Regresso

Todas as coisas estão mortas em torno de mim.
Todas as coisas estão mortas e sepultadas em seus devidos lugares. Há dias.
Nesse lar, habitam apenas coisas, aqui já não habita mais vida.
Todas as coisas repousam inertes, exatamente como as deixei.
E todas as portas, permanecem cerradas. Eu mesma as cerrei.
Precisei partir de repente. Cerrei os olhos e as malas, mudei os planos, calcei as sandálias, e parti há muito tempo atrás. E eu que um dia imaginei que não as pudesse deixar, percebi que não haveria mala que as pudesse levar. Não caberiam em meu novo pequeno mundo emprestado. Ficaram sem protestar.
Aqui, ficaram as coisas sepultadas, as roupas dobradas, o cheiro do guardado, e grande parte de mim, que já não reconheço.
Vejo, voltando agora, que boa parte das coisas pelas quais briguei, pelas quais lutei, pelas quais sofri, são apenas coisas, e não puderam me acompanhar na nova jornada.
Hoje percebo que muito do sentido que lhes dei, estava mais em mim, que nelas...
Hoje percebo que eu as animei, eu as amei, mas jamais fui amada por elas. São apenas coisas.
E não são Minhas, nada há de meu nelas. 
Todas as coisas que estão mortas em sua ordem fria e tradicional de casa fechada e arrumada, estão mortas por que nunca viveram além dos meus sonhos. Eu as vivi, como se importantes fossem.... Mas não são!
Eu estou viva, e posso mudar, e posso partir, e posso voltar. Elas não... Repousam caídas, inanimadas exatamente onde as deixei.
Por Cris Vaccarezza
25/02/2016

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