O lobo e o lobo

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Ah, que agora abro a mala para desfazer as roupas usadas na viagem. No exercício de voltar à rotina dos dias, vou desdobrando uma por uma e eis que de repente, é teu cheiro amado me salta das peças que usamos. 
Me vem na cabeça a bagunça iminente da tua camisa abraçando a minha, e das outras coisas todas caídas brevemente pelo chão, na pressa ou na preguiça de alguns instantes de paz... Da tua paz, da paz que dás. Da paz daquele lugar...
Teu cheiro me invade o ar, entra pelas narinas direto ao coração, me toma o fôlego. E eu lembro que estiveste enroscado em meus braços, agarrado em minhas mãos. 
Meu corpo recorda a presença (máscula) do seu, minha boca já saliva de saudade do seu gosto.
Quase sinto suas mãos procurando o que querem, suas pernas enroscando meus pés. Seus pelos, meus pelos... Pelo amor de Deus, uma súplica de prazer... e meus cabelos emaranhando tudo, tudo entre nós dois.
Lembro sua barba roçando minha nuca, meu colo, seu rosto, seu queixo, seus olhos de mel repentinamente tomados pelo fogo do lobo (canis lupus) e seus lábios procurando o lobo (lóbulo) da minha orelha. 
Lembro sua voz sussurrando besteiras e arrepio... Tudo outra vez.
Para Cris Amarante, da sua Cris Vaccarezza
Uma pena que essa jamais possa ir pra página. Segredos de liquidificador ;-)

Sobre diamantes e seres humanos

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Sobre diamantes e seres humanos, temos ouvido muitas coisas. Sobre os primeiros, diz-se que seriam eternos. E o são, se comparados aos humanos, que duram sobre a terra um século, mais ou menos. Ainda assim, seres humanos são capazes, tanto de arriscar a própria vida curta, quanto de ceifar vidas alheias, pela sensação efêmera de ser o dono dessa eternidade material dos diamantes.
Ao contrário dos diamantes, extremamente raros e valiosos, costuma-se dizer que os seres humanos estão cada vez mais comuns e ordinários. Os diamantes pertencem ao reino mineral, inanimados, os seres humanos, ao animal. E diz-se ainda, que deveriam ser o topo da cadeia evolutiva, os líderes das demais espécies, embora pareça, que são os únicos de seu reino, a destruir o próprio habitat. Essas seriam apenas algumas das inúmeras diferenças entre diamantes e seres humanos. Mas e quanto às semelhanças?
Visto de forma mais ampla, não seríamos nós, os diamantes divinos?  Deus nos criou, assim como aos diamantes, simples e ignorantes, pedra bruta. Quando pensamos em um diamante, somos levados à imagem de uma pedra linda, lapidada, multifacetada, e extremamente brilhante. O diamante é um cristal que refrata a luz, separando-a nas cores do arco íris. Mas isso não é obra da natureza, é a arte da lapidação. Um diamante bruto, dificilmente seria diferenciado por leigos de uma pedra de quartzo qualquer. Ninguém espere topar por aí com um diamante lapidado, desses que vemos nas vitrines das joalherias. Ao contemplá-los, ficamos tão bestificados com seu brilho e beleza, que sequer nos damos conta de pensar em como ficaram daquela forma de brilhante. Como a pedra bruta tornou-se uma joia rara.
Um diamante é um cristal cuja composição química é idêntica à do grafite comum desses que colocamos nos lápis para escrever: carbono. A diferença entre os dois, é a forma geométrica que os átomos de carbono tomam entre si. A grosso modo, foi a pressão e a temperatura a que foram submetidos em sua formação que determina quem será grafite e quem será diamante. Enquanto o grafite ou grafita é um mineral superficial, diamantes são formados nas camadas mais profundas da terra, onde a temperatura e a pressão atmosférica são muito elevadas, e vem à tona através de erupções vulcânicas.
Para que adquira a forma de brilhante, capaz de decompor a luz branca nas cores do arco-íris, um diamante bruto precisa ser lapidado. Lapidação é o processo pelo qual uma gema é cortada, serrada é quebrada em seus pontos mais fracos, para que se formem as facetas que a revelarão um brilhante. Essa não é uma tarefa das mais fáceis, já que o diamante é o mineral mais duro encontrado na natureza. Seu nome vem do grego diamas, uma alteração de adamas, indomável. Diz-se que como o diamante era uma pedra que não podia ser cortada por nenhuma outra, os gregos diziam que era "indomável".
Eis o desafio, como cortar uma pedra indomável?! Se um diamante bruto não reluz, como transformá-lo num brilhante? Como trabalhá-lo? Como lapidá-lo, para que dele se extraia o melhor de seu valor?
Como descobriram os gregos, nenhuma outra pedra era capaz de cortá-la. Exceto outro diamante. Na natureza, apenas um diamante é capaz de cortar outro. São os chamados diamantes cortadores. Através de um processo conhecido como clivagem, uma fina ranhura é produzida a pancadas no diamante bruto, usando outro diamante em seus pontos fracos. No desbaste, outro diamante é esfregado ao primeiro, para com o atrito, dar um acabamento rudimentar à borda exterior da pedra. Por fim, no polimento, a pedra é colocada em uma roda giratória revestida com pó de diamante para alisá-lo.
E assim, durante todo o processo artesanal de lapidação da pedra, são usados outros diamantes para dela extrair seu máximo brilho. A pedra bruta é cortada, polida, facetada, até chegar ao brilhante. Nesse processo, muito se sua estrutura é perdida, as partes menos perfeitas da estrutura são desprezadas, o todo é clivado. Desde o seu processo de formação nas entranhas da terra, sob pressão e temperatura extremas, até o brilhante final, poder-se-ia dizer de forma figurada, que um diamante sofreu muito para extrair de dentro de si, a pedra preciosa.
Assim também são os seres humanos. Pedras brutas que somos, corações empedernidos que temos, amores engessados, perdões negados, almas embrutecidas, sentimentos endurecidos, vidas que nada vale para o próximo, mas de um valor inestimável para o Criador. Então, como extrair de nós, a luz dos sentimentos mais puros e elevados? Através da lapidação divina. Nós somos os diamantes de Deus. E para lapidar-nos, a vida usa exatamente outros diamantes como nós. Igualmente endurecidos e cortantes. Dessa maneira, fica mais fácil compreender quando alguém nos fere, nos diz palavras duras e ofensivas, quando alguém nos machuca, está na verdade evidenciando as impurezas e imperfeições que existem em nossa pedra bruta.
As vicissitudes da vida, nada mais são, que um processo de burilamento, de polimento da nossa alma, livrando-nos do orgulho, só egoísmo, do ódio, da raiva, do ressentimento. Tornando-nos pessoas mais tolerantes, pacíficas, altruístas e humildes. Afinal, somos tão falhos, que vistos de perto, de que temos que nos orgulhar? Erramos tanto com os outros, porque não aceitar que os outros também são passíveis de erro? Sentimos tanto as nossas dores, porque não ser compassivo com a dor do próximo? Como perceber que não somos joia rara, se não pararmos de apontar os erros dos outros e observarmos o nosso próprio grau de impureza e atraso? Não é fácil. Apenas outro diamante para cortar um diamante. Apenas outro ser humano, através das incontáveis relações que travamos na vida, para que nos aperfeiçoemos enquanto pessoas.
Não somos melhores que ninguém! Somos todos diamantes. Alguns em fase de polimento diferente. Uns mais brutos, outros mais límpidos, uns mais enfurecidos, outros mais puros, mas todos num processo que nos conduzirá à luz. Que nos permitamos chegar um dia, ao nosso brilho real.
Por Cris Vaccarezza

Quem disse que o amor precisa?

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Quem disse que o amor precisa de tempo? Ou que ele precisa tempo? Por mais impreciso que for?
Quantos casais que você conhece e estão juntos precisamente há anos, só por estar?
E quantos casais se conheceram e se reconheceram imprecisos e imprescindíveis, já na primeira troca de olhar?
Quem disse que amor precisa de tempo?
Amor precisa é de cumplicidade.
Amor precisa de querer a mesma coisa, de concordar com a escolha do outro, mesmo que para isso, precise ceder em alguns milímetros da própria convicção.
E se não houver convicção na escolha do outro, que haja cumplicidade suficiente para olhar nos olhos e explicas as suas razões. Cumplicidade para confiar no ponto de vista do outro.
Quem disse que o amor precisa de tempo?
Amor precisa de companheirismo. De mãos dadas. Mãos dadas de boa vontade, estendidas, emprestadas na necessidade do outro.
Mãos que se precisam dadas, que se desejam unidas que se sentem incompletas quando distantes umas das outras. Mãos que se queriam companheiras pelo tempo que vier.
Quem disse que o amor precisa de tempo?
Amor precisa de reciprocidade. De olhares que se cruzem e queiram ficar.
De olhares que não se interessem por nada além dos olhos da pessoa amada.
Olhos que se deem por querer, não que se esgueirem fortuitamente. Olhos que podem passear por aí, por ter a plena certeza de que por maiores que sejam os encantos outros tantos, maior é o bem querer que habita a lus dos olhos seus.
Quem disse que o amor precisa de tempo?
Ou de definição, ou de regras, ou de ordem? Quem disse que o amor conhece barreiras geográficas?
Quem disse que o amor conhece de física, se são metafisicas, as razões do amor?
Quem disse que o amor precisa de tempo? Tempo é relativo, já dizia o físico em sua poesia matemática. E deve ter pensado para consigo: Quem disse que o amor precisa de tempo?
O amor só precisa do tempo de se entregar, do tempo de um leve tocar de mãos, do tempo de aceitar, do tempo de amar, do tempo de ser do outro. Nada que relógios possam mensurar, ou ampulhetas limitar em suas frágeis paredes de vidro. Nenhum tempo que um minuto possa conter, ou que décadas de tédio possam estragar. Amor precisa do que transcende as horas e nem vê o tempo passar...
Amor precisa de entrega, de sintonia, de saudade, de lealdade;
Amor não precisa tempo. Amor não tem credo, cor ou idade.
Amor precisa é de vontade, de verdade, de mim e de você!
Por Cris Vaccarezza

Falta de Eventualidade (Uma certeza incerta)

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E se um dia você acordar com saudades de tudo o que foi?
Se algum dia, você se encontrar inexpelicavelemte querendo voltar
Voltar para todas as coisas que sabe racionalmente que não deram certo
Que provávelmnte jamais darão,
Mas que no peito resta uma pontinha de dúvida,
calada, súbita, incômoda, inconfessável...
uma pontinha de vontade de tentar outra vez?
Se em sua boca que hoje adoça com um outro mel,
no final de um beijo qualquer restar um travo de saudade
e se te der vontade de tentar outra vez?
Se você de repente tiver um desejo de reatar antigos laços?
De superar, reconstruir, reeerguer, tentar outra vez?
Você optaria por ir embora, dar a volta, arriscar, reviver?
Ou viveria nessa eterna dúvida amarga do ser ou não ser??
Eis a questão...
Se voltar poderia dar certo! Tantos laços...
Se superassem as mágoas, como uma fênix, renasceria mais forte.
Ou como a morte, seria um recomeço...
Se fcar, seria uma nova estrada, um caminho diferente, mas a saudade...
Ah, a saudade é traiçoeira. Tantos momentos vividos!
Será que ao revê-la, revendo-a quase todos os dias,
Essa brasa que ardeu um dia, não reavivará?
Será?
Será que o cheiro dos cabelos, um movimento qualquer,
um sorriso que esconde um mistério dos anos passados,
aviva a memória de um segredo vivido entre os dois...
E está feito! Cumplicidade, isso é árvore de raízes profundas!
É preciso que se tenha vivido muito no erro para ter a certeza da irrevogabilidade.
Pois uma vez escolhido outro destino, uma vez compradas novas passagens,
Outros passageiros embarcam no trem da sua vida.
Outros sonharam em chegar a um destino melhor.
E independente da incerteza à frente,
é preciso ter certeza da impossibilidade de voltar.
Impossibilidade não por "falta de eventualidade".
Por falta absoluta de vontade  mesmo...
O que mata as coisas, não é a incerta, mas a falta de vontade.
E assim, diante do silêncio estabelecido, no meio da madrugada, um lapso de dúvida me assalta:
Onde andará seu pensamento quando não está comigo. Em alguma saudade, talvez?
E eu te pergunto, diante desse teu olhar perdido...
E se um dia você acordar com saudades de tudo o que foi?
Você optaria por ir embora, dar a volta, arriscar, reviver?
Sim, porque se tiver que ir, eu entendo. Vai doer, mas vai passar...
Quero que sejas feliz, lembra?
E eu? Eu sobrevivo (acho). Só preciso saber antes de acontecer.
Antes que seja tarde demais pra voltar atrás...
Por Cris Vaccarezza
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