Não faça o usuário de idiota!!
Digo e repito que certas coisas deveriam ser a base de outras tantas. Deveriam, mas não são. Em se tratando da medicina, essa ciência tão nobre, creio que a leitura do juramento de Hipócrates, deveria ser aplicada desde as cadeiras de Anatomia e Fisiologia, e não decorada às pressas, apenas pelo orador da turma na véspera da formatura. Medicina de grupo deveria ser exercida com responsabilidade. Medicina é sacerdócio! Medicina é ter e prover saúde ao corpo e paz para o espírito. 
Paz de espírito, pra que? Juramento de Hipócrates? Talvez devesse passar a ser chamado de Juramento de Hipócritas. Sem dinheiro, nada feito, sem convênio nada feito! Ih! Pior, com convênio também, nada feito! Filho? Pai? Mãe?! Adiem suas dores para o mês que vem! Atendimento que é bom, nada feito!! Indignada!!
Por Cris Vaccarezza

A falta de educação Moral e cívica que assola a nação!

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Me lembro ainda com saudades das minhas aulas de educação moral e cívica. Nelas, éramos convocados a conhecer os símbolos da pátria, cantar o hino nacional, o hino à bandeira, mas principalmente, aprendíamos o que era ética, moral, respeito, vícios, virtudes. Aprendíamos que professor era a autoridade na ausência de nossos pais, e merecia acima de tudo, o nosso repeito.

No meio da tarde, tinha um sorvete

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Estacionou o carro no lugar mais próximo. Mas não tão próximo que não precisasse caminhar um pequeno pedaço a pé. Assim teria tempo para refletir. 
Antes de descer, retocou o batom. Olhou pelo retrovisor e não gostou do que viu. Andava cansada, as olheiras estavam evidentes em seu rosto já meio sulcado pelos anos, decidiu passar um lápis na pálpebra inferior, tinha a impressão de que isso lhe dava um certo ar de mistério, marcava-lhe o olhar, embora às vezes carregasse um pouco além da conta, e tivesse a impressão de que assemelhava-se a um urso panda. Não tinha importância! Mas tinha pressa. Resolveu colocar também um pouco de delineador marrom na pálpebra superior, e esfumaçou-o de leve. Sentia-se mais lânguida assim, algo sensual, sem qualquer sombra de vulgaridade. Aquele olhar, lembrava-lhe bonequinha de luxo. E era assim que se sentia, um velho clássico em preto branco e incontáveis tons de cinza. 
Lembrou-se de que tinha hora, e que o tempo passava enquanto tentava atenuar as imperfeições frente ao espelho. Vamos lá! Apressou-se! É só um sorvete com um velho amigo! Você não vai se casar! Fechou o espelho, apagou a luz de cortesia e já ia descer do carro, quando passou a mão nos cabelos e decidiu ajeita-los. Abriu o porta luvas, vasculhou o banco de trás, meu reino por um pente, pensou. Não encontrou nenhum. Vamos lá!! É só um sorvete, gritava-lhe seu relógio biológico. Penteou os cabelos com os dedos e prendeu-os num coque alto. Ele adora quando prendo os cabelos, pensou. E corrigiu-se imediatamente. Que importa? 
Saiu do carro apressada, travou, subiu a rua num passo vacilante, passou pela frente do trabalho dele, mais adiante, na esquina, a sorveteria. Olhou pra dentro, ele ainda não estava lá. Entrou. Percorreu o ambiente com os olhos, viu algumas pessoas que não conhecia, nem de longe. Cumprimentou formalmente os presentes, descobriu uma mesa vazia, com dois lugares, queria um local para dois. Sentou-se de costas para o balcão e de frente para a rua, assim poderia vê-lo quando chegasse. E ele também a veria. Preocupação idiota! É só um amigo. Ainda assim, brincava nervosamente com as chaves do carro entre os polegares. E fitava a rua, ansiosamente.
Passados cinco minutos, não se sentia como alguém que aguarda um amigo, mas como uma adolescente que espera pelo primeiro namorado. Levantou-se, pediu uma água, sentindo a boca ressequida. Sentou-se novamente, serviu-se de um copo e tentou acalmar-se distraído o olhar pelo salão da sorveteria. A mesma sorveteria de décadas atrás, quando era adolescente. A mesma sorveteria que não tivera permissão para frequentar. Lembrou-se de quantas vezes passou na frente da loja com os olhos compridos nas tardes de sábado, ou nos matinais de domingo, quando aquilo fervia de jovens em busca de companhia. Todos os seus colegas estavam ali. Todos os jovens adolescentes da cidade reuniam-se naqueles bancos para paquerar e tomar sorvete. Todos, menos ela. 
Lembrava-se de que vários amigos conheceram-se naqueles bancos, e namoraram, noivaram e casaram. Quantos casais, alguns juntos até hoje, formaram-se nos sorvetes das tardes de fim de semana. Vários! Mas ela não tivera tardes de sábado, nem matinais de domingo, nem reunião com os amigos, nem namoricos começados nos bancos daquela sorveteria. 
De lá pra cá,  ela mudara muito. Tudo mudara muito. Tudo, menos a velha sorveteria de esquina. Tudo, menos o fato de ali ainda ser um local de encontro de jovens, ou velhos paqueras. Mas não ela! Ele era apenas um bom amigo, não podia esquecer!
Enfim, passados alguns minutos, viu-o chegar e cruzar a porta. Sorriu como sempre sorria quando a via. Sorriu o seu melhor sorriso de derreter sorvete em tarde quente. E seu coração aqueceu-se como raio de sol. Não, não era só um amigo! Ela amava-o afinal, ainda, e possivelmente para sempre. 
Por Cris Vaccarezza
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