FLASH!!!

Quantas vezes prendemos a respiração diante de uma câmera em busca do melhor ângulo, que revelará o (aparentemente) mais bonito, numa expectativa sem tamanho pelo espoucar de um flash: FLASH!! E a seguir tudo se apaga... Somos fascinados por flashes.
No entanto, se não focarmos na luz instantânea do flash, mas no contexto, no entorno, perceberemos que ela não ilumina, apenas explode, criando um ambiente propício para o efeito mágico acontecer, cria   um dia repentino, e nos cega por alguns segundos.
A luz do flash é útil na fotografia, mas também é ilusória, passageira, como uma alegria efêmera. Dessas alegrias de farmácia, que se vendem em comprimidos, em bares, ou se trafica por aí. Como esses amores líquidos que escorrem entre os dedos, esses amigos que se vão na primeira esquina da vida. Úteis na fotografia apenas.
Flashes confundem, desorientam, e além de não te guiarem a lugar algum, de repente, evanescem, se perdem no ar, e você retorna ao seu antigo estado de erraticidade, sozinho num mar de breu. 
Fuja dos flashes encantadores. Fuja do provisório, do insustentável, do irreal. Fuja da estática da fotografia, busque a vida real. Busque o dia a dia. É lá que a verdade se revela. Fuja dos flashes. Eles são ilusórios. 
Nada de definitivo acontece por segundos ou em segundos. A verdade leva tempo para acontecer, se baseia no encantamento, mas também na compreensão.
Tudo o que é verdadeiro, fortalece a cada dia, fortalece com as imperfeições. Tudo o que é verdadeiro, pode até nascer com um sorriso, mas é nas lágrimas, nos tropeços, nas dificuldades, que cresce e se solidifica. Flashes são lindos, mas não duram. Tudo o que é verdadeiro não acontece simplesmente, se perpetua na rotina de todo dia, como o sol.
Há dias em que não há sol, há dias em que tudo é céu nublado e frio. Há dias em que perdemos a fé. Mas o sol, mesmo distante está presente, mesmo encoberto está ali, mesmo obscurecido temporariamente pelas nuvens, ainda é e sempre será o sol. Sua luz é quente e mais dia menos dia, o verão retorna e você sente que sempre esteve protegida, pois o sol sempre esteve ali.
Flashes não, sua luz fria, artificial, não serve nem para iluminar o caminho, serve apenas para iluminar um instantâneo, fazer uma pose pra foto. E o que é uma foto, se não o eternizar no breve instante de um segundo? Nada... Fotos são a mera ilusão dos olhos. É no movimento, que as coisas se revelam, é no dia a dia que elas se realizam... Ou não.
Busque o sol, cuidado com os flashes.  Um amor que se apaga diante do breu das dificuldades, que esfria com o movimentar das fotos, com o surgimento das imperfeições, com a percepção dos defeitos do outro. Uma amizade que não se fortalece na dor, uma fé que não te ajuda a superar os espinhos, uma vida que não valha a pena ser vivida e lembrada, uma história que não mereça ser contada, jamais terá sido sol para alguém, apenas flashes.
Sejamos luz, mas luz verdadeira. Sejamos sóis, não apenas flashes!
Por Cris Vaccarezza

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